Gilberto Braga tem motivos de sobra para
espreguiçar-se em sua cadeira e saborear o gostinho de ver uma novela sua, exibida
na TV aberta nos anos 80, alcançar uma audiência peculiar ao ser reprisada em
um canal por assinatura mais de três décadas depois. É o que está acontecendo
atualmente com “Água Viva”, desde setembro sendo reapresentada no Canal Viva,
que vem promovendo comentários do público tal qual ou até mais do que muitas
tramas inéditas atualmente no ar na Rede Globo.
“Eu estava assistindo e fiquei pensando na mudança
de valores. A personagem daquela época se achava muito chique, daí aparecia dirigindo
um Opala que, além de ter quatro portas, era bege. Bege!”, ouvi essa semana de
um jovem, que disse ter visto essa cena graças a sua mulher, que não
perde um capítulo da novela. “Não perco um capítulo. Estou viciada nessa novela”,
afirmou outra telespectadora, que nem era nascida quando a novela foi ao ar
pela primeira vez.
Como não ficar preso a uma abertura que tem imagens
de um Rio de Janeiro muito menos massacrado como o atual e ao som de Baby Consuelo
(que ainda não era do Brasil) cantando “Menino do Rio”? A direção precisa,
exigente e percebida não apenas na condução das cenas como um todo, mas na interpretação
individual de cada ator, feita por Roberto Talma e Paulo Ubiratan, também
faz toda a diferença no resultado final de cada capítulo.
É uma novela que teve na autoria a dose requintada
de Gilberto Braga unida à visão popular cotidiana de Manoel Carlos. Uma dupla
imbatível que se repetisse novamente a parceria não deixaria espaço para mais
ninguém. Sem falar no elenco que, só para citar os atores principais, trazia Raul
Cortez, Tônia Carrero, Glória Pires, Reginaldo Faria, Betty Faria, Beatriz Segall,
Lucélia Santos, José Lewgoy, Isabela Garcia, Kadu Moliterno e Natália do Vale,
entre outros. Veteranos que sempre trouxeram na veia o DNA da televisão e
novatos, naquela época, que já mostravam talento suficiente para estarem no rol
das crias criadas pela teledramaturgia.
Na trama principal está Miguel Fragonard (Raul Cortez),
casado com Lucy (Tetê Medina) e pai de Sandra (Gloria Pires),
é um cirurgião plástico de sucesso que condena o estilo de vida do irmão,
Nélson (Reginaldo Faria), que nunca trabalhou e vive de renda. Após perder a mulher na
explosão de uma lancha, o médico se apaixona por Lígia (Betty Faria),
sem saber de sua relação com Nélson. Paralelamente, tem o drama da órfã Maria
Helena (Isabela Garcia), que tem de lidar com a possibilidade de deixar o
orfanato onde passou grande parte da sua vida. Sua única amiga, a assistente
social Suely (Ângela Leal), descobre que ela é filha de Nélson. Ao saber disso,
Lígia decide adotar a menina.
E é a partir daí que rola tudo o que um noveleiro
gosta de ver: folhetim puro. É claro que os novos autores podem trazer estilo
próprio e renovador. Mas sempre respeitando a essência folhetinesca, porque os
tempos podem mudar, mas os noveleiros de carteirinha querem ver, sim, novela.
Não é série de ficção, não é filme de horror, não é programa de humor. É novela
bem feita, com história que mantém coerência com a proposta inicial apresentada
ao público, personagens bem delineados, caracterização autêntica e inovadora,
cenários de bom gosto, direção que salta aos olhos na identificação da
assinatura. Por que não basta ter tecnologia avançada se não tiver talento,
criatividade, competência e cuidado ao tratar do produto. Qualidades que ficam
claras em produtos antigos, em que a tecnologia era precária, mas o tesão dos
profissionais fazia milagres.
Mais canal Viva aqui:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2011/12/top-model-uma-reprise-ensolarada-bem_21.html