Heloísa Pérrisé está cumprindo com competência a
tarefa de protagonizar duplamente a história de Analu e Marali, as irmãs gêmeas
separadas na infância na série “Segunda Dama”, exibida nas noites de
quinta-feira na Rede Globo. No primeiro episódio, exibido no dia 15, as duas se
reencontram, 30 anos depois, e resolvem trocar de papeis. Analu, apesar de
milionária, casada e com um filho, tem uma vida vazia e solitária, enquanto Marali é a pobretona solteira que
mora no subúrbio carioca e tenta sobreviver vendendo sacolé na praia. E é aí
que começam as peripécias que cada uma enfrenta ao encarar universos totalmente
diversos daqueles onde cresceram.
Apesar de conseguir acentuar a diferença entre Analu
e Marali, mostrando amadurecimento na dramaturgia, é visível que a atriz está
muito mais à vontade quando interpreta a suburbana. Desenvoltura essa que ela
já tinha mostrado em seu trabalho anterior como a cabeleireira Monalisa de
“Avenida Brasil”, novela de autoria de João Emanuel Carneiro, que agora também
está fazendo a supervisão do texto de Paula Amaral e Isabel Muniz, e que tem
Heloísa como co-autora. Sem falar que é no subúrbio também que Marali tem a
parceria de Edinéia, a outra vendedora de sacolé interpretada pela ótima
Elizângela. Apesar de que, na mansão, Zezeh Barbosa e Carolina Pismel também
estão cumprindo muito bem os seus papéis como Ditinha e Ceição,
respectivamente, empregadas de Analu.
O segundo episódio, exibido nessa quinta-feira (22),
no entanto, pecou em vários momentos em que o humor passou longe. Tudo bem que
o diretor geral Carlos Araújo já tinha avisado que seria um programa com drama,
suspense e comédia. Mas na festa promovida pelo filho de Analu, o arrogante e
baderneiro Greg (João Pedro Zappa), chantageando e escrachando a tia Marali, o
que se viu foi uma sequência deprimente, apesar das tentativas de ser engraçada.
Foi exagerada a cena de Marali se lambuzando na cama elástica da festa, assim
como foi a de Analu levando lama na cara ao pegar uma van que atolou. Ficaram
longe de poderem ser chamadas de pastelão. Estavam mais para apelação.
É bem verdade
que o lado sério foi bem desenvolvido nas cenas mostrando a precariedade do
sistema de saúde no país, quando a verdadeira Analu, na pele de Marali, padeceu
para conseguir atendimento em um hospital. Assim como a realidade contestável
de quem usa da amizade com “chefes do morro” para resolverem questões pessoais,
como quando Marali, na pele de Analu salvou Greg de ser executado por marginais
porque o chefe da quadrilha era um ex-namorado dela. Mas, ficou a sensação de que a série ainda não encontrou o tom certo ao tentar fazer humor no drama, e vice versa.