domingo, 5 de junho de 2016

“Escrava Mãe”: Com destaque para fotografia e direção de arte de alta qualidade e sequências com ritmo ágil, novela surpreende em sua primeira semana no ar


Em seus primeiros capítulos, “Escrava Mãe”, novela da Rede Record que estreou na terça-feira (31), vem se apresentando como um produto de qualidade tanto no texto de Gustavo Reiz, quanto na direção-geral de Ivan Zettel. Depois de uma estreia impactante, quando foi mostrada a origem daquela que dá título à obra, ou seja, o roubo de negros africanos, tirados de suas tribos por feitores portugueses para serem trazidos como escravos para o Brasil, a história continuou mantendo o fôlego nos capítulos subsequentes.

Direção de arte e fotografia estão conversando perfeitamente em sintonia com a época na qual a novela se passa. Assim como casou bem a trilha sonora com clássicos da MPB dos anos 80, 90 em novas interpretações, mas sem perder as marcas registradas deixadas por seus intérpretes originais, como Milton Nascimento, Roberto Carlos e Clara Nunes, entre outros. E a abertura, com desenhos ganhando cores de nanquim, é de uma criatividade simples, delicada e muito bem executada.

Diferentemente de sua concorrente no horário, “Haja Coração”, da Rede Globo, que pretende ser um reboot de “Sassaricando” (ou seja, um reinício de uma história já contada), “Escrava Mãe” vem a ser uma prequela, que viria a ser uma narrativa que antecede uma obra anterior, no caso “Escrava Isaura”, inspirada no romance homônimo de 1875 de Bernardo Guimarães, que teve sua primeira versão para a televisão feita em 1976 pela Globo, e uma segunda na Record em 2004. Ambientada no mesmo universo ficcional, a novela conta a história da mãe da escrava Isaura, Juliana, muito bem interpretada por Gabriela Moreyra, atriz que está em seu sétimo trabalho na emissora, onde estreou há dez anos, em “Bicho do Mato”.

É sempre uma presença de peso ter Zezé Motta, como Tia Joaquina, fazendo as vezes de narradora de toda a trajetória da protagonista. O elenco traz ainda outros atores maduros e experientes nesse gênero, como Antônio Petrin e Luiz Guilherme, fazendo os coronéis rivais Custódio e Quintanilha. E mais uma vez se destacando Jussara Freire, como a viúva falida, ambiciosa e fogosa Urraca de Góis. Também estão corretas Thaís Fersoza e Lidi Lisboa, interpretando respectivamente Maria Izabel, a sinhá maquiavélica da fazenda, e Esméria, ama da jovem vilã e tão impiedosa quanto ela.

Seria recomendável que não se pesasse tanto a mão nas cenas de violência e castigo a escravos. Mas, como se trata de uma obra fechada, cujas gravações foram realizadas ano passado e já concluídas, não há como se sugerir ou esperar qualquer mudança. De qualquer forma, vale por ser uma boa história e pela qualidade da produção como um todo. Lembrando que os figurinos foram confeccionados no mesmo ateliê norte-americano responsável pelo figurino da série “Game Of Thrones” e que se trata da primeira novela brasileira gravada em resolução 4K, superior ao HD tradicional.