quarta-feira, 5 de abril de 2017

“Big Brother Brasil”: No Paredão entre médico e advogado indigenista, edição destaca ninfeta e vence o mau exemplo


A permanência de Marcos no “Big Brother Brasil” ao enfrentar Ilmar no paredão nessa terça-feira (4), na Rede Globo, só reafirmou o quanto uma edição e uma direção planejadas podem conduzir o resultado de um jogo. Em dois dias o programa conseguiu reverter e inverter as situações e a opinião pública. Após a formação do Paredão no domingo (2), as enquetes nos sites e redes sociais apontavam a eliminação de Ilmar com uma diferença de mais de 30% dos votos durante todo o dia seguinte. Já depois do programa ao vivo na noite de segunda-feira (3), em que foi mostrado e debatido o surto que Marcos assediou moralmente Marinalva e Ieda, além de ter exposto o filho adolescente de Ilmar, a diferença entre os dois emparedados reduziu rapidamente, chegando a quase um empate técnico. Coube à edição ser ágil e inverter o jogo mais uma vez, caprichando no apelo emocional destacando imagens nas quais Marcos aparecia meditando no gramado e tentando pedir desculpas a todos. Não mostrou, no entanto, que ao voltar para o quarto do Líder, ele ria e voltava a falar mal de todos. Para amenizar ainda mais a barra do cirurgião, predominavam imagens em que Emilly sempre aparecia como a responsável pelas atitudes inflamadas do namorado. Para garantir a nova inversão do jogo, o apresentador Tiago Leifert também alertou aos internautas de que a votação seria encerrada em quatro minutos e que era preciso correr para salvar seu favorito.

Muitas perguntas ficaram no ar. Será que Emilly teria sobrevivido a quatro Paredões se a edição reduzida do “Big Brother Brasil” que é exibido na Rede Globo à noite tivesse mostrado a verdadeira Emilly que é vista por quem acompanha o programa 24 horas no Pay-Per-View? Por que na edição feita nessa terça-feira foi exibida mais uma vez a briga em que Ilmar chamou Emilly de verme (enquanto Marcos presenciava ao lado sem defender a namorada), mas não foi também reprisada a cena em que o cirurgião esbravejou e meteu o dedo na cara de Marinalva e de Ieda, deixando acuadas uma paratleta e uma senhora de 70 anos? E por que essa mesma edição colocou panos quentes sobre a falta de escrúpulos de Marcos ao expor publicamente o fato de Ilmar ter atrasado a pensão do filho? Pelo contrário, a edição fez questão de não mostrar na conversa de Marcos com Marinalva a parte em que a paratleta afirmou para o cirurgião ter tido que enfrentar seus próprios medos quando ele foi encará-la. Também omitiu a conversa de Ieda com Marcos em que ela desabafou o quanto ficou magoada por ele ter sido desrespeitoso com seus filhos e netos ao insinuar no ar que ela tinha deitado no colo do Mamão, quando na verdade ela estava com a pressão alta, e o advogado foi ajudá-la. É sabido que o tempo em televisão vale ouro, mas como tiveram tempo de mostrar Marinalva, na mesma conversa, só falando sobre Emilly para o Marcos? E por que, na parte da Ieda, só mostraram ela dizendo que preferia falar outro dia, se houve, sim, a conversa à tarde?

Na verdade, foi tudo mais um jogo de cena para tentar justificar o injustificável. Assim como soou infantil o apresentador ter dito que os responsáveis pelos resultados eram grupos formados por “fanáticos” ou por jovens da “geração milênio”. Como formadores de opinião, os responsáveis pelo programa deveriam ficar preocupados com o tipo de conteúdo que estão levando ao ar, já que estão conscientes do tipo de telespectador que estão atingindo. Preocupados apenas com audiência, estão transformando vilões em personagens adoráveis através da edição de imagens. Como fazem isso? Selecionando apenas as cenas em que a bruxa má está mascarada de princesa e aquelas em que o herói destemperado e desrespeitoso está nos seus momentos zen budista. Esquecem que não estão dirigindo atores profissionais interpretando personagens em uma novela, estão lidando com pessoas comuns que não estão vivendo uma ficção, estão em um jogo real disputando R$ 1,5 milhão que pode mudar suas vidas. E que estão sendo vistas por pessoas também comuns dos mais diversos níveis social, intelectual, cultural. 

Há os que consigam ver nesse tipo de reality show uma espécie de espelho que reflete o comportamento humano diante das mais diversas situações em um confinamento, e a partir daí fazer uma leitura sociológica. E há os que assistem apenas por curiosidade ou como passatempo. Só que até como entretenimento é preciso lembrar sempre a boa e necessária função social que a televisão deve exercer com responsabilidade em sua programação. Algo que, infelizmente, vem sendo esquecido em prol do Tudo Por Audiência. Talvez por isso mesmo há os que nunca assistiram e nem pretendem assistir.



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