sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

“Barriga de Aluguel”: Reprise da novela de 1990 que tratou de fertilização e reprodução humana acontece no momento em que a trama das nove trata do mesmo tema



Exibida entre 1990 e 1991 na Globo, “Barriga de Aluguel” parece sempre vir trazer um novo frescor à discussão sobre reprodução humana buscada através de métodos científicos a cada vez que é exibida. Aconteceu quando voltou ao ar no “Vale a Pena Ver de Novo”, da mesma emissora, em 1993, apenas dois anos depois. Acontece agora ao ser mais uma vez reprisada, desta vez no canal Viva, mais de 20 anos após sua estreia, com seu primeiro capítulo exibido na tarde dessa quinta-feira, primeiro de dezembro.
                                                      
Os limites éticos e as conseqüências que a decisão de se ter um filho através da inseminação artificial já foram tratados em diversos filmes, séries, novelas. Cada autor ou autora escolhe a sua forma de expor o seu ponto de vista, galgado sempre, é claro, em muita pesquisa. Ninguém é louco de se aventurar num campo tão delicado sem ter o respaldo de estudos de especialistas no assunto.

E cada um utiliza a teoria pesquisada por seus colaboradores de acordo com suas licenças poéticas ou experiências de vida. Em “A Vida da Gente”, de Lícia Manzo, ao saber que o marido, Jonas (Paulo Betti), era vasectomisado, a jovem Cris (Regiane Alves) resolveu apelar para a inseminação artificial. Ele, um homem bem mais velho, ciumento e inconformado, resolveu “comprar” o sêmen do próprio irmão para garantir que seu filho teria o sangue da família. E desde então ele quase nem aparece em cena. Deve estar fazendo sessões de terapia às escondidas...

Já em “Fina Estampa”, de Aguinaldo Silva, Esther (Julia Lemmertz), abriu mão de seu casamento para ter um bebê gerado com o óvulo de outra mulher e fecundado pelo sêmen de outro homem. Na verdade, o sêmen utilizado é do irmão morto de sua médica, Danielle Fraser (Renata Sorrah), especialista em fertilidade dirigida, e o óvulo é da ex namorada do falecido. Ou seja, Esther está gerando mais um sobrinho para Danielle, que já tinha se apossado do primeiro filho do irmão, usando a mesma namorada no golpe...

Em “Barriga de Aluguel”, Glória Perez já tinha começado suas pesquisas nos anos 80, quando começou a escrever a sinopse. Era a sua primeira. Merecia estar em horário nobre, mas ganhou o das 18h. E mesmo assim não deixou de ousar. A novela conta a história de Ana (Cássia Kiss) e Zeca (Vitor Fasano), que não podem ter filhos e, para realizar o sonho de suas vidas, contratam Clara (Cláudia Abreu) como “barriga de aluguel” para o bebê, em troca de 20 mil dólares. Mas, durante a gestação, Clara se apega ao bebê e tem um parto difícil que a deixa estéril. Com quem deve ficar a criança?

As primeiras cenas de abertura da novela são belíssimas de Cláudia Abreu e Cássia Kiss declamando “Yerma”, de Gabriel Garcia Lorca, em um palco de teatro. Cássia usa um vestido vaporoso que deixa seus seios discretamente à mostra. Uma ousadia para a época e para o horário. Não menos do que a cena em que a mesma Cássia está tomando banho embaixo do chuveiro e vê o sangue escorrer pelo ralo do box, sinal de que estava abortando o filho tão desejado. E Victor Fasano tomando banho nu, de costas, sim, mas mostrando a bunda na novela das seis? Há 20 anos?

Na comparação com os tempos atuais, é curioso como a decoração das casas ambientadas no subúrbio carioca de Acari pareciam ser inspiradas nos cenários de novelas mexicanas. Mas, a realidade era essa, e em muitos lugares ainda continua sendo. Na casa do pai da Clara tem até vaso de xaxim rodeando um aparelho de TV em preto e branco. Sem falar na nostalgia que bate em rever grandes atores que deixaram saudades como Mário Lago, o eterno poeta, e Adriano Reys, que nos deixou há pouco tempo. 

Em “O Clone”, exibida em 2001 e recentemente reprisada pela Globo (de janeiro a setembro deste ano), Gloria Perez reviveu os personagens Dr. Molina (Mário Lago) e miss Penélope Brown (Beatriz Segall). Os médicos entraram em cena para participar de uma discussão sobre a clonagem humana.

Os assuntos vão tomando a proporção dos tempos. Na época de “Barriga de Aluguel” o problema de Ana era passar dos 30 sem conseguir engravidar. No caso de Esther, em “Fina Estampa”, é passar dos 40. No caso de Chris, em “A Vida da Gente”, é segurar marido.

Mas os tempos também tomam outras proporções...

E nem sempre ter um filho é condição sine qua non para uma mulher ser feliz...