segunda-feira, 5 de março de 2012

“Fantástico”: Lima Duarte dá uma lição de como vencer a dor através do riso, por mais que a alma tenha chorado, no quadro “O Que Vi da Vida”


Lima Duarte não é apenas um grande ator. É um ser humano de uma singularidade única que sabe, com simplicidade, mesclar histórias de sua vida pessoal com a origem de seu talento. Não foi diferente ao participar do quadro “O Que Vi da Vida”, do “Fantástico”, da Rede Globo, nesse domingo (4). Mesmo fora de qualquer personagem, Lima consegue provocar no público um riso choroso, resultado de causos que poderiam parecer apenas dolorosos, mas que, contados por seu próprio protagonista, adquirem tons de graça. É o vencer a dor através do riso. Por mais que a alma tenha chorado.

A importância do pai fica clara quando ele conta que ganhou dele um cavalinho para ir para a escola: “Assim, o conhecimento me chamou à cavalo”. Também não há mágoa ao lembrar que o pai o mandou embora de casa aos 15 anos de idade. “Não que ele fosse mau. Ele sabia que eu estava pronto”, conta. Foi pensando nele que Lima também resolveu se aventurar na carreira de radialista. Quem sabe o pai não o ouviria? Mas Oduana Vianna Filho sugeriu que não usasse seu nome original, Ariclenes Martins. E foi da mãe, de quem levava surras, que prefere considerar até hoje como meros passos de dança, que ele recebeu a indicação de que deveria adotar como nome artístico o mesmo do “guia de luz” dela, Lima Duarte.

Diferentemente de tantos novos artistas que, por iniciativa própria ou orientados por seus empresários e assessores, escondem suas origens humildes, Lima se orgulha de sua história e faz questão de contar com requintes de detalhes sua trajetória. É isso que faz dele um ator verdadeiro, visceral e ao alcance de onde seu público está.

Contar como Zeca Diabo, apenas um de seus inúmeros papéis de destaque, se fez constante em “O Bem Amado”, revelou um Lima mais contemporâneo do que muitos poderiam imaginar. Na época, o autor da novela, Dias Gomes, chamou o ator para fazer uma participação em quatro capítulos como um matador que não matava. Lima se encarregou de arrumar o figurino do personagem e, na hora de gravar, deu a ele aquela vozinha fina que não condizia com a de um bandido. “O público pegou o fio da meada: é veado ou é matador? Não, é vítima de uma estrutura social viciada. Não puderam tirar o personagem da novela. Choveu telefonema: se tirarem ele não ligo mais”, relembrou, orgulhoso, o ator.

Com uma emoção contida, ele volta a falar que tem sonhado muito com o pai. Figura nitidamente forte em toda sua vida. E diz não se importar com quem acha que ele vive de lembranças. “Quem viveu os eventos que eu vivi, tão brasileiros e humanos, não pode se interessar por mais nada. (...) Reconheço o valor da internet. Mas ali você em poucos minutos domina tudo. Sai e não domina mais nada quando topa com a realidade”, descreve, sabiamente, o ator.

Quem dera a maioria dos artistas pudesse ser tão autêntica e verdadeira ao contar o que viu da vida. E que houvesse muito mais atores que tivessem histórias que realmente fossem merecedoras de serem mostradas nesse quadro do “Fantástico”.
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