segunda-feira, 5 de março de 2012

“Amor Eterno Amor”: Novela estreia com perfeita sintonia entre texto e atuação, e uma fotografia com tratamento de cinema


Ao terminar o capítulo de “Amor Eterno Amor”, novela das 18h que estreou nessa segunda-feira (5), deu vontade de aplaudir, tal qual acontece nas salas de cinema ao final de um grande filme. Juntou-se um trabalho estético que se aproxima ao usado em cinema, graças à direção de Rogério Gomes, à fotografia de Sérgio Tortori, a uma história comovente escrita por Elizabeth Jihn e a um elenco que, nitidamente, está todo mergulhado nesse trabalho.

A trama central é a busca de uma mãe pelo seu filho desaparecido quando criança. E desse mesmo menino, já adulto, tentando resgatar seu passado, quando jurou amor eterno a uma namoradinha de infância. A atriz Ana Lúcia Torres está irretocável como a mãe, Verbena. Seu olhar ao ver de longe a criança na estrada que, mal sabe ela, será sequestrado, é de uma profundidade que faz transbordar a dor de uma mãe numa situação como essa. As crianças, Caio Manhente e Julia Gomes, que fazem, respectivamente, Carlos e Elisa na infância, tiveram uma interpretação que muita gente grande não consegue. A expressão de Caio na cena em que Carlos enfrenta um leão como atração de um circo é de chorar.

A narração de textos, tal qual é feita em “Aquele Beijo”, é um recurso que parece estar em voga também em novelas. Ocorreu apenas no início do capítulo. Espera-se que não seja uma constante, para não virar lugar comum, mesmo tendo enriquecido as belas imagens mostradas. Aliás, a fotografia e a luz podem ser consideradas protagonistas dessa história. As cenas gravadas em Carrancas, interior de Minas Gerais, são de uma plasticidade que só valorizaram o tom lúdico do momento da história, que também terá um enfoque espiritualista.

A passagem de tempo que levou a história de Minas para o Norte do país foi uma solução rápida e inteligente. Carlos está molhando no rio a conchinha de caramujo que ganhou de seu primeiro amor, Elisa, e, ao retirá-la da água, já se passaram 30 anos. E quem assume o posto de Carlos, que na verdade se chama Rodrigo, é Gabriel Braga Nunes. Apagando de vez a imagem do vilão Leo de “Insensato Coração”, Gabriel fez mais uma entre tantas cenas belíssimas desse primeiro capítulo, como a que comanda uma manada de búfalos, inclusive mergulhando no rio sobre um dos animais, gravada na Ilha de Marajó.

A escolha do estado do Pará, com cenas realizadas em Belém, Santarém, Alter do Chão e Soure, vem reforçar uma valorização de locações fora do eixo Rio-São Paulo, tal qual foi feito em “A Vida da Gente”, ambientada no Rio Grande do Sul. Já figurino, maquiagem e cabelos deixaram um pouco a desejar. Cássia Kis Magro, que faz a ambiciosa Melissa, de olho na fortuna da irmã, Verbena, na primeira fase apareceu com uma maquiagem à la Amy Winehouse e peruca inspirada em Val Macchiori, e na segunda fase voltou com o mesmo corte que Elizabeth Savalla usou quando fez a Malvina de “Gabriela, em 1975. Nada que impedisse a atriz de brilhar, como sempre faz, seja qual for a personagem que lhe deem. E a Verbena de Ana Lúcia Torres com o passar dos anos virou uma versão escovada da Meryl Streep em “O Diabo Veste Prada”. A atriz também soube ser maior do que o próprio visual criado para ela.

No mais, há que se ressaltar a marcante presença de atores como Denise Weinberg, Osmar Prado, Othon Bastos e Pedro Paulo Rangel. E aguardar pelos próximos capítulos. Esse foi apenas o primeiro.