Jack
Bauer ficou para trás, depois de ter durante oito temporadas suas “24 Horas” de
fama. Pelo menos na TV, já que existe uma possibilidade de a série virar filme
no cinema. Mas, no momento, a missão de Kiefer Sutherland é repetir o sucesso
anterior em “Touch”, grande aposta do canal FOX, que estreou no Brasil nessa
semana, na segunda-feira (20), com apenas um dia de diferença em relação à
exibição nos Estados Unidos.
A série
conta a história de Martin Bohm (Kiefer), um ex-repórter que perdeu a mulher no
11 de Setembro e pai de um garoto autista de 11 anos. Coincidências à parte, o
menino se chama Jake e é interpretado por David Mazouz, um ator-mirim que já
surpreendeu no primeiro episódio, completamente mudo e intocável, mas dizendo
tudo com seus gestos e olhares profundos. Inicialmente, Martin não consegue
entender o comportamento do filho, até perceber que ele tem o dom de prever
através de números coisas que ainda vão acontecer. O garoto é uma espécie de
“mente brilhante”.
Criada
por Tim Kring, o mesmo de "Heroes", a série mistura drama com apelo
místico, como fica claro na narração nas primeiras cenas de um texto sobre o mito
chinês do Fio Vermelho do Destino que diz: “Os deuses armazenam um fio vermelho
no tornozelo de cada um e o amarram nas pessoas cujas vidas devemos tocar”.
Para compensar o lado dos céticos, é citada também a famosa sequência
Fibonacci, para lembrar que os números fazem parte de padrões matemáticos.
No
decorrer da história fica claro que a missão de pai e filho é fazer a conexão
entre pessoas. Tudo acontece através de celulares. Martin recolhe aparelhos na
seção de achados e perdidos para dar a Jake, acreditando que o menino os usa
apenas para brincar. Na verdade é através das ligações para esses aparelhos que
acontece a ponte entre pessoas dos mais diversos países que, aparentemente,
nada têm em comum.
A estreia
também mostrou um fenômeno bem atual: uma irlandesa desconhecida grava num
celular um vídeo num pub onde canta e um amigo se encarrega de jogar o aparelho
numa bagagem qualquer no aeroporto. Assim, o vídeo vai parar no Japão, onde os
jovens que o encontram adoram, acham que se trata de uma estrela famosa e criam
até um fã clube para ela. É mais uma anônima transformada em viral. As cenas
entrecortadas mostrando pessoas diferentes nos mais diversos pontos do mudo dão
uma linguagem ágil à série.
Uma
ligação de uma telefonista também ajuda a evitar que um garoto-bomba num país
árabe acione o dispositivo ligado a um celular. O menino acabou se envolvendo
com terroristas apenas porque sua família precisava de um forno para fazer pão
e garantir o sustento da família.
Em outra
situação, Martin resolve tentar decifrar o mistério dos números repetidos pelo
filho e corre para uma estação de trem onde ataca um passageiro que estava no
orelhão. O homem fica furioso por ter perdido o trem. E nada acontece. Até que,
mais tarde, Martin vê na TV a notícia de um ônibus incendiado e o mesmo homem
contando que ajudou a salvar crianças que estavam no veículo e seriam
queimadas. “Isso só aconteceu porque perdi o trem”, diz o desconhecido na
entrevista. É quando o ex-repórter percebe a ligação dos fatos e resolve
decifrar os números pelos quais o seu filho está obcecado e descobrir o
significado dos mesmos.
Pai e
filho contarão com a ajuda da assistente social Clea Hopkins (Gugu Mbatha-Raw)
na tentativa de descobrir todas as mensagens de Jake. Com roteiro bem escrito e
personagens interessantes, se mantiver o ritmo ágil e a dose de emoção da
estreia, “Touch” tem tudo para criar uma conexão de sucesso com o público. Como
diz outra mensagem citada no primeiro episódio: “O fio pode se esticar ou
emaranhar, mas nunca se parte”.