Nos quesitos elegância e soberba, as maiores megeras atualmente no ar nas novelas da Globo: Eva (Ana Beatriz Nogueira) em “A Vida da Gente”, Maruschka (Marília Pêra) e Tereza Cristina (Christiane Torloni) em “Fina Estampa”, poderiam até fazer parte do mesmo time. Mas cada uma delas tem um perfil bem distinto e universos próprios. E graças ao talento de suas intérpretes, estão dando a apimentada sempre necessária em qualquer folhetim que se preze.
Das três,
Tereza Cristina, vivida por Christiane Torloni em “Fina Estampa”, é a que mais
consegue imprimir sua marca de vilã com requintes de crueldade. No capítulo
dessa segunda-feira (5), até Crô (Marcelo Serrado) tremeu ao ouvir a patroa
dizer que vai se vingar do marido, René (Dalton Vigh), pois ele está prestes a
traí-la com Griselda (Lilia Cabral). “Ninguém sabe como isso dói, mas todos vão
se arrepender na hora em que eu der o troco. Aí, sim, vai doer demais... e não
em mim! Não terei outra saída... Vou destruir o René. E, depois, matar aquela
mulher maldita”, afirmou, referindo-se à “ex-bigoduda”. Aguinaldo Silva é o
mentor de tudo. E o autor mostrou sua maestria ao dar à megera, que já matou
dois personagens, a companhia do impagável Crô. É ele que percebe as
fragilidades que há por trás da imponência e prepotência da patroa. A frase de
Christiane que virou bordão desde o “Rock in Rio”, “Hoje é dia de rock, bebê”,
também tem tornado menos pesadas as cenas de seus crimes. Ao matar Marcela
(Suzana Pires) sufocada com um travesseiro no hospital, Tereza Cristina,
sorrindo, disse apenas: “Canta para subir, bebê!”. Sua primeira vítima tinha
sido um mafioso que ela matou jogando-o escada abaixo. Também sem se abalar,
agradeceu a “Naza” por tê-la ensinado a fazer aquilo, referindo-se a Nazaré, a
assassina vivida por Renata Sorrah em “Senhora do Destino”, também de
Aguinaldo, há sete anos. É a megera que vive em um universo próprio, egoísta,
possessiva e de uma reputação duvidosa. O grande segredo que esconde talvez
revele mais de sua estranha personalidade.
Já em
“Aquele Beijo”, Marília Pêra embarca no texto de Miguel Falabella e Maria
Carmen Barbosa e faz de Maruschka uma perua detestável na novela das sete. A
empresária de moda inferniza a vida de todos, mas sempre dissimulando suas
intenções com uma simpatia artificial e um sorriso irônico. No trabalho, passa
os funcionários em revista não perdendo a chance de humilhá-los. E quer
desapropriar uma favela para construir outra de suas lojas. Em casa, vive às
turras com a mãe, Mirta (Jacqueline Laurence), que por sua vez deita e rola
para suas picuinhas, tornando o clima entre as duas de comédia, sem qualquer
tipo de drama. Maruschka também não se conforma que o filho, Rubinho (Victor
Pecoraro), tenha se casado com Cláudia (Giovanna Antonelli), a filha da
governanta da família, e inferniza a vida do casal. Sua maior dor foi ter sido
trocada por outra pelo marido, Cortez (Herson Capri), e essa outra é a líder
comunitária Sarita (Sheron Menezes) da favela. Mas até na tristeza ela não se
abate e já está tramando sua vingança contra todos. É visível o prazer com que
Marília se entrega a esses planos da personagem. É a megera que vive em um
universo fashion, que brinda as maldades com champanhe e faz da vingança um
prato de caviar que se come frio.
E em mais
um trabalho admirável, Ana Beatriz Nogueira faz com que, de uma cena para
outra, o telespectador passe de um sentimento de raiva para outro de pena de
Eva, personagem cheia de nuances criada por Lícia Manzo, autora da novela das
seis. A forma doentia como ela ama a filha mais velha, Ana (Fernanda
Vasconcellos), e despreza a outra, Manu (Marjorie Estiano), é incompreensível.
Assim como a crueldade com que trata a própria mãe, Iná (Nicette Bruno), também
é inadmissível. Alguma coisa deve ter acontecido no passado entre elas que
explique essa revolta. Ao mesmo tempo, foi sua perseverança que ajudou na
recuperação de Ana. Mesmo tendo feito tudo sempre pensando em ver a jovem
voltar às quadras de tênis e de novo lhe dando o orgulho de conquistar troféus.
Mas agora que Ana saiu do coma e no capítulo dessa segunda-feira (5) anunciou
que não permitirá mais ser manipulada por ela, Eva já começará a sentir na pele
a dor que causa na própria mãe e na outra filha. Ou ficará ainda mais cruel com
todos. No que a atriz tem se superado a cada capítulo. É a megera que vive em
um universo dramático, infeliz, que passa com facilidade das lágrimas ao riso
nervoso, quase sarcástico.