quarta-feira, 9 de maio de 2012

“Fora de Controle”: Nova série da Record traz linguagem de cinema, mas falta um roteiro com elementos de suspense que justifique ser uma história policial



O cenário é o Rio de Janeiro, mas a luz não é solar. O enquadramento do Cristo Redentor não é feito de forma a valorizar turisticamente a paisagem. E a justificativa para tal clima pesado nas primeiras cenas de “Fora de Controle”, que estreou nessa terça-feira (8), vem logo: o corpo de uma jovem é encontrado no mar. É o ponto de partida da série policial protagonizada por Milhem Cortaz, o truculento delegado Medeiros que já foi o corrupto capitão Fábio no filme “Tropa de Elite”, ao lado da investigadora Clarice (Rafaela Mandelli), que, na nova série da Record, já teve um caso com seu superior, e o inspetor Brandão (Claudio Gabriel), responsável pelo leve toque de humor na história.

O projeto tem à frente o escritor Marcílio Moraes, especialista em teledramaturgia policial e que foi colaborador de Dias Gomes e Aguinaldo Silva em novelas da Globo como “Roque Santeiro” (1985), e um dos autores principais em outros sucessos da emissora como “Roda de Fogo” (1986), “Mandala” (1987), “Mico Preto” (1990), “Sonho Meu” (1993), e o remake de “Irmãos Coragem” (1995).  Na Record, foi responsável por trabalhos muito bem realizados e com elenco de primeira linha como “Essas Mulheres”, com Christine Fernandes e Gabriel Braga Nunes nos papéis principais, e “Vidas Opostas”, um dos melhores trabalhos de Marcelo Serrado na emissora e novela que está sendo reprisada.

O primeiro episódio conta a história de uma garota encontrada morta no mar após ter saído de uma festa. As investigações giram em torno dos jovens com quem ela já se relacionou e com quem esteve antes da festa e o padrasto, o delegado Antônio, vivido por Giuseppe Oristânio. A linguagem de cinema fica clara logo nas primeiras tomadas de “Fora de Controle”. Mas, embora se trate de uma série policial, há pouca ação, a narrativa é lenta e os diálogos arrastados, parecendo estar se propondo a serem reflexivos demais.

Um ponto questionável: pode a polícia pressionar uma menina de menor a dar declarações fora da delegacia e longe de qualquer adulto responsável por ela como aconteceu com a jovem colega de escola de Tamires, a vítima da série? Também faltou que o roteiro instigasse mais o telespectador e criasse uma teia de aranha mais difícil de se desvencilhar ao tentar supor quem era o criminoso. Logo na primeira aparição de Antônio os aficionados por séries policiais já percebem que ele era o assassino mais provável. Não deu outra.

O impacto ficou por conta de o delegado Medeiros aconselhar Antônio, seu colega de profissão e assassino da história, a fazer justiça com as próprias mãos, para não expor a classe à vergonha de ter um criminoso no próprio meio. Uma solução que não faz daquele que deveria ser herói da história menos crápula do que o que foi desmascarado como o bandido.

Fazer comparações da ficção com a vida real seria desnecessário. O que mais se aproximou a isso foi uma frase da investigadora Clarice dita para seu superior Medeiros: “Se faro fosse bom, cachorro ia ser delegado”.