Lima
Duarte não é apenas um grande ator. É um ser humano de uma singularidade única
que sabe, com simplicidade, mesclar histórias de sua vida pessoal com a origem
de seu talento. Não foi diferente ao participar do quadro “O Que Vi da Vida”,
do “Fantástico”, da Rede Globo, nesse domingo (4). Mesmo fora de qualquer
personagem, Lima consegue provocar no público um riso choroso, resultado de
causos que poderiam parecer apenas dolorosos, mas que, contados por seu próprio
protagonista, adquirem tons de graça. É o vencer a dor através do riso. Por
mais que a alma tenha chorado.
A
importância do pai fica clara quando ele conta que ganhou dele um cavalinho
para ir para a escola: “Assim, o conhecimento me chamou à cavalo”. Também não
há mágoa ao lembrar que o pai o mandou embora de casa aos 15 anos de idade.
“Não que ele fosse mau. Ele sabia que eu estava pronto”, conta. Foi pensando
nele que Lima também resolveu se aventurar na carreira de radialista. Quem sabe
o pai não o ouviria? Mas Oduana Vianna Filho sugeriu que não usasse seu nome
original, Ariclenes Martins. E foi da mãe, de quem levava surras, que prefere
considerar até hoje como meros passos de dança, que ele recebeu a indicação de
que deveria adotar como nome artístico o mesmo do “guia de luz” dela, Lima Duarte.
Diferentemente
de tantos novos artistas que, por iniciativa própria ou orientados por seus
empresários e assessores, escondem suas origens humildes, Lima se orgulha de
sua história e faz questão de contar com requintes de detalhes sua trajetória.
É isso que faz dele um ator verdadeiro, visceral e ao alcance de onde seu
público está.
Contar
como Zeca Diabo, apenas um de seus inúmeros papéis de destaque, se fez
constante em “O Bem Amado”, revelou um Lima mais contemporâneo do que muitos
poderiam imaginar. Na época, o autor da novela, Dias Gomes, chamou o ator para
fazer uma participação em quatro capítulos como um matador que não matava. Lima
se encarregou de arrumar o figurino do personagem e, na hora de gravar, deu a
ele aquela vozinha fina que não condizia com a de um bandido. “O público pegou
o fio da meada: é veado ou é matador? Não, é vítima de uma estrutura social
viciada. Não puderam tirar o personagem da novela. Choveu telefonema: se
tirarem ele não ligo mais”, relembrou, orgulhoso, o ator.
Com uma
emoção contida, ele volta a falar que tem sonhado muito com o pai. Figura
nitidamente forte em toda sua vida. E diz não se importar com quem acha que ele
vive de lembranças. “Quem viveu os eventos que eu vivi, tão brasileiros e
humanos, não pode se interessar por mais nada. (...) Reconheço o valor da
internet. Mas ali você em poucos minutos domina tudo. Sai e não domina mais
nada quando topa com a realidade”, descreve, sabiamente, o ator.
Quem dera
a maioria dos artistas pudesse ser tão autêntica e verdadeira ao contar o que
viu da vida. E que houvesse muito mais atores que tivessem histórias que
realmente fossem merecedoras de serem mostradas nesse quadro do “Fantástico”.
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