quarta-feira, 23 de maio de 2012

“Avenida Brasil”: Vera Holtz e José de Abreu conseguem despertar os mais diversos sentimentos no público interpretando com maestria os sofridos vilões vítimas do lixão


Vera Holtz e José de Abreu poderiam ter caído na tentação de deixar para atribuir à caracterização marcante de Lucinda e Lino a parte mais difícil na composição dos moradores do lixão que interpretam em  “Avenida Brasil”, na Globo. Mas esse tipo de saída fácil não caberia em profissionais com o quilate desses dois atores. Tanto Vera quanto Zé de Abreu estão fazendo um mergulho tão profundo na dura realidade de seus personagens que é impossível o público não ficar confuso com a mistura de sentimentos que eles provocam.

Como não amar Mãe Lucinda no começo da novela, vendo ela cuidar e defender as crianças do lixão? Como não odiar Lino, carrasco, bêbado e cruel com os pequenos catadores de lixo? Mas, como não sentir raiva de Mãe Lucinda vendo-a silenciar sobre o passado de Carminha (Adriana Esteves), mesmo que isso custe o sofrimento de Rita/Nina (Débora Falabella) e Batata/Jorginho (Cauã Reymond), mesmo dizendo amar os dois criados por ela no lixão? E como não sentir uma pontinha de pena de Lino ao vê-lo em uma cena ser agredido pelo próprio filho, Max (Marcelo Novaes) e, em outra, às lágrimas, dizer que não quer mais ser considerado o depósito do lixo do mundo?

No ar também na reprise de “Que Rei Sou Eu?”, de 1989, no canal Viva, em que interpreta Fanny, Vera já passou por várias produções de sucesso na Globo, como “Vamp”, “Fera Ferida”, “O Fim do Mundo”, “Por Amor”, “Mulheres Apaixonadas”  e foi  elogiada por suas atuações em “Três Irmãs”, como a antagonista Violeta, e dois anos depois em “Passione” como a honesta Candê. Já Zé de Abreu é craque em vilões, como o Eriberto de “Porto dos Milagres” e o trambiquero Milton de “Passione”, mas também convenceu como o sacerdote indiano Pandhit em “Caminho das Índias”.

Já em “Avenida Brasil”, as personagens dos dois atores, tanto Lucinda quanto Lino, personifica o que há de pior em um ser humano em vários aspectos.  Basta lembrar que ambos sempre tiveram em comum o fato de serem exploradores do trabalho escravo infantil.  Ela disfarçando a exploração com a peja de “Mãe”. Ele, escancarando a podridão e nunca merecendo ser chamado de “Pai” nem pelo próprio filho. E ambos cumprindo seus papeis com maestria, superando inclusive o fato de o lixão da ficção ser total e absolutamente surreal. Nada tem do lixão da vida real. Mas esse ponto já foi tratado aqui em outros posts.

O que vale destacar também é que João Emanuel Carneiro, autor da novela, mais uma vez mostra ser um mestre em pincelar com o bem e o mal a mesma tela, confundindo os telespectadores em seu jogo de cores. Já Vera e Zé de Abreu vêm comprovando que foram os modelos vivos perfeitos escolhidos para esse quadro.