Falar sobre o tão sonhado elixir da juventude é tão
antigo quanto ter princesas e bruxas em contos de fada, mas é um assunto que
não se rende ao tempo e não deixa de ser envolvente em qualquer comédia
romântica no cinema ou na televisão. Mas para beber nessa fonte não basta ter
um mote aparentemente jovial. É preciso mostrar uma dose extra de criatividade
e de originalidade que traga uma maquiagem nova, que não seja apenas mais uma
máscara do que já foi visto no gênero. Dentro dessa premissa, a estreia de “A
Fórmula” nessa quinta-feira (6) correspondeu à expectativa criada em torno da
nova série da Rede Globo escrita por Marcelo Saback e Mauro Wilson. Com roteiro
simples, bem delineado e traduzido através de um texto ágil, o primeiro
episódio resumiu perfeitamente do que trata a história: dois cientistas que
viveram um grande amor na juventude, Angélica (Luisa Arraes) e Ricardo (Klebber
Toledo), foram separados pelo destino de uma bolsa de estudo em Harvard e se
reencontram três décadas depois, agora interpretados por Drica Moraes e Fábio
Assunção. O tempo parece não ter passado para ele, que vive de novas
descobertas para o rejuvenescimento. Enquanto Angélica traz na pele os sinais
de envelhecimento. O estopim é acionado quando ela descobre uma fórmula que a
faz voltar a ter o físico e aparência dos seus 30 anos. Só que o efeito dura
poucas horas, e a cientista decide assumir a identidade de Afrodite quando
estiver “rejuvenescida”. Nesses momentos de “transformação”, a personagem volta
a ser interpretada por Luisa Arraes.
Dividir papéis que exijam essa espécie de “eu sou
você amanhã” é sempre instigante e uma excelente oportunidade para qualquer
artista. E logo na largada Drica Moraes e Luisa Arraes já mostraram um trabalho
de composição profundo que resultou em uma sincronia impressionante no gestual
das duas. Falta apenas um pouco mais de cuidado de Luisa na entonação de voz, pois
quando eleva o tom seu timbre fica mais estridente e anasalado do que o de Drica
nas cenas em que Angélica fica mais alterada. Fábio Assunção também mostrou
equilíbrio fazendo o vértice masculino do estranho “triângulo amoroso” no papel
do vaidoso Ricardo. Assim como o ator Emílio de Mello chamou a atenção com um
tempo de comédia bem interessante interpretando Divino, o melhor amigo de
Angélica. Tony Tornado fez uma aparição relâmpago como Lisboa, o dono do bar
que todos frequentam, mas foi suficiente para sentir que será uma grata
presença no decorrer da trama.
A direção artística de Flávia Lacerda, que divide a geral com Patrícia Pedrosa, só vem realçar as interpretações competentes a um texto ágil e com diálogos inteligentes. Iluminação, fotografia e cenografia compõem a história no tempo e lugares certos. Já da parte da maquiagem e caracterização, houve certo exagero ao querer mostrar a cinquentona Angélica muito mais envelhecida diante de um Ricardo muito bem “conservado” no alto dos seus 55 anos. É perfeitamente normal que ela se sentisse bem menos atraente e até maltratada visualmente, mas exageraram nas rugas em seu rosto. Afinal, por mais desprovida de vaidade que seja, trata-se de uma mulher moderna, engajada e até mesmo uma pessoa pública, já que profere palestras para grandes plateias sobre como encarar com serenidade a aproximação da terceira idade. “Envelhecer é bom. Até porque a outra alternativa não é tão bom assim”, disse Angélica em uma palestra. Não convence apresentando a testa exageradamente enrugada, tendo ela apenas 50 anos. Mas é apenas um detalhe que passa batido, já que o tema, à primeira vista, vai mirar muito mais no aspecto psicológico da questão, através de situações que retratam bem o quanto o envelhecimento pode promover alterações distintas de comportamento e de sensações nos universos masculino e feminino. Vamos ver quantas horas vai durar o efeito da Fórmula usada na estreia. Espera-se que se mantenha durante toda a temporada.
Mais Drica Moraes em:
https://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2012/12/guerra-dos-sexos-apos-se-superar-na.html