Na tentativa de ter uma identidade própria e fugir do
final óbvio de Tancinha (Mariana Ximenes) com Beto (João Baldesserini), como
aconteceu em “Sassaricando”, o último capítulo de “Haja Coração”, novela das
sete da Rede Globo, que foi ao ar nessa terça-feira (8), mostrou a feirante optando
pelo amor de Apolo (Malvino Salvador). Na história de Silvio de Abreu exibida
há 28 anos e que inspirou a trama atual, escrita por Daniel Ortiz, o escolhido
da mocinha foi o publicitário, que na nova versão se deu muito bem com a
entrada em cena de Paloma Oliveira, fazendo uma participação inesperada e exuberante
para ser o novo alvo do eterno conquistador. Foi a sequência mais legal do capítulo,
já que a cena do casamento de Tancinha e Apolo, que coube num porta retrato,
deixou o final bem sem graça. Além de ter contrariado o resultado de várias
enquetes nas quais a maioria do público manifestou preferir que o eleito fosse
Beto e não o piloto.
Ao longo de cinco meses no ar, “Haja Coração” passou
por altos e baixos. Começou muito preocupada em não ser vista como um remake e,
com isso, no meio do caminho quase se perdeu na tentativa de contar uma
história que não tinha mais como ser cem por cento original. Na reta final tentou
fazer um bom acabamento para esconder os pontos fracos da fase de alinhavo, mas
extrapolou em algumas saídas encontradas. Um dos pontos que não funcionaram no
arremate foi a ideia de transformar quase todos os malvados em bonzinhos
arrependidos. Foi bem rasa a justificativa de que Carmela (Chandelli Braz) maltratava
Shirley (Sabrina Petraglia) por se sentir responsável pelo defeito na perna da
irmã. Assim como ficou vaga a regeneração dos ambiciosos, como Leonardo
(Gabriel Godoy), Gigi (Marcelo Médici) e Aparício (Alexandre Borges). O que
salvou mesmo foi tudo ter sido feito em tom de comédia.
Já o núcleo envolvendo Malu Mader, Carolina Ferraz e
Ellen Roche parecia pertencer a outra novela. Por mais que as atrizes se
esforçassem, era como se suas personagens tivessem caído de paraquedas na
novela e não se ajustaram às situações criadas para justificar estarem ali. Outra
trama obsoleta girou em torno do triângulo amoroso formado por Giovanni (Jayme
Matarazzo), Bruna (Fernanda Vasconcelos) e Camila (Agatha Moreira). Insosso, não
empolgou nem mesmo com o surto de loucura de Bruna no final, torturando o
ex-amado em cenas que abusaram nos requintes de crueldade claramente inspiradas
em filmes como “Encaixotando Helena” e “Louca Obsessão”. Felizmente o horário
da novela não permitiu chegar ao auge do terror visto no cinema.
É preciso destacar, no entanto, algumas interpretações que fizeram toda a diferença e realmente deram um fôlego extra à novela. Na frente da lista está Mariana Ximenes que, apesar do cansativo “mi” eu isso, “mi” eu aquilo de Tancinha, deu um brilho todo próprio à feirante que mereceu reinar como protagonista absoluta. A seu lado, o ator João Baldasserini também se sobressaiu e caiu no gosto do público, suplantando com seu talento a pose de galã já ultrapassada de Malvino Salvador. Não há como não citar ainda Grace Gianoukas, que fez até Fedora “ressuscitar” na trama e ainda ganhar a companhia de Cristina Pereira, em uma bela homenagem à intérprete da mesma personagem em “Sassaricando”. E, para concluir, o casal revelação da novela, Shirley e Felipe, que literalmente “shipparam” como Shirlipe e conquistaram a torcida do público graças à entrega de seus intérpretes, Sabrina Petraglia e Marcos Pitombo. Se tivessem guardado o casamento de Shirlipe para o último capítulo, o final poderia ter sido mais animado.
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