O novo cenário do “Jornal Nacional” apresentado nessa
segunda-feira (19) cumpriu a promessa estar entre os mais modernos dos
telejornais do mundo, mas talvez tenha pecado pelo excesso na ânsia de aplicar
recursos e efeitos tecnológicos avançados simultaneamente. A bancada dos
apresentadores ganhou um design futurista discreto valorizado pelo vidro de 15
metros em curva no seu entorno, planejado para dar o efeito tridimensional com
a sobreposição de telões. Aí começou o problema: a sensação é de que houve uma
ânsia em ostentar as mais diversas possibilidades que estão ao alcance da
engenharia em novas mídias. O telão gigante ao fundo funcionou ao mostrar
imagens relacionadas à notícia tratada no momento, mas o movimento de vai e vem
do logotipo JN, em vermelho, foi algo que, além de desviar o foco da informação
causou sensação de vertigem em muitos telespectadores. É um verdadeiro desafio
a quem sofre de labirintite. Já a ideia de reunir as redações das plataformas
jornalísticas da empresa que atuam no Rio de Janeiro no mesmo espaço vai colaborar
para que o fundo da bancada não se torne tão frio nas noites em que há poucos
funcionários trabalhando no horário em que o “JN” está no ar.
Embora o novo cenário tenha causado o impacto visual
pretendido, mesmo tendo que aparar arestas e fazer reajustes, o que realmente restou
após o famoso “Boa Noite” de encerramento foi um vazio em termos de conteúdo. A
escalada parece ter sido feita muito mais em função dos efeitos que cada pauta
poderia render do que propriamente na importância dos fatos. Foi muito showbiz para
pouco jornalismo. Na verdade, o novo cenário recebeu um tratamento de
celebridade quando a grande estrela de um telejornal deve ser acima de tudo a prática
de honrar o compromisso com a verdade, seguindo uma linha editorial transparente
e, acima de tudo, imparcial.
O trabalho de divulgação da “nova casa” começou mais cedo no “Vídeo Show”, quando William Bonner e Renata Vasconcellos entraram ao vivo falando sobre a “estreia” da noite. Após exaltar a novidade que invadiria o Universo, o apresentador e editor-chefe do telejornal lembrou que a primeira grande ruptura com o formato tradicional desde 1969, ano da estreia do “JN”, foi os apresentadores se levantarem da bancada e andarem pelo cenário. Agora é com a estrutura da produção. “A gente tem o cenário mais bonito, funcional e adequado para um telejornal do Planeta Terra. (...) Não tem nada mais bonito do que isso aqui”, exagerou Bonner. E não faltou matéria enaltecendo a inauguração do cenário sendo repetida exaustivamente no “Jornal da Globo”, de madrugada, e nessa terça-feira (20) no “Bom Dia Brasil” e, mais uma vez, no “Vídeo Show”, em que novamente Bonner e Renata voltaram a falar sobre a “emoção da estreia”. Ele, tentando fazer graça contando sobre como Cid Moreira fazia aquecimento de voz antes de entra no ar, e ela, mostrando a nécessaire que carrega para retocar a maquiagem antes de entrar no ar. Ou seja, muito Show para pouco Jornalismo!
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