Marília Pêra brilhou absoluta na estreia de “Pé na Cova”, na quinta-feira (24), na Rede Globo, interpretando Darlene, a maquiadora de defuntos no seriado idealizado por Miguel Falabella, que também assina o texto final. A atriz simplesmente dominou todo o primeiro episódio, sobressaindo-se até a Falabella, que ainda interpreta o protagonista, Ruço, seu ex marido e dono de uma funerária. A personagem da atriz, que acaba de chegar de uma temporada de um ano em uma clínica para recuperação de alcoólatras, tem o melhor texto de todo o elenco, está sempre com um copo de gim em uma mão e um cigarro apagado na outra e a característica mais marcante de falar errado, trocando a letra r pela letra l, como quando diz “crínica”, “prantada”, “pobrema”. Mas a graça para por aí.
Não, “Pé na Cova” não é uma comédia escrachada para
fazer o telespectador gargalhar em casa. Diria que é um seriado de uma ironia
sutil, contida e que tenta colocar uma lente de aumento debochada ao descrever cenas
do cotidiano, como quando Adenoide (Sabrina Korgut), a empregada da família de
Ruço, ao ir embora da casa abre a sua sacola de plástico para mostrar para os
patrões que está levando só o que é dela.
A história tem como cenário principal a FUI,
Funerária Unidos do Irajá, estabelecimento que Ruço herdou do pai. Darlene é a
ex-mulher, maquiadora de defuntos, que vai se confrontar com a atual namorada
dele, Abigail, interpretada por Lorena Comparato, ex-apresentadora do “TV
Globinho”. Tem ainda os filhos do ex-casal: Alessanderson, o sem noção que quer
virar político, vivido por Daniel Torres, e Odete Roitman, a
stripper que “presta serviço” via internet, feita por Luma Costa.
Tirando Miguel e Marília, a maioria dos outros nomes
do elenco é pouco conhecida do grande público. Nada que prejudique, já que os
atores estão muito bem em seus papéis. Inclusive há certa morbidez nas
personagens de Juscelino, o faz-tudo da funerária interpretado por Alexandre
Zacchia, e de Bá, aquela que “não está mais entre nós”, vivida por Niana
Machado. Aliás, a atriz esteve presente ano passado na novela “Aquele Beijo”,
também de Falabella, fazendo uma das costureiras da confecção Shunel, de
Felizardo (Diogo Vilela), cuja fala constante era “Eu já morri”. É sempre
gratificante ver autores e diretores dando oportunidades de novos trabalhos a artistas veteranos
sem qualquer evidência na mídia.
De volta à história, esses “tipos estranhos” têm
tudo a ver com a fonte inspiradora que Falabella teve para escrever esse
projeto, que foi o musical “A Família Addams”, que ele assistiu em Nova York.
Felizmente, apesar de a história girar em torno de um tema deprimente que é a morte, ela (a morte) não é o assunto principal. Senão, além de não provocar
gargalhadas, acabaria incitando à depressão.
Mais sobre "Aquele Beijo", novela de Miguel Falabella citada aqui:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2012/02/aquele-beijo-luis-salem-um-ator-com.html
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2012/02/aquele-beijo-luis-salem-um-ator-com.html