quarta-feira, 23 de maio de 2012

“Carrossel”: Após 20 anos, SBT estreia versão própria da novela infantil mexicana, com cenários psicodélicos e tocando em temas como bullying entre crianças

Silvio Santos acertou ao trazer de volta a novelinha infantil “Carrossel”, produzida pela Televisa em 1989, desta vez em versão brasileira escrita por sua mulher, Íris Abravanel, que estreou na segunda-feira (21) no SBT.  A história, dublada, foi exibida pela emissora entre 1991 e 1992 e seu sucesso na época foi tamanho que não só elevou os índices de audiência do canal como ganhou capa até da revista “Veja” sob o título “A Virada do Dramalhão Mexicano”. A missão agora é repetir esse feito. Mantendo a mesma linha do original, a nova releitura tem chances de conquistar a garotada e atrair a atenção até dos que já conhecem a história. Afinal, duas décadas depois, quem não lembrou na hora ao ouvir o refrão “Embarque nesse carrossel, onde o mundo faz de conta, a Terra é quase o céu”, música tema da novela?
 
É claro que ninguém pode assistir esperando encontrar um clássico da dramaturgia. É preciso lembrar que se trata de um folhetim voltado ao universo infantil, cuja história se passa em um colégio, Mundial, onde uma dedicada professora, Helena, lida com as travessuras dos alunos, além de se envolver nos dramas pessoais e familiares das crianças. A professora, vivida por Gabriela Rivierono na trama da Televisa, aqui ganhou a interpretação de Rosanne Mulholland, que, não por acaso, tem o mesmo tipo físico da atriz mexicana. 

Em tempos em que as novas tecnologias cada vez mais vêm transformando a infância em um parque computadorizado, no qual a maioria das crianças trocou seus brinquedos antigos por jogos na internet, videogames e outras máquinas de diversão, “Carrossel” relembra brincadeiras ingênuas e criativas, como o susto que os alunos deram na professora de música ao colocar uma perereca dentro do piano. 

Os cenários em cores fortes e vibrantes dão um toque meio de universo HQ psicodélica. Até mesmo os uniformes, em tom verde-limão, garantiram a latinidade preservada no folhetim. Mas nem tudo é festa. Os conflitos que fazem parte da realidade de qualquer criança em qualquer época são mostrados e vão desde o estudante tímido que não consegue se enturmar, os encantos românticos ingênuos e platônicos até os casos de preconceito e agressões verbais e físicas, hoje chamados de bullying. Para tocar em tantos temas, há alunos de todas as raças e classes sociais. Está lá o gordinho, o magrinho, o rico, o pobre, o negro, o judeu, o descendente de japonês.

A abertura é uma espécie de “chamada escolar” em que cada aluno aparece com o nome do personagem. Poderiam ter colocado também os nomes dos atores, já que a maioria é desconhecida. A exceção é Maísa, menina prodígio que já aprontou muito como apresentadora na emissora, que agora estreia como atriz fazendo a boazinha, mas esperta, Valéria. E também a pequena Larissa Manoela, que já foi elogiada por sua atuação no filme "O Palhaço", dirigido por Selton Melo, e agora vem se destacando no papel da menina rica, metida e malvada Maria Joaquina. No geral, todos os atores-mirins estão mostrando muita desenvoltura, graças à capacidade de cada um e ao trabalho de direção Reynaldo Boury, que conta ainda em sua equipe com os diretores Luiz Antônio Piá, Roberto Menezes e Paulo Soares.

Uma falha no primeiro capítulo foi a professora Helena, recém-chegada na escola, ao ver uma aluna triste no pátio ir até ela e dizer seu nome, Regina. Como ela sabia como a menina se chamava se ainda nem a conhecia? Também poderiam atualizar algumas expressões que tornam o texto arcaico, como chamar o quadro-negro de “lousa”. Mas, são correções que podem ser feitas ao longo do ano letivo do folhetim, inicialmente previsto para ter 260 capítulos. É aguardar para ver as voltas que este novo “Carrosel” dará. A contar pelos dois primeiros capítulos, a novelinha promete, pois já deixou a emissora na vice-liderança da audiência.