sexta-feira, 21 de abril de 2017

“Vade Retro”: Tony Ramos domina cena e faz escada para Mônica Iozzi em série cujo maior destaque é o texto ágil e inteligente


Em tempos em que reações na web contam mais do que pontos no ibope, pode-se dizer que “Vade Retro” atingiu sua meta através da participação ativa de internautas comentando as atuações de Tony Ramos e Mônica Iozzi, protagonistas da série da Rede Globo que estreou nessa quinta-feira (20). Como se trata de uma comédia, com uma vaga pretensão de suspense, tanto o veterano ator quanto a repórter-apresentadora-atriz pareciam estar bem à vontade em seus papéis. Tony encarna o misterioso empresário Abel-Zebu, que vê na ingênua advogada Celeste, interpretada por Mônica, a profissional ideal para ajudá-lo em seu divórcio e sirva como “laranja” no esquema de lavagem de dinheiro de uma mafiosa organização chefiada por ele. A dupla estava afiada, mas o destaque mesmo fica por conta do texto ágil e sarcasticamente inteligente, marca registrada dos autores Alexandre Machado e Fernanda Young, e da inspirada direção artística de Mauro Mendonça Filho. Iluminação, fotografia e efeitos especiais criaram toda a atmosfera satânica sugerida pelo título, sem perder o tom do deboche e das críticas bem-humoradas que ficam nas entrelinhas.

O primeiro bloco trouxe logo uma ironia que pode servir de carapuça a muitas celebridades instantâneas que estão surgindo no mundo das ideias: é a cena que mostra Abel proferindo uma palestra sobre Medo, bem ao estilo do que se vê muito atualmente com professores, sociólogos, filósofos e outros tantos pensadores que engordam suas contas bancárias nesses “bate-papos informais”. Na plateia, entre os incautos que pagam para estar ali acreditando piamente que estão se “atualizando para enfrentar o mundo profissional e pessoal”, está Davi (Juliano Cazarré), o namorado de Celeste, que ao ir cumprimentar o palestrante faz propaganda dos serviços da advogada e conta que na infância ela foi beijada pelo Papa João Paulo Segundo. É o “sinal” que Abel precisava para encontrar sua “cobaia”. Tanto que ele encerra o episódio dizendo para seus comparsas que encontrou a laranja perfeita, “E foi beijada pelo Papa”, ironiza.

Era de se esperar que Tony Ramos dominasse a história, já que seu tempo para comédia tem sido muito mais atraente do que qualquer trabalho mais recente fazendo drama. A sequência em que Abel entra no carro com Celeste, põe pra tocar o Cd do Sepultura e vibra com o som heavy metal, redime o ator de todos os “É Friboi?” que já tenha dito. Os autores também o presentearam com diálogos ácidos que só valorizam sua atuação, como quando Abel fala para Celeste, após ter provocado um apagão: “Esse é o segredo do meu sucesso: o impulso do ser humano em pecar”.

Do elenco mostrado na estreia, Luciana Paes chamou a atenção como Kika, secretária de Celeste, e Cecília Homem de Mello promete ainda causar muito como Leda, a senhorinha religiosa e bem safada, mãe da advogada. Maria Luísa Mendonça voltou à cena em grande estilo como Lucy Ferguson, a mulher de Abel que apresenta comportamento desequilibrado e visual gótico que lhe cai muito bem. Aliás, o último trabalho da atriz foi como Dora, a dona do bordel de “Amorteamo”, série da Globo exibida há dois anos que também explorava fantasia, terror, drama e comédia. Juliano Cazarré ainda não teve chance de mostrar algo que surpreenda, pode ser que o personagem cresça nos próximos capítulos. E Mônica Iozzi conseguiu dar conta do recado por ser comédia, mas continua sendo muito ela mesma, repetindo a mesma linha engraçada que gostava de fazer na bancada do “Vídeo Show” ou como repórter do “CQC”, na Band. Falta imprimir um diferencial que dê uma identidade própria a Celeste.


Mais sobre Tony Ramos em: