Érick Jacquin pode não ter a feição austera de um
Gordon Ramsay, mas o chef francês conseguiu equilibrar de forma simples e
natural seu jeito emotivo e bem humorado à frente do “Pesadelo na Cozinha”,
baseado no formato do britânico “Ramsay’s Kitchen Nightmares”. A versão
brasileira feita pela Band do programa que visa socorrer restaurantes em
dificuldades e beirando a falência chega ao fim de sua primeira temporada nessa
quinta-feira (20), e Jacquin vai “fechar a conta”, mas ainda não poderá dizer
que “passou a régua”. Nos 12 dos 13 episódios em que estabelecimentos foram
visitados e socorridos, o cardápio de dúvidas que ficaram no ar para os
telespectadores é sortido.
Só de entrada a pergunta que fica é: afinal, por que
a maioria dos sócios-proprietários pede ajuda e quando Jacquin chega todos se
comportam como se eles estivessem fazendo um favor ao programa e não o
contrário? De prato principal, a dose mais forte fica por conta da indignação
de ver tanta sujeira e alimentos deteriorados encontrados em cozinhas que
funcionam há anos sem que nenhum tipo de serviço de vigilância sanitária tenha
sido acionado. Um dos quesitos primordiais para alguém se candidatar a ser
premiado com a reforma é ter um mínimo de higiene em seu restaurante. Teve
episódio em que havia baratas mortas espalhadas na cozinha e mesmo quando
Jacquin voltou no dia seguinte, após ter mandado que o ambiente fosse limpo, o
inseto continuava lá, à vista. O chef apenas reclamou mais uma vez e deu
continuidade ao roteiro de mudanças no local. E a sobremesa deixa muito a
desejar, pois na maioria das vezes o desfecho acontece abruptamente, de uma
cena de caos na cozinha passa para outra às mil maravilhas, com todos recebendo
elogios. Talvez a edição tenha entornado o caldo em função do tempo que tem no
ar, mas se não dá para mostrar tudo em uma noite, divida o caso em dois
episódios. Ou o chef quis se livrar logo do problema em questão.
É claro que não é preciso visitar a despensa do
programa para perceber que grande parte das situações são armadas. Um
restaurante que esteja à beira da falência não tem a quantidade de clientes que
aparecem tanto para almoçar quanto para jantar, ficando praticamente todas as
mesas ocupadas. O merchandising escancarado em alguns dos restaurantes também
evidencia que não é apenas a visão de Jacquin que pesa na decisão final. É
preciso honrar o contrato com a marca. E a insubordinação dos funcionários,
geralmente posando para as câmeras, é exagerada e pouco convincente. No
episódio exibido na última quinta-feira (13), no meio do caos do atendimento
aos clientes, os patrões gargalhavam junto com a equipe na cozinha. Fica no ar
ainda se a reforma é realmente tão necessária ou se a busca é mais por
publicidade. Quando La Cabaña foi o restaurante da vez, por exemplo, entre os
comentários dos internautas que são mostrados na tela quando o programa é
exibido, estava o de Rodrigo Scarpa, o Vesgo do “Pânico na Band”, dizendo que é
frequentador assíduo e que “agora vai ficar melhor”. Então não estava tão ruim
assim, certo? E por que a ajuda se concentra apenas na capital paulista? De
todos os mostrados, apenas um restaurante é do Rio de Janeiro.
Enfim, espera-se que, a exemplo do que o “Ramsay’s Kitchen Nightmares” fez, o “Pesadelo Na Cozinha” também ganhe uma temporada especial em que Érick Jacquin retorne aos mesmos estabelecimentos que ajudou a socorrer e mostre como os proprietários e suas equipes estão se saindo sem a presença do chef francês e das câmeras de televisão.
Masi competição culinária em:
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