Em tempos em que reações na web contam mais do que pontos
no ibope, pode-se dizer que “Vade Retro” atingiu sua meta através da
participação ativa de internautas comentando as atuações de Tony Ramos e Mônica
Iozzi, protagonistas da série da Rede Globo que estreou nessa quinta-feira (20).
Como se trata de uma comédia, com uma vaga pretensão de suspense, tanto o
veterano ator quanto a repórter-apresentadora-atriz pareciam estar bem à
vontade em seus papéis. Tony encarna o misterioso empresário Abel-Zebu, que vê
na ingênua advogada Celeste, interpretada por Mônica, a profissional ideal para
ajudá-lo em seu divórcio e sirva como “laranja” no esquema de lavagem de
dinheiro de uma mafiosa organização chefiada por ele. A dupla estava afiada,
mas o destaque mesmo fica por conta do texto ágil e sarcasticamente inteligente,
marca registrada dos autores Alexandre Machado e Fernanda Young, e da inspirada
direção artística de Mauro Mendonça Filho. Iluminação, fotografia e efeitos
especiais criaram toda a atmosfera satânica sugerida pelo título, sem perder o
tom do deboche e das críticas bem-humoradas que ficam nas entrelinhas.
O primeiro bloco trouxe logo uma
ironia que pode servir de carapuça a muitas celebridades instantâneas que estão
surgindo no mundo das ideias: é a cena que mostra Abel proferindo uma palestra
sobre Medo, bem ao estilo do que se vê muito atualmente com professores,
sociólogos, filósofos e outros tantos pensadores que engordam suas contas bancárias
nesses “bate-papos informais”. Na plateia, entre os incautos que pagam para estar
ali acreditando piamente que estão se “atualizando para enfrentar o mundo
profissional e pessoal”, está Davi (Juliano Cazarré), o namorado de Celeste,
que ao ir cumprimentar o palestrante faz propaganda dos serviços da advogada e conta
que na infância ela foi beijada pelo Papa João Paulo Segundo. É o “sinal” que
Abel precisava para encontrar sua “cobaia”. Tanto que ele encerra o episódio
dizendo para seus comparsas que encontrou a laranja perfeita, “E foi beijada
pelo Papa”, ironiza.
Era de se esperar que Tony
Ramos dominasse a história, já que seu tempo para comédia tem sido muito mais
atraente do que qualquer trabalho mais recente fazendo drama. A sequência em
que Abel entra no carro com Celeste, põe pra tocar o Cd do Sepultura e vibra
com o som heavy metal, redime o ator de todos os “É Friboi?” que já tenha dito.
Os autores também o presentearam com diálogos ácidos que só valorizam sua
atuação, como quando Abel fala para Celeste, após ter provocado um apagão: “Esse
é o segredo do meu sucesso: o impulso do ser humano em pecar”.
Do elenco mostrado na estreia, Luciana Paes chamou a atenção como Kika,
secretária de Celeste, e Cecília Homem de Mello promete ainda causar muito como
Leda, a senhorinha religiosa e bem safada, mãe da advogada. Maria Luísa
Mendonça voltou à cena em grande estilo como Lucy Ferguson, a mulher de Abel
que apresenta comportamento desequilibrado e visual gótico que lhe cai muito
bem. Aliás, o último trabalho da atriz foi como Dora, a dona do bordel de “Amorteamo”,
série da Globo exibida há dois anos que também explorava fantasia, terror, drama
e comédia. Juliano Cazarré ainda não teve chance de mostrar algo que surpreenda,
pode ser que o personagem cresça nos próximos capítulos. E Mônica Iozzi conseguiu
dar conta do recado por ser comédia, mas continua sendo muito ela mesma, repetindo
a mesma linha engraçada que gostava de fazer na bancada do “Vídeo Show” ou como
repórter do “CQC”, na Band. Falta imprimir um diferencial que dê uma identidade
própria a Celeste.
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