quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

“Aquele Beijo”: Giovanna Antonelli é a nossa Meg Ryan em situações que só poderiam ser criadas por Miguel Falabella e Maria Carmen Barbosa


Giovanna Antonelli deu mais uma mostra no capítulo dessa quarta-feira (11) de “Aquele Beijo” de ter um talento muito especial para um tipo de comédia muito mais difícil do convencional: aquele que mistura sentimentos de dor, dúvida, sofrimento e humor. Mostrou isso na cena que poderia ser meramente pastelão em que Cláudia, sua personagem na novela das sete, ao ir jantar com um possível novo pretendente em um restaurante, é surpreendida pela chegada inesperada do ex-marido Rubinho (Victor Pecoraro), que literalmente enfia a cara do outro no prato de massa com molho diante de todos. Cláudia fica horrorizada com o escândalo, mas, naquele seu jeito desajeitado de ser, após os dois saírem do local ela simplesmente pede que o garçom tire o prato do acompanhante da mesa e segue comendo o seu prato. Displicentemente.

Angustiada, sim, mas não deixa que a vida pare naquele momento por causa de um incidente. Ao perceber que no mesmo restaurante está Vicente (Ricardo Pereira), acompanhado da mulher, Luciana (Grazzi Massafera), Cláudia, sozinha em sua mesa, não controla o choro. Porém, nem mesmo assim deixa de devorar o delicioso prato de macarrão que tem diante de si, em meio a garfadas misturadas a lágrimas. Foi mais uma das coincidências que envolvem Cláudia e Vicente desde o começo da novela. Giovanna parece ser a nossa Meg Ryan em situações que só poderiam ser criadas por Falabella e Maria Carmen Barbosa.

Esse jogo de gato e rato criado pelos dois autores envolvendo o par principal da trama não só dá a leveza pedida pelo horário como proporciona assistir a um folhetim no qual a espera do desfecho não é tão sofrível e angustiante. A paixão mal realizada entre os dois é compartilhada pelo público desde o primeiro capítulo, mas não há dúvida nem sofrimento na torcida, há um curtir junto cada encontro e desencontro, um dividir de olhares e intenções. E uma certeza de que vai dar certo sendo saboreada de forma como quem pede a entrada sem grande expectativa, mas sabendo que o prato principal não vai decepcionar.   

E olha que a novela fica meio ensanduichada entre outros dois folhetins totalmente diversos. “Fina Estampa”, que vem logo após o “JN”, que não nos oferece grandes opções de torcida por casais românticos de peso. Griselda (Lilia Cabral) e Renê (Dalton Vigh)? Por mais que haja troca-troca, a química não rola. Mas como esse não é o mote da trama, formar casal romântico parece ser o que menos interessa.

Já a ótima “A Vida da Gente”, de Lícia Manzo, exibida antes, é uma história riquíssima de temas e situações do cotidiano, mas está sofrível demais o triângulo amoroso e choroso vivido por Ana (Fernanda Vasconcellos), Manuela (Marjorie Estiano) e Rodrigo (Rafael Cardoso). Quando se começa a torcer por um casal, a trama faz uma reviravolta e troca para outro. No começo era instigante, agora a situação está ficando repetitiva. Aliás, até a pequena Júlia (Jesuela Moro) está ficando bem chatinha.

“Aquele Beijo” traz o diferencial de não mostrar heróis, todos são totalmente humanos, assumindo seus sentimentos, certos ou aparentemente errados, conforme a situação. E trata todo tipo de preconceito sem fazer disso uma bandeira. Os órfãos de um referencial perfeito para se guiar acharão a história normal demais. Sim, a vida pode ser normal de várias formas. E nem todos gostam de ver o normal mostrado de forma lúdica. Preferem o normal de forma nua e crua ou o normal mascarado...