Em seus primeiros capítulos, “Escrava Mãe”, novela da
Rede Record que estreou na terça-feira (31), vem se apresentando como um
produto de qualidade tanto no texto de Gustavo Reiz, quanto na direção-geral de
Ivan Zettel. Depois de uma estreia impactante, quando foi mostrada a origem daquela
que dá título à obra, ou seja, o roubo de negros africanos, tirados de suas
tribos por feitores portugueses para serem trazidos como escravos para o
Brasil, a história continuou mantendo o fôlego nos capítulos subsequentes.
Direção de arte e fotografia estão conversando
perfeitamente em sintonia com a época na qual a novela se passa. Assim como casou
bem a trilha sonora com clássicos da MPB dos anos 80, 90 em novas
interpretações, mas sem perder as marcas registradas deixadas por seus
intérpretes originais, como Milton Nascimento, Roberto Carlos e Clara Nunes,
entre outros. E a abertura, com desenhos ganhando cores de nanquim, é de uma
criatividade simples, delicada e muito bem executada.
Diferentemente de sua concorrente no horário, “Haja
Coração”, da Rede Globo, que pretende ser um reboot de “Sassaricando” (ou seja, um reinício de uma história já
contada), “Escrava Mãe” vem a ser uma prequela,
que viria a ser uma narrativa que antecede uma obra anterior, no caso “Escrava
Isaura”, inspirada no romance homônimo de 1875 de Bernardo Guimarães, que teve
sua primeira versão para a televisão feita em 1976 pela Globo, e uma segunda na
Record em 2004. Ambientada no mesmo universo ficcional, a novela conta a
história da mãe da escrava Isaura, Juliana, muito bem interpretada por Gabriela
Moreyra, atriz que está em seu sétimo trabalho na emissora, onde estreou há dez
anos, em “Bicho do Mato”.
É sempre uma presença de peso ter Zezé Motta, como Tia
Joaquina, fazendo as vezes de narradora de toda a trajetória da protagonista. O
elenco traz ainda outros atores maduros e experientes nesse gênero, como Antônio
Petrin e Luiz Guilherme, fazendo os coronéis rivais Custódio e Quintanilha. E
mais uma vez se destacando Jussara Freire, como a viúva falida, ambiciosa e
fogosa Urraca de Góis. Também estão corretas Thaís Fersoza e Lidi Lisboa, interpretando
respectivamente Maria Izabel, a sinhá maquiavélica da fazenda, e Esméria, ama
da jovem vilã e tão impiedosa quanto ela.
Seria recomendável que não se pesasse tanto a mão nas cenas de violência e castigo a escravos. Mas, como se trata de uma obra fechada, cujas gravações foram realizadas ano passado e já concluídas, não há como se sugerir ou esperar qualquer mudança. De qualquer forma, vale por ser uma boa história e pela qualidade da produção como um todo. Lembrando que os figurinos foram confeccionados no mesmo ateliê norte-americano responsável pelo figurino da série “Game Of Thrones” e que se trata da primeira novela brasileira gravada em resolução 4K, superior ao HD tradicional.