Elis Regina, uma das cantoras mais importantes da história da música brasileira, merece bem mais das emissoras de TV do que registros em telejornais (isso naqueles que ainda lembraram ou deram importância ao fato) ou uma ou outra homenagem inserida em alguns (poucos) programas nessa quinta-feira, 19 de janeiro, data que marca os 30 anos de sua morte. Não são três anos, são três décadas sem uma artista que pertenceu a uma geração de grandes nomes e que foi, inclusive, responsável por lançar compositores como Milton Nascimento, João Bosco, Aldir Blanc e Renato Teixeira. Que outra cantora de seu nível surgiu depois dela? Seu espaço no palco, onde ela ria, chorava, gritava e murmurava, e fazia a todos transbordarem juntos de emoção, não foi mais ocupado.
A história de Elis tem todos os elementos
dramatúrgicos necessários para ser contada não só na TV como também no cinema.
Temperamental, franca e impulsiva, ela não fazia média com o público nem com os
críticos, o que acabava gerando muitas polêmicas. E em plena ditadura, não
deixava de se posicionar politicamente. Nenhuma outra cantora superava sua
primazia pela técnica e qualidade musical de seus discos. Mas, assim como Dalva
de Oliveira só veio ter sua vida retratada na televisão mais de 35 anos após
sua morte, através da minissérie “Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor”, da
Globo, talvez tenhamos que esperar por apenas alguns outros anos mais para ver
uma emissora dedicar um projeto de teledramaturgia à altura da importância da
obra deixada por Elis Regina, a Pimentinha, como foi apelidada por Vinicius de
Moraes, por causa de seu temperamento forte.
Ao menos na TV Brasil, o “Musicograma” se empenhou
em apresentar um especial inédito no mês de sua partida, chamado “Elis Vive” e
feito em cima de compilações de imagens de arquivo disponível na emissora.
O vasto material foi dividido em duas partes, exibidas
nos dois sábados passados, dias 7 e 14. A primeira relembrou apresentações
históricas da cantora, como a que aconteceu no Montreaux Jazz Festival, na
Suíça, em 1979. Mostrou ela interpretando clássicos como “Águas de Março” e
“Upa Neguinho” e exibiu entrevistas antigas. E é sempre um prazer rever o jeito
franco, direto e sincero com que Elis se abria ao falar sobre as dificuldades
que enfrentou no início da carreira, ao criticar a indústria fonográfica e até
ao afirmar que filhos de artistas têm mais facilidade para entrar na carreira
musical.
A segunda parte de “Elis Vive” teve exclusivas da
TVE do show “Saudade do Brasil” que ela fez no Rio de Janeiro, no Canecão, em
1980. No repertório estavam “Redescobrir”, “Aquarela do Brasil”, “O Primeiro
Jornal” e “Sabiá”, entre outras. Em entrevista no camarim, a cantora, gaúcha de
Porto Alegre, contou histórias de quando chegou ao Rio, em março de 1964, e da
ajuda que teve de Paulo Gracindo, que conseguiu para ela um contrato na TV Rio,
onde participou de vários programas. Lembrou ainda, entre outros momentos de
sua carreira, que conheceu Edu Lobo cantando no Beco das Garrafas, foi
convidada para defender “Arrastão” no 1º Festival de Música Popular e a partir
daí sua carreira deslanchou.
Já o canal Viva, da TV por assinatura, reprisa nesse
sábado (21) o “Som Brasil: Tributo a Elis Regina”, exibido pela TV Globo em
1997, para celebrar os 15 anos de seu falecimento. No palco, intérpretes
femininas relembraram alguns de seus maiores sucessos como “Maria Maria” e “O
Bêbado e o Equilibrista”. Entre elas estavam Alcione, Nana Caymmi, Ângela Maria
e Leila Pinheiro. Os filhos, João Marcelo Bôscoli, de seu casamento com Ronaldo
Bôscoli, e Pedro Camargo Mariano, de sua relação com César Camargo Mariano,
cantaram algumas das músicas da mãe. Maria Rita, também filha de Elis com
César, só viria se lançar como cantora quatro anos depois.
Fora da televisão, no entanto, deverá acontecer uma
série de homenagens para marcar três décadas sem Elis ao longo deste ano. Em
março, Maria Rita inicia uma turnê do show “Viva Elis”, em que interpretará
pela primeira vez músicas do repertório de sua mãe. E seu outro filho, João
Marcello Bôscoli está organizando uma exposição multimídia, que também se chama
“Viva Elis” e será lançada em São Paulo em abril. A mostra contará a trajetória
da cantora através de vídeos com depoimentos, trechos de shows e entrevistas,
além de músicas, fotografias e documentos.
Para quem ainda não conhece, ou quer relembrar, a
história de Elis, vale a leitura de sua biografia no Wikipedia: Elis_Regina