Há um mês no ar, “Meu Pedacinho de Chão”, novela das
seis da Rede Globo, pode ter causado estranheza em alguns telespectadores
devido à sua linguagem inovadora no horário. A história, de autoria de Benedito
Ruy Barbosa, é uma releitura vista sobre outros ângulos do ponto de vista do
mesmo autor que escreveu a novela original de 1971. Naquela época, foi exibida em
preto e branco simultaneamente na Globo e na TV Cultura e era classificada como
o primeiro folhetim educativo da televisão brasileira. Agora, sob o olhar
minucioso e detalhista do diretor Luiz Fernando Carvalho, a trama ganhou não
apenas cores com também ares de fábula.
É uma novela em que a direção e produção de arte
disputam lado a lado o posto de destaque com o talento do excelente elenco. E,
com uma atmosfera tão rica e lúdica, com certeza a responsabilidade dos atores
corresponderem é ainda maior. Ali não há protagonista. O desafio é o mesmo para
todos, veteranos ou iniciantes. E todos estão mostrando estarem se revirando
pelo avesso para fazerem de cada personagem uma peça fundamental ao bom
funcionamento de toda a engrenagem.
Antonio Fagundes, com seus passinhos sacudidos e
bigode fininho, de longe lembra o galã de outras gerações. Rodrigo Lombardi,
com voz anazalada, cabelo e barba pouco atraentes, demonstra abrir mão com o
maior prazer do posto de galã de geração mais recente. Juliana Paes está, sem
dúvida, tendo uma chance inquestionável de mostrar que não é apenas uma atriz
que exibe boa forma e apelo sensual, mas que também tem potencial para criar
uma personagem cheia de trejeitos, cacoetes e carregada de emoção como é a sua
Catarina.
Mas, sem dúvida, quem reina soberano nessa história
em que há espaço para todos brilharem ainda é Osmar Prado, que, com sua
interpretação irretocável, fez do coronel Epaminondas o dono da história. E o
mais impressionante é que Osmar não está engolindo nenhum outro ator. Ao
contracenar com ele, todos crescem. E é aí que vem a sua soberania. O ator está
sendo o máximo onde só há ótimos.
É admirável ainda perceber a dramaturgia que corre
nas veias dos jovens atores. Nesse rol
estão dois nomes que se destacam: Johnny Massaro, com carreira até então mais
voltada para o teatro e Irandhir Santos, com vasta experiência em cinema. O
talento e o carisma de Johnny, interpretando Ferdinando, filho de Epaminondas, ficam
gritantes não apenas nas cenas em que as lágrimas brotam de seus olhos no
sofrimento, quanto na emoção que exala nos momentos de contentamento do
personagem. E Irandhir, no papel de Zelão,
peão nas terras do coronel, não precisa nem de falas para surpreender, ele
parece dizer todo o texto através do olhar.