quarta-feira, 30 de maio de 2012

“GCB”: Série do Sony traz um delicioso deboche da sociedade que se autoproclama cristã, mas comete os maiores pecados


Para quem gosta de séries que usam o humor para fazer uma crítica sútilao excesso de moralismo e hipocrisia que se criam em muitas sociedades, “Good Christian Belles”, ou simplesmente “GCB”, que estreou nessa terça-feira (29) no canal Sony, é mais uma boa e despretensiosa pedida no gênero. É preciso, porém, estar aberto a não levar muito a sério estereótipos que envolvem fanatismo religioso. A falta de tolerância dos americanos para tiradas cômicas desse tipo foi responsável para que a série não tivesse ganhado uma segunda temporada nos Estados Unidos, onde já foram exibidos seus dez episódios pela ABC. Puro exagero.

Baseada na série de livros “Good Christian Bitches”, de autoria de Kim Gatlin, “GCB” conta a história de Amanda Vaughn (Leslie Bibb), uma aluna malvada do interior do Texas que, após se casar, foi embora com ele para a Califórnia e teve dois filhos. Só que, passado o tempo, seu marido, um golpista, morre quando seu carro cai em um precipício no momento em que ele perde a direção enquanto sua amante fazia sexo oral nele. Humilhada, Amanda resolve voltar para a casa da mãe em Dallas, sua cidade natal. O que a viúva não esperava é que lá encontrará as antigas companheiras de colégio que eram vítimas de suas maldades, agora cristãs fervorosas, rancorosas e sedentas por vingança.

A série tem ritmo, timing de comédia e um elenco afinado. Destaque para o trabalho de Annie Potts no papel de Gigi, a socialite espalhafatosa mãe de Amanda. A atriz, que já participou de “Law & Order: SVU” como a advogada Sophie Devere, agora aparece com visual bem menos sóbrio do que em seu personagem na outra série. Em “GCB” Annie está simplesmente impagável esbanjando um estilo de perua texana em um universo que mostra bem, através dos cenários e figurinos, um modo de vida característico de uma sociedade tradicional interiorana, com suas vaidades, falsidades e gostos duvidosos.

Leslie Bibb, conhecida dos serie maníacos por ter protagonizado “Popular”, exibida de 2009 a 2011, que misturava drama pesado e comédia non-sense, ainda mantém um ar de adolescente, o que não chega a prejudicá-la na hora de convencer de que Amanda é uma mulher madura e com garra para enfrentar suas antigas desafetas. Até porque, Annie tem sido uma boa escada para ela. Gigi se supera quando, ao saber que a filha evita beber há 18 meses, ela recomenda, irônica, com uma taça de vinho na mão: “Se precisar ir a uma reunião de alcóolatras não vá às da Igreja Batista. Cadeiras dobráveis! Cheesy Boldon disse que é melhor na episcopal. Estofadas e tem canapés!”. Quando dá um cheque-compras para Amanda, não titubeia em avisar que se a filha não aceitar ela usará para comprar um casaco novo. "Deus fala comigo por meio de Christian Dior",diverte-se Gigi.

Kristin Chenoweth, a vilã Carlene, é a antagonista que supera a protagonista em várias cenas. Ela é a que mais sofreu nas mãos de Amanda na infância e agora lidera o grupo da pseudo-boas-samaritanas que fingem viver sob os preceitos da Bíblia. As outras cristãs são Cricket (Miriam Shor), de quem Amanda roubou o namorado, com o qual se casou; Sharon (Jennifer Aspen), a aluna mais linda da escola na época que perdeu um concurso de Miss Teen de Dallas porque Amanda espalhou que ela não era mais virgem, e Heather (Marisol Nichols), que acredita na regeneração da viúva, apesar de ter sofrido na adolescência quando a outra espalhou que ela tinha herpes, mas é pressionada pelas outras a ajudar na vingança do grupo. Principalmente porque Amanda já chegou chamando a atenção dos maridos das quatro. Juntas, elas prometem protagonizar divertidas situações. E ninguém vai violar nenhum "mandamento divino" apenas por se divertir assistindo à série. Na dúvida, é só consultar o Google, como faz Carlene.