Em uma semana no ar, “Pega Pega”, nova novela das
sete da Rede Globo, conseguiu criar no telespectador aquela expectativa que
deve haver em todo folhetim sobre o que acontecerá no próximo capítulo. O ritmo
ágil, tanto nas ações quanto nos diálogos, não ficou reduzido apenas à estreia
na terça-feira (6), estendendo-se nos dias seguintes. Na espinha dorsal da
sinopse de Claudia Souto, estreando como autora, está o roubo de 40 milhões de
dólares, valor pago por Eric Ribeiro (Mateus Solano) a Pedrinho Guimarães
(Marcos Caruso) na compra do luxuoso hotel Carioca Palace. As demais tramas se
desenrolam a partir da investigação policial do furto, que acontece durante o
baile de aniversário da neta de Pedrinho, Luiza (Camila Queiroz). Encabeçando a
operação criminosa, que remete ao filme “Onze Homens e Um Segredo”, está o
concierge Malagueta (Marcelo Serrado), o garçom Júlio (Thiago Martins), o
recepcionista Agnaldo (João Baldesserini) e a camareira Sandra Helena (Nanda
Costa). Sem poder gastar o dinheiro para não levantar suspeitas, os quatro
continuam trabalhando no Carioca Palace, torcendo para que o hotel decrete
falência e todos sejam demitidos.
À primeira vista, talvez pelo humor rápido e
requintado, a novela traz uma vaga lembrança dos estilos de Silvio de Abreu e
de Gilberto Braga. O equilíbrio na mistura do núcleo rico com o pobre, com
personagens medianos de ambos os lados, não deixa a trama cair em um menos é
mais às avessas. E a ponte entre os dois universos está justamente no quarteto
de ladrões de primeira viagem, em uma interpretação impecável de Marcelo Serrado,
João Baldisserini, Thiago Martins e Nanda Costa. Está perfeita a sintonia do
tempo cênico dos atores, cada um dando a dose certa de humor tanto nas
sequências de ação quanto nas de drama. Marcos Caruso é, sem dúvida, o maior
protagonista da história encarnando um milionário falido com uma maestria
impecável. Uma proeza própria do veterano, que igualmente surpreende como Seu
Perú na “Escolinha do Professor Raimundo – Nova Geração”. Embora convincente
como Eric, Mateus Solano precisa cuidar para não repetir trejeitos do
igualmente milionário que fez em “Amor à Vida”, como aconteceu na “corridinha” que
Eric deu no capítulo de sexta-feira, que remeteu no ato aos seus tempos de
Félix na novela de Walcyr Carrasco, exibida em 2013. Já Camila Queiroz enfrenta
seu primeiro desafio de interpretar uma jovem comum, sem o erotismo da Angel,
que marcou sua estreia em “Verdades Secretas”, e sem a composição de apelo
popular da Mafalda, a caipirinha de “Êta Mundo Bom”. Conquistar o público como
a mocinha boazinha, sem se tornar a boba e chata da vez, pode ser bem mais
difícil do que atrair paixões fazendo a vilã.
Correndo atrás de destaque nas tramas paralelas está
Vanessa Giácomo, que mostra ter feito um bom laboratório no treinamento para
viver a investigadora Antônia, mas precisa aparar arestas na dramatização para
não ficar over. Afinal, ela não está em um episódio da série “CSI”. O mesmo serve
para Mariana Santos que, apesar de estar indo bem como Maria Pia, a assessora pessoal
apaixonada por Eric, está balançando em uma linha muito tênue entre o humor e o
drama. A atriz não pode se esquecer de que agora está em uma novela e não em um
humorístico como o “Zorra” ou participando da bancada de jurados do “Amor e
Sexo”.
Por outro lado, os jovens Valentina Herszage e
Jaffar Bambirra estão mostrando uma segurança e uma naturalidade em cena que só
exalta seus trabalhos como estreantes. Ela, no papel de Bebeth, a filha de Eric
que tem surtos psicóticos decorrentes de um trauma de infância desencadeado no
acidente de carro em que sua mãe morreu; e ele, como Márcio, o manipulador de
marionetes de uma família circense. Tanto Valentina quanto Jaffar mostram uma
imagem forte no vídeo, independentemente dos efeitos de computação gráfica que
animam o canguru, um boneco do mundo teatral de Marcio, um amigo ilusório na
mente de Bebeth.
O desafio a partir de agora é não deixar que, após toda a movimentação em torno do assalto, a história caia na mesmice de uma investigação que se estende por meses até o fim da novela. Se quiser manter o bom ritmo de sua antecessora, “Rock Story”, a autora terá que providenciar soluções rápidas para esse assalto, que desencadeiem novas investigações para casos inéditos, mesmo que esteja tudo interligado. Ou cairá no risco de perder tempo para o próprio tempo.