terça-feira, 6 de dezembro de 2011

"As Megeras da Vez": Elas são mulheres abominavelmente admiráveis e com estilo próprio brilham no universo de maldades



Nos quesitos elegância e soberba, as maiores megeras atualmente no ar nas novelas da Globo: Eva (Ana Beatriz Nogueira) em “A Vida da Gente”, Maruschka (Marília Pêra) e Tereza Cristina (Christiane Torloni) em “Fina Estampa”, poderiam até fazer parte do mesmo time. Mas cada uma delas tem um perfil bem distinto e universos próprios. E graças ao talento de suas intérpretes, estão dando a apimentada sempre necessária em qualquer folhetim que se preze.

Das três, Tereza Cristina, vivida por Christiane Torloni em “Fina Estampa”, é a que mais consegue imprimir sua marca de vilã com requintes de crueldade. No capítulo dessa segunda-feira (5), até Crô (Marcelo Serrado) tremeu ao ouvir a patroa dizer que vai se vingar do marido, René (Dalton Vigh), pois ele está prestes a traí-la com Griselda (Lilia Cabral). “Ninguém sabe como isso dói, mas todos vão se arrepender na hora em que eu der o troco. Aí, sim, vai doer demais... e não em mim! Não terei outra saída... Vou destruir o René. E, depois, matar aquela mulher maldita”, afirmou, referindo-se à “ex-bigoduda”. Aguinaldo Silva é o mentor de tudo. E o autor mostrou sua maestria ao dar à megera, que já matou dois personagens, a companhia do impagável Crô. É ele que percebe as fragilidades que há por trás da imponência e prepotência da patroa. A frase de Christiane que virou bordão desde o “Rock in Rio”, “Hoje é dia de rock, bebê”, também tem tornado menos pesadas as cenas de seus crimes. Ao matar Marcela (Suzana Pires) sufocada com um travesseiro no hospital, Tereza Cristina, sorrindo, disse apenas: “Canta para subir, bebê!”. Sua primeira vítima tinha sido um mafioso que ela matou jogando-o escada abaixo. Também sem se abalar, agradeceu a “Naza” por tê-la ensinado a fazer aquilo, referindo-se a Nazaré, a assassina vivida por Renata Sorrah em “Senhora do Destino”, também de Aguinaldo, há sete anos. É a megera que vive em um universo próprio, egoísta, possessiva e de uma reputação duvidosa. O grande segredo que esconde talvez revele mais de sua estranha personalidade.

Já em “Aquele Beijo”, Marília Pêra embarca no texto de Miguel Falabella e Maria Carmen Barbosa e faz de Maruschka uma perua detestável na novela das sete. A empresária de moda inferniza a vida de todos, mas sempre dissimulando suas intenções com uma simpatia artificial e um sorriso irônico. No trabalho, passa os funcionários em revista não perdendo a chance de humilhá-los. E quer desapropriar uma favela para construir outra de suas lojas. Em casa, vive às turras com a mãe, Mirta (Jacqueline Laurence), que por sua vez deita e rola para suas picuinhas, tornando o clima entre as duas de comédia, sem qualquer tipo de drama. Maruschka também não se conforma que o filho, Rubinho (Victor Pecoraro), tenha se casado com Cláudia (Giovanna Antonelli), a filha da governanta da família, e inferniza a vida do casal. Sua maior dor foi ter sido trocada por outra pelo marido, Cortez (Herson Capri), e essa outra é a líder comunitária Sarita (Sheron Menezes) da favela. Mas até na tristeza ela não se abate e já está tramando sua vingança contra todos. É visível o prazer com que Marília se entrega a esses planos da personagem. É a megera que vive em um universo fashion, que brinda as maldades com champanhe e faz da vingança um prato de caviar que se come frio.

E em mais um trabalho admirável, Ana Beatriz Nogueira faz com que, de uma cena para outra, o telespectador passe de um sentimento de raiva para outro de pena de Eva, personagem cheia de nuances criada por Lícia Manzo, autora da novela das seis. A forma doentia como ela ama a filha mais velha, Ana (Fernanda Vasconcellos), e despreza a outra, Manu (Marjorie Estiano), é incompreensível. Assim como a crueldade com que trata a própria mãe, Iná (Nicette Bruno), também é inadmissível. Alguma coisa deve ter acontecido no passado entre elas que explique essa revolta. Ao mesmo tempo, foi sua perseverança que ajudou na recuperação de Ana. Mesmo tendo feito tudo sempre pensando em ver a jovem voltar às quadras de tênis e de novo lhe dando o orgulho de conquistar troféus. Mas agora que Ana saiu do coma e no capítulo dessa segunda-feira (5) anunciou que não permitirá mais ser manipulada por ela, Eva já começará a sentir na pele a dor que causa na própria mãe e na outra filha. Ou ficará ainda mais cruel com todos. No que a atriz tem se superado a cada capítulo. É a megera que vive em um universo dramático, infeliz, que passa com facilidade das lágrimas ao riso nervoso, quase sarcástico.