quarta-feira, 6 de novembro de 2013

“Correio Feminino”: Quadro do “Fantástico” não traduz a essência de Clarice Lispector ao explorar mais a performance das atrizes do que o conteúdo da obra da poetisa



Clarice Lispector que me perdoe, mas esse quadro “Correio Feminino” do “Fantástico”, há duas semanas no ar na Rede Globo, puxa para si a direção apurada de Luiz Fernando Carvalho, mas, simultaneamente, reduz o valor dessa poetisa ao mostrar sua obra de uma forma arrastada, chata, sonolenta, pouco poética. As cenas parecem mais uma cópia da abertura da série “As Brasileiras”, só que, no lugar da música, há uma narrativa inspirada nos seus textos.

Criado a partir das colunas escritas por Clarice para jornais da época, entre os anos 50 e 60, sob o pseudônimo de Helen Palmer, o quadro é escrito por Maria Camargo e Carla Madeira. A atriz Maria Fernanda Cândido é a narradora, enquanto Luiza Brunet, Alessandra Maestrini e Cintia Dicker dão vida a uma mesma mulher nas fases madura, jovem e adolescente.

O problema do quadro é a narrativa arrastada, privilegiando muito mais os closes nas atrizes em cena do que o conteúdo das crônicas. E aí, as imagens ficam repetitivas, parecendo muito mais ensaio de moda do que ensaio poético. E, para quem tem noção de tempo em televisão, um quadro de dez minutos é bem longo. Dez minutos do mesmo é tempo suficiente para se acionar o controle remoto e trocar de canal.

Clarice Lispector, que já povoa as redes sociais com frases que nem sempre são de sua autoria, merece um tratamento melhor na televisão. Sua obra merece um tratamento mais contido, menos comprometido. Mais poético.


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