Giovanna Antonelli deu mais uma mostra no capítulo
dessa quarta-feira (11) de “Aquele Beijo” de ter um talento muito especial para
um tipo de comédia muito mais difícil do convencional: aquele que mistura
sentimentos de dor, dúvida, sofrimento e humor. Mostrou isso na cena que
poderia ser meramente pastelão em que Cláudia, sua personagem na novela das
sete, ao ir jantar com um possível novo pretendente em um restaurante, é
surpreendida pela chegada inesperada do ex-marido Rubinho (Victor Pecoraro),
que literalmente enfia a cara do outro no prato de massa com molho diante de
todos. Cláudia fica horrorizada com o escândalo, mas, naquele seu jeito
desajeitado de ser, após os dois saírem do local ela simplesmente pede que o
garçom tire o prato do acompanhante da mesa e segue comendo o seu prato.
Displicentemente.
Angustiada, sim, mas não deixa que a vida pare
naquele momento por causa de um incidente. Ao perceber que no mesmo restaurante
está Vicente (Ricardo Pereira), acompanhado da mulher, Luciana (Grazzi
Massafera), Cláudia, sozinha em sua mesa, não controla o choro. Porém, nem
mesmo assim deixa de devorar o delicioso prato de macarrão que tem diante de
si, em meio a garfadas misturadas a lágrimas. Foi mais uma das coincidências
que envolvem Cláudia e Vicente desde o começo da novela. Giovanna parece ser a
nossa Meg Ryan em situações que só poderiam ser criadas por Falabella e Maria
Carmen Barbosa.
Esse jogo de gato e rato criado pelos dois autores
envolvendo o par principal da trama não só dá a leveza pedida pelo horário como
proporciona assistir a um folhetim no qual a espera do desfecho não é tão
sofrível e angustiante. A paixão mal realizada entre os dois é compartilhada
pelo público desde o primeiro capítulo, mas não há dúvida nem sofrimento na
torcida, há um curtir junto cada encontro e desencontro, um dividir de olhares
e intenções. E uma certeza de que vai dar certo sendo saboreada de forma como
quem pede a entrada sem grande expectativa, mas sabendo que o prato principal
não vai decepcionar.
E olha que a novela fica meio ensanduichada entre
outros dois folhetins totalmente diversos. “Fina Estampa”, que vem logo após o
“JN”, que não nos oferece grandes opções de torcida por casais românticos de
peso. Griselda (Lilia Cabral) e Renê (Dalton Vigh)? Por mais que haja
troca-troca, a química não rola. Mas como esse não é o mote da trama, formar
casal romântico parece ser o que menos interessa.
Já a ótima “A Vida da Gente”, de Lícia Manzo,
exibida antes, é uma história riquíssima de temas e situações do cotidiano, mas
está sofrível demais o triângulo amoroso e choroso vivido por Ana (Fernanda
Vasconcellos), Manuela (Marjorie Estiano) e Rodrigo (Rafael Cardoso). Quando se
começa a torcer por um casal, a trama faz uma reviravolta e troca para outro.
No começo era instigante, agora a situação está ficando repetitiva. Aliás, até
a pequena Júlia (Jesuela Moro) está ficando bem chatinha.
“Aquele Beijo” traz o diferencial de não mostrar
heróis, todos são totalmente humanos, assumindo seus sentimentos, certos ou
aparentemente errados, conforme a situação. E trata todo tipo de preconceito
sem fazer disso uma bandeira. Os órfãos de um referencial perfeito para se
guiar acharão a história normal demais. Sim, a vida pode ser normal de várias
formas. E nem todos gostam de ver o normal mostrado de forma lúdica. Preferem o
normal de forma nua e crua ou o normal mascarado...
O comentário sobre a estreia está aqui:"Aquele
Beijo": Miguel Falabella dá um toque de Gloria Magadan que não faz mal a
ninguém