quarta-feira, 19 de abril de 2017

“Pesadelo Na Cozinha”: Jacquin equilibra emoção e austeridade, mas programa peca pela dramatização ensaiada das situações


Érick Jacquin pode não ter a feição austera de um Gordon Ramsay, mas o chef francês conseguiu equilibrar de forma simples e natural seu jeito emotivo e bem humorado à frente do “Pesadelo na Cozinha”, baseado no formato do britânico “Ramsay’s Kitchen Nightmares”. A versão brasileira feita pela Band do programa que visa socorrer restaurantes em dificuldades e beirando a falência chega ao fim de sua primeira temporada nessa quinta-feira (20), e Jacquin vai “fechar a conta”, mas ainda não poderá dizer que “passou a régua”. Nos 12 dos 13 episódios em que estabelecimentos foram visitados e socorridos, o cardápio de dúvidas que ficaram no ar para os telespectadores é sortido.

Só de entrada a pergunta que fica é: afinal, por que a maioria dos sócios-proprietários pede ajuda e quando Jacquin chega todos se comportam como se eles estivessem fazendo um favor ao programa e não o contrário? De prato principal, a dose mais forte fica por conta da indignação de ver tanta sujeira e alimentos deteriorados encontrados em cozinhas que funcionam há anos sem que nenhum tipo de serviço de vigilância sanitária tenha sido acionado. Um dos quesitos primordiais para alguém se candidatar a ser premiado com a reforma é ter um mínimo de higiene em seu restaurante. Teve episódio em que havia baratas mortas espalhadas na cozinha e mesmo quando Jacquin voltou no dia seguinte, após ter mandado que o ambiente fosse limpo, o inseto continuava lá, à vista. O chef apenas reclamou mais uma vez e deu continuidade ao roteiro de mudanças no local. E a sobremesa deixa muito a desejar, pois na maioria das vezes o desfecho acontece abruptamente, de uma cena de caos na cozinha passa para outra às mil maravilhas, com todos recebendo elogios. Talvez a edição tenha entornado o caldo em função do tempo que tem no ar, mas se não dá para mostrar tudo em uma noite, divida o caso em dois episódios. Ou o chef quis se livrar logo do problema em questão.

É claro que não é preciso visitar a despensa do programa para perceber que grande parte das situações são armadas. Um restaurante que esteja à beira da falência não tem a quantidade de clientes que aparecem tanto para almoçar quanto para jantar, ficando praticamente todas as mesas ocupadas. O merchandising escancarado em alguns dos restaurantes também evidencia que não é apenas a visão de Jacquin que pesa na decisão final. É preciso honrar o contrato com a marca. E a insubordinação dos funcionários, geralmente posando para as câmeras, é exagerada e pouco convincente. No episódio exibido na última quinta-feira (13), no meio do caos do atendimento aos clientes, os patrões gargalhavam junto com a equipe na cozinha. Fica no ar ainda se a reforma é realmente tão necessária ou se a busca é mais por publicidade. Quando La Cabaña foi o restaurante da vez, por exemplo, entre os comentários dos internautas que são mostrados na tela quando o programa é exibido, estava o de Rodrigo Scarpa, o Vesgo do “Pânico na Band”, dizendo que é frequentador assíduo e que “agora vai ficar melhor”. Então não estava tão ruim assim, certo? E por que a ajuda se concentra apenas na capital paulista? De todos os mostrados, apenas um restaurante é do Rio de Janeiro.

Enfim, espera-se que, a exemplo do que o “Ramsay’s Kitchen Nightmares” fez, o “Pesadelo Na Cozinha” também ganhe uma temporada especial em que Érick Jacquin retorne aos mesmos estabelecimentos que ajudou a socorrer e mostre como os proprietários e suas equipes estão se saindo sem a presença do chef francês e das câmeras de televisão.


Masi competição culinária em:

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