Não há como negar que a cena protagonizada pelo
casal da terceira idade formado por Lutero e Bernarda, brilhantemente
interpretados pelos experientes e talentosos Ary Fontoura e Nathália Timberg,
respectivamente, no capítulo dessa terça-feira (22) em “Amor à Vida”, novela
das nove da Rede Globo, deram um novo respiro à história escrita por Walcyr
Carrasco, até agora repetitiva, recheada de situações inverossímeis. O autor
foi criativo nos diálogos, com direito a insinuações de que Lutero recorreu a “pilulazinhas”
para ter um bom desempenho na cama. Nada muito surpreendente, mas, deu um
floreio ao texto.
Foi uma cartada excepcional pela entrega dos
respeitáveis atores. Mas, nada tão espetacular e original assim que nunca tenha
sido visto antes. Só para lembrar, recentemente, em “A Vida da Gente”, exibida
em 2011, e no horário das seis, Nicette Bruno (Iná) e Stênio Garcia (Laudelino)
já representavam um casal de avós mantendo uma relação sem compromisso, cada um
na sua casa, mas dormindo juntos quando sentiam vontade. Pelo horário da
história, o sexo não chegava a ser citado, mas era deduzido e perfeitamente
entendido num casal sem compromisso oficialmente assumido. Muito mais ousado.
Na época, Stênio definiu bem a pureza da relação dos
dois, em uma trama que se passava em Gramado, interior do Rio Grande do Sul: “Essa
é a maneira que eles encontraram para serem felizes. O mais importante é a
afinidade, o amor sem compromissos formais. Eles pularam a parte da aliança, do
papel. Esse namoro é mantido porque o respeito está acima de tudo. Para essa
faixa etária, é muito importante que haja essa falta de compromisso com a
seriedade da relação”, afirmou o ator.
Tocar nesse tema é e sempre será fundamental para
que uma nova mentalidade seja formada e reformada em torno da importância das relações humanas, sentimental ou fisicamente. Entrando
no Túnel do Tempo, quem assistiu a “O Casarão”, novela de Lauro César Muniz que
intercalava três décadas antigas, 1900, 1920 e 1930, com os modernos anos 70, e
discutia feminismo, política e velhice, sabe que ninguém está descobrindo a
pólvora agora. Como não se lembrar da cena antológica de Yara Cortes (Carolina)
com Paulo Gracindo (João Maciel), no último capítulo da novela, em que ela
perguntava se estava atrasada, e ele respondia: “Só quarenta anos”, respondeu o personagem.
Passados quase 40 anos, o tratamento dado é outro.
Autores precisam estar à frente de seu tempo sempre. A questão do relacionamento
entre Lutero e Bernarda é super válida ser tratada. E, acompanhando a evolução
dos tempos, nada mais justo do que avançar no tema, já que há mais liberdade
nos tempos atuais e no horário em que a novela é exibida.
Mais "Amor à Vida" em:
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