Em tempos em que programas inéditos de qualidade estão cada vez mais raros, acompanhar desde o começo essa obra, uma adaptação da literatura brasileira, é sempre recomendável. Lilian interpretou Bibiana Cambará na meia-idade, papel vivido na juventude por Louise Cardoso e na velhice por Lélia Abramo. Costurada pelas lembranças de Bibiana, é contada a história da formação do Rio Grande do Sul, de 1777 a 1895, período de transformações e revoluções sociais, políticas e culturais, essenciais para a formação do estado. Enquanto a roca, a máquina de fiar, gira, Bibiana relembra sua avó Ana Terra (Glória Pires), casada com o herói Capitão Rodrigo (Tarcísio Meira), e os dramas de seu filho, Bolívar (Daniel Dantas).
Há cerca
de 27 anos atrás ainda surpreendia a mistura de expressões linguísticas e de
culturas que fugiam ao tradicional e iam de encontro à errônea ideia
de se “nivelar” a linguagem da TV apenas a sotaques cariocas e paulistanos.
Claro que alguns deslizes foram cometidos por alguns atores, que exageraram no
“Tchê” ao fim de cada frase e usavam “você” (pronome quase nunca usado no Sul
ainda hoje, imagina naquela época) no lugar do “tu”. Também pode causar
estranheza algumas expressões de origem espanhola que eram usadas pelos gaúchos
nas regiões fronteiriças, como “peleando”, que significa lutando, combatendo.
Mas nada que comprometa o entendimento do texto e das mensagens.
O ritmo
da narrativa é bem mais lento e a qualidade das imagens pode ser questionada por aqueles da geração já nascida vendo HDTV. Mas o olhar criativo de um diretor
não precisa de grandes tecnologias para abstrair belas cenas mesmo diante de
poucos recursos. Foi o que provou Paulo José ao explorar o inverno nas
sequências de batalhas, com muito gelo seco reproduzindo a aragem do inverno
úmido e frio e tendo como fundo o som cortante do vento Minuano. Sem falar na
trilha de Tom Jobim, cuja música de abertura é uma versão instrumental de
“Passarim”. E na nostalgia em rever grandes atores que já nos deixaram, como
Armando Bógus, Mário Lago, José Lewgoy, Renato Consorte, Gilberto Martinho,
Osvaldo Louzada, Lélia Abramo...
Nessa
quinta reprise é até redundante justificar qualquer recomendação. A obra de Érico Veríssimo, assim
como a de outros tantos autores renomados da nossa literatura, merece ser lida,
relida, vista, revista e, principalmente, transportada mais vezes para a
teledramaturgia.