Em tempos de protestos nas ruas da maioria das
cidades brasileiras por uma série de reformas na política e sugestão da
presidente Dilma Roussef de realizar um plebiscito, o remake de “Saramandaia”
não teria momento melhor de estrear como a nova novela das 23h da Rede Globo.
Logo no primeiro capítulo, que foi ao ar na segunda-feira (24), já se percebeu que
a adaptação feita pelo autor Ricardo Linhares manterá fielmente o realismo
fantástico e o tom político que pontuaram a obra de Dias Gomes, que escreveu a
versão original exibida em 1976.
Logo na abertura se viu uma manifestação comandada
por jovens pedindo um plebiscito para que a cidade Bole-Bole troque de nome e
passe a se chamar Saramandaia. É claro que, 37 anos depois, a história
hoje ganhou uma linguagem visual que usa e abusa dos avanços da tecnologia. Na trama, os
embates entre as facções tradicionalistas e mudancistas continuam, mas ganharam
novos representantes.
A direção geral de Denise Saraceni e Fabrício
Mamberti promete inovar, mas sem fugir do olhar dado por Walter Avancini,
Roberto Talma e Gonzaga Blota na primeira versão. O elenco também continua
sendo de primeira linha. Destaque na estréia para Gabriel Braga Nunes, como o
Professor Aristóbulo, que vira lobisomem nas noites de lua cheia; Marcos
Palmeira como Cazuza Moreira, que “ressuscita” no meio do próprio velório,
Fernanda Montenegro como Candinha, que corre atrás de galinhas imaginárias, e Sérgio
Guizé, a quem coube a difícil de encarnar o novo João Gibão, personagem
marcante de Juca de Oliveira que carregava uma corcunda revelada no final como
um par de asas.
Vale lembrar que a cena da explosão de Dona Redonda
deu trabalho no original, pela falta de recursos. A direção teve que colocar um
boneco inflável vestido com as roupas de Wilza, enchido com um compressor
manual. Ou seja, o que explodiu foi um balão. Coisa que hoje poderá ser feito
através da computação gráfica. Assim como não será surpresa rever o emblemático
vôo de João Gibão no último capítulo, já que cena semelhante foi copiada
recentemente no remake de “O Astro”, quando Herculano Quintanilha (Rodrigo
Lombardi) se transformou em pássaro e saiu voando para fugir da polícia.
O primeiro capítulo deu sinais de que a nova "Saramandaia"
está muito bem feita, mas, como geralmente acontece com remake, ainda não se
compara ao original. Sem dúvida, No livro “Apenas Um Subversivo”, autobiografia
do autor, ele próprio revelou que “Saramandaia” tinha o propósito de driblar a
censura da época, incluindo metáforas e símbolos. Os tempos são outros, os
recursos são outros, mas, infelizmente, a maioria das novelas inéditas não
acompanha essas evoluções em termos de conteúdo, seja em que gênero for.Mais Dias Gomes em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com/search?q=dias+gomes