quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Elis Regina: Três décadas sem a maior cantora do país e sem uma homenagem à altura da importância de sua obra


Elis Regina, uma das cantoras mais importantes da história da música brasileira, merece bem mais das emissoras de TV do que registros em telejornais (isso naqueles que ainda lembraram ou deram importância ao fato) ou uma ou outra homenagem inserida em alguns (poucos) programas nessa quinta-feira, 19 de janeiro, data que marca os 30 anos de sua morte. Não são três anos, são três décadas sem uma artista que pertenceu a uma geração de grandes nomes e que foi, inclusive, responsável por lançar compositores como Milton Nascimento, João Bosco, Aldir Blanc e Renato Teixeira. Que outra cantora de seu nível surgiu depois dela? Seu espaço no palco, onde ela ria, chorava, gritava e murmurava, e fazia a todos transbordarem juntos de emoção, não foi mais ocupado.

A história de Elis tem todos os elementos dramatúrgicos necessários para ser contada não só na TV como também no cinema. Temperamental, franca e impulsiva, ela não fazia média com o público nem com os críticos, o que acabava gerando muitas polêmicas. E em plena ditadura, não deixava de se posicionar politicamente. Nenhuma outra cantora superava sua primazia pela técnica e qualidade musical de seus discos. Mas, assim como Dalva de Oliveira só veio ter sua vida retratada na televisão mais de 35 anos após sua morte, através da minissérie “Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor”, da Globo, talvez tenhamos que esperar por apenas alguns outros anos mais para ver uma emissora dedicar um projeto de teledramaturgia à altura da importância da obra deixada por Elis Regina, a Pimentinha, como foi apelidada por Vinicius de Moraes, por causa de seu temperamento forte.

Ao menos na TV Brasil, o “Musicograma” se empenhou em apresentar um especial inédito no mês de sua partida, chamado “Elis Vive” e feito em cima de compilações de imagens de arquivo disponível na emissora.
O vasto material foi dividido em duas partes, exibidas nos dois sábados passados, dias 7 e 14. A primeira relembrou apresentações históricas da cantora, como a que aconteceu no Montreaux Jazz Festival, na Suíça, em 1979. Mostrou ela interpretando clássicos como “Águas de Março” e “Upa Neguinho” e exibiu entrevistas antigas. E é sempre um prazer rever o jeito franco, direto e sincero com que Elis se abria ao falar sobre as dificuldades que enfrentou no início da carreira, ao criticar a indústria fonográfica e até ao afirmar que filhos de artistas têm mais facilidade para entrar na carreira musical.  

A segunda parte de “Elis Vive” teve exclusivas da TVE do show “Saudade do Brasil” que ela fez no Rio de Janeiro, no Canecão, em 1980. No repertório estavam “Redescobrir”, “Aquarela do Brasil”, “O Primeiro Jornal” e “Sabiá”, entre outras. Em entrevista no camarim, a cantora, gaúcha de Porto Alegre, contou histórias de quando chegou ao Rio, em março de 1964, e da ajuda que teve de Paulo Gracindo, que conseguiu para ela um contrato na TV Rio, onde participou de vários programas. Lembrou ainda, entre outros momentos de sua carreira, que conheceu Edu Lobo cantando no Beco das Garrafas, foi convidada para defender “Arrastão” no 1º Festival de Música Popular e a partir daí sua carreira deslanchou.

Já o canal Viva, da TV por assinatura, reprisa nesse sábado (21) o “Som Brasil: Tributo a Elis Regina”, exibido pela TV Globo em 1997, para celebrar os 15 anos de seu falecimento. No palco, intérpretes femininas relembraram alguns de seus maiores sucessos como “Maria Maria” e “O Bêbado e o Equilibrista”. Entre elas estavam Alcione, Nana Caymmi, Ângela Maria e Leila Pinheiro. Os filhos, João Marcelo Bôscoli, de seu casamento com Ronaldo Bôscoli, e Pedro Camargo Mariano, de sua relação com César Camargo Mariano, cantaram algumas das músicas da mãe. Maria Rita, também filha de Elis com César, só viria se lançar como cantora quatro anos depois.

Fora da televisão, no entanto, deverá acontecer uma série de homenagens para marcar três décadas sem Elis ao longo deste ano. Em março, Maria Rita inicia uma turnê do show “Viva Elis”, em que interpretará pela primeira vez músicas do repertório de sua mãe. E seu outro filho, João Marcello Bôscoli está organizando uma exposição multimídia, que também se chama “Viva Elis” e será lançada em São Paulo em abril. A mostra contará a trajetória da cantora através de vídeos com depoimentos, trechos de shows e entrevistas, além de músicas, fotografias e documentos.

Para quem ainda não conhece, ou quer relembrar, a história de Elis, vale a leitura de sua biografia no Wikipedia: Elis_Regina