A queda na audiência e a falta de repercussões mais
acaloradas na web sobre o “MasterChef Profissionais” podem estar sinalizando
que está faltando novos “tômperos” nessa segunda temporada do reality de
culinária da Band. Ou pode não ter sido uma boa ideia colocar no ar com um
espaço de tempo tão curto uma versão que muda apenas no nome, mas que traz
exatamente os mesmos ingredientes da anterior com amadores. Nas duas categorias,
os cozinheiros repetem os mesmos erros, as mesmas inseguranças e até alguns
perfis que beiram a interpretação de personagens roteirizados. Tanto que a
eliminação de Berta, semana passada, e a de William, nessa terça-feira (19),
não causaram maiores repercussões. Os dois episódios foram como pratos servidos
mornos, preparados com técnicas manjadas e sem sabor. Falta o toque
“masterchef” que realmente surpreendesse e agradasse o paladar do público, que
a cada “serviço” fica mais exigente.
O cardápio se repete. No segundo episódio, a Caixa
Misteriosa para se preparar um menu vegetariano até foi interessante, o desafio
de cortar um frango em partes perfeitas na Prova de Eliminação foi exatamente
igual a feita no “MasterChef Brasil” do ano passado, em que a chef argentina
deu uma aula para os cozinheiros amadores de como destrinchar a ave e até
mostrou exatamente o que é e onde está localizada a famosa “ostra”,
desconhecida da maioria dos profissionais. Aliás, outra cena da temporada
anterior se repetiu nessa: ao criticar o prato de Berta, a profissional eliminada
no primeiro episódio, Paola comparou seu frango a um “sapo amassado na estrada”
e imitou a pose do bicho morto. Exatamente como fez na competição entre
amadores ao dizer que o ouriço preparado por Mirian tinha “cara de barata
amassada”. A jurada gosta desse tipo de encenação, pois sabe que pode render
memes na internet e torná-la mais popular.
Nesse segundo episódio houve uma pequena mudança na
primeira Prova em Equipe, que foi os participantes não terem sido divididos em
dois grupos, até porque deveriam preparar mil pratos para 250 convidados de uma
festa de casamento. A vitória de Ravi foi justa, pois incontestavelmente seu
desempenho foi o melhor. Enquanto o veterano Francisco só tem pose de “papai sabe
tudo”, na prática só deu bola fora e foi o responsável pelo pior resultado.
Pablo não fica atrás, ficou claro que a demora no cozimento do peixe foi porque
ele não colocou no forno na hora que tinha sido sugerida por Monique mais de
uma vez. No entanto, como ele já trabalhou com Érick Jacquin e talvez para
agradar o chef francês, Mirna usou seu poder de líder para salvá-lo da prova de
eliminação. Quem acabou saindo por fazer o pior prato com frutos do mar,
inclusive com camarão sujo, foi William, apesar de todas as dicas que recebeu
do mezanino. Esse tipo de ajuda não deveria ser permitido, mas pelo que deu
para perceber pelas imagens, acontece livremente no momento em que os jurados,
Paola, Jacquin e Henrique Fogaça, não estão acompanhando in loco a gravação da
prova. O auxílio até foi citado de forma evasiva por Fogaça na hora da
avaliação do prato, dito em tom de quem ouviu falar, mas não testemunhou o
fato. A produção deve contar depois tudo o que rolou durante as provas para os
três chefs e a apresentadora Ana Paula Padrão fingirem que estavam na cozinha o
tempo todo.
Em relação aos participantes, contrapondo a pose de
Francisco, que faz lembrar a postura que beirava ao pedantismo de Ivo na
primeira temporada de profissionais, dessa vez o que começa a incomodar é a
humildade que beira a vitimização de Mirna. Está ficando chato a edição estar
dando destaque para o apelo da baiana para seus dramas familiares, como se o
critério principal da competição fosse a história pessoal e não os dotes
culinários. No primeiro episódio ela usou seu clipe para contar que era filha
de pais alcóolatras, o pai batia na mãe, a mãe batia nela, e mesmo assim ela dedica
sua vida a acarinhar as pessoas com massagens e através da cozinha. Aí no
segundo, após não se dar bem como chef de equipe, Mirna voltou a apelar para o
emocional para tentar justificar seu desempenho mediano: “Depois do dia da
perda da minha mãe, é mais um dia que estou tendo que conter a minha emoção
para segurar a onda de outras pessoas. Isso é desesperador”, afirmou ela. Repetir depoimentos dramáticos não tem a ver com a proposta da competição, portanto a
falha maior é da direção do programa que permite dar destaque a esse tipo de
desabafo na edição.
Da mesma forma está ficando forçado o personagem de
mineirinho caipira encarnado por Clécio. No começo foi até vista com bom humor
sua idolatria pelos jurados, em especial por Paola, mas virou uma bajulação repetitiva
e inconveniente. Perdeu a graça também porque deu para perceber que ele só carrega
no sotaque mineiro quando está diante de Paola, Érick e Fogaça ou nos
depoimentos gravados para serem inseridos na edição. Quando está conversando
informalmente com os demais concorrentes parece outra pessoa se expressando. Mas
ao que tudo indica por enquanto apenas Irina e Ravi se tocaram que Clécio não é
tão ingênuo e amiguinho de todos como tenta parecer. Pelo contrário, “ele é
estrategista”, como observou o gaúcho.
A falta da mesma
empolgação de antes manifestada pela audiência pode ser ainda por que ele sabe
que não adianta torcer por um ou outro concorrente durante a temporada. A opinião
e o voto do público só vão valer na final, quando restarem apenas os dois
cozinheiros que os jurados escolherem e que, certamente, deve corresponder aos interesses
dos realizadores do programa. E até nesse ponto não existe mais a expectativa
de antes, pois mal começou e os spoilers de quem são os dois finalistas já
estão sendo divulgados na internet.Mais "MasterChef Profissionais" em:
https://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2017/09/masterchef-profissionais-sem-inovar.html