sexta-feira, 23 de maio de 2014

“Segunda Dama”: Heloisa Périssé está segura ao interpretar gêmeas opostas, mas série ainda não encontrou o tom certo ao tentar fazer humor no drama, e vice versa



Heloísa Pérrisé está cumprindo com competência a tarefa de protagonizar duplamente a história de Analu e Marali, as irmãs gêmeas separadas na infância na série “Segunda Dama”, exibida nas noites de quinta-feira na Rede Globo. No primeiro episódio, exibido no dia 15, as duas se reencontram, 30 anos depois, e resolvem trocar de papeis. Analu, apesar de milionária, casada e com um filho, tem uma vida vazia e solitária, enquanto Marali é a pobretona solteira que mora no subúrbio carioca e tenta sobreviver vendendo sacolé na praia. E é aí que começam as peripécias que cada uma enfrenta ao encarar universos totalmente diversos daqueles onde cresceram.

Apesar de conseguir acentuar a diferença entre Analu e Marali, mostrando amadurecimento na dramaturgia, é visível que a atriz está muito mais à vontade quando interpreta a suburbana. Desenvoltura essa que ela já tinha mostrado em seu trabalho anterior como a cabeleireira Monalisa de “Avenida Brasil”, novela de autoria de João Emanuel Carneiro, que agora também está fazendo a supervisão do texto de Paula Amaral e Isabel Muniz, e que tem Heloísa como co-autora. Sem falar que é no subúrbio também que Marali tem a parceria de Edinéia, a outra vendedora de sacolé interpretada pela ótima Elizângela. Apesar de que, na mansão, Zezeh Barbosa e Carolina Pismel também estão cumprindo muito bem os seus papéis como Ditinha e Ceição, respectivamente, empregadas de Analu.

O segundo episódio, exibido nessa quinta-feira (22), no entanto, pecou em vários momentos em que o humor passou longe. Tudo bem que o diretor geral Carlos Araújo já tinha avisado que seria um programa com drama, suspense e comédia. Mas na festa promovida pelo filho de Analu, o arrogante e baderneiro Greg (João Pedro Zappa), chantageando e escrachando a tia Marali, o que se viu foi uma sequência deprimente, apesar das tentativas de ser engraçada. Foi exagerada a cena de Marali se lambuzando na cama elástica da festa, assim como foi a de Analu levando lama na cara ao pegar uma van que atolou. Ficaram longe de poderem ser chamadas de pastelão. Estavam mais para apelação.

É bem verdade que o lado sério foi bem desenvolvido nas cenas mostrando a precariedade do sistema de saúde no país, quando a verdadeira Analu, na pele de Marali, padeceu para conseguir atendimento em um hospital. Assim como a realidade contestável de quem usa da amizade com “chefes do morro” para resolverem questões pessoais, como quando Marali, na pele de Analu salvou Greg de ser executado por marginais porque o chefe da quadrilha era um ex-namorado dela. Mas, ficou a sensação de que a série ainda não encontrou o tom certo ao tentar fazer humor no drama, e vice versa.

Nesses dois episódios também já foram apresentados outros atores do elenco principal, como Dan Stulbach, numa boa construção de Paulo Hélio, marido de Analu paranóico com seu medo de contrair doenças. E José Loreto, que por enquanto só teve tempo de mostrar seu físico sarado na praia no papel de Kaíke, o amante da gêmea rica. A grande expectativa agora é mesmo em torno da entrada da atriz Laura Cardoso, interpretando a viúva milionária mãe de Paulo Hélio. Afinal, Laura é hour concour em qualquer programa que participe.