O cenário é o Rio de
Janeiro, mas a luz não é solar. O enquadramento do Cristo Redentor não é feito
de forma a valorizar turisticamente a paisagem. E a justificativa para tal
clima pesado nas primeiras cenas de “Fora de Controle”, que estreou nessa
terça-feira (8), vem logo: o corpo de uma jovem é encontrado no mar. É o ponto
de partida da série policial protagonizada por Milhem Cortaz, o truculento
delegado Medeiros que já foi o corrupto capitão Fábio no filme “Tropa de
Elite”, ao lado da investigadora Clarice (Rafaela Mandelli), que, na nova série
da Record, já teve um caso com seu superior, e o inspetor Brandão (Claudio
Gabriel), responsável pelo leve toque de humor na história.
O projeto tem à frente o
escritor Marcílio Moraes, especialista em teledramaturgia policial e que foi
colaborador de Dias Gomes e Aguinaldo Silva em novelas da Globo como “Roque
Santeiro” (1985), e um dos autores principais em outros sucessos da emissora
como “Roda de Fogo” (1986), “Mandala” (1987), “Mico Preto” (1990), “Sonho Meu”
(1993), e o remake de “Irmãos Coragem” (1995). Na Record, foi responsável
por trabalhos muito bem realizados e com elenco de primeira linha como “Essas
Mulheres”, com Christine Fernandes e Gabriel Braga Nunes nos papéis principais,
e “Vidas Opostas”, um dos melhores trabalhos de Marcelo Serrado na emissora e
novela que está sendo reprisada.
O primeiro episódio conta
a história de uma garota encontrada morta no mar após ter saído de uma festa.
As investigações giram em torno dos jovens com quem ela já se relacionou e com
quem esteve antes da festa e o padrasto, o delegado Antônio, vivido por
Giuseppe Oristânio. A linguagem de cinema fica clara logo nas primeiras tomadas
de “Fora de Controle”. Mas, embora se trate de uma série policial, há pouca
ação, a narrativa é lenta e os diálogos arrastados, parecendo estar se propondo
a serem reflexivos demais.
Um ponto questionável:
pode a polícia pressionar uma menina de menor a dar declarações fora da
delegacia e longe de qualquer adulto responsável por ela como aconteceu com a
jovem colega de escola de Tamires, a vítima da série? Também faltou que o
roteiro instigasse mais o telespectador e criasse uma teia de aranha mais
difícil de se desvencilhar ao tentar supor quem era o criminoso. Logo na
primeira aparição de Antônio os aficionados por séries policiais já percebem
que ele era o assassino mais provável. Não deu outra.
O impacto ficou por conta
de o delegado Medeiros aconselhar Antônio, seu colega de profissão e assassino
da história, a fazer justiça com as próprias mãos, para não expor a classe à
vergonha de ter um criminoso no próprio meio. Uma solução que não faz daquele
que deveria ser herói da história menos crápula do que o que foi desmascarado
como o bandido.
Fazer comparações da
ficção com a vida real seria desnecessário. O que mais se aproximou a isso foi
uma frase da investigadora Clarice dita para seu superior Medeiros: “Se faro
fosse bom, cachorro ia ser delegado”.