quinta-feira, 1 de outubro de 2015

“Pé Na Cova”: Série volta com humor ácido de Miguel Falabella, mas precisa aparar arestas de personagens que não funcionam

Ao inaugurar sua quarta temporada, o episódio dessa terça-feira (29) de “Pé Na Cova” já mostrou que o forte da série continua sendo o humor ácido, porém inteligentemente acessível de Miguel Falabella que, além de atuar, é responsável não só pela criação como também pelo texto final. Como não sorrir, não só por estar achando graça, mas por concordar plenamente com certas verdades declaradas de forma nua e crua, como na cena em que o psiquiatra aloprado Dr. Zóltan, vivido por Diogo Vilela, explica o porquê da filha de um paciente não permitir que o corpo do pai seja descongelado até que descubram a cura para sua doença. Quando Ruço (Miguel Falabella) pergunta do que ele morreu, Zóltan responde friamente: “Velhice”.

Marília Pêra no papel da ex-eterna-mulher de Ruço, continua sendo o Pé-de-Coelho de Falabella no programa. Não há como imaginar outra atriz interpretando uma mulher que vive com um cigarro entre os dedos de uma mão e um copo de gim na outra sem provocar no público pensamentos condenatórios à personagem. O que seria de “Pé Na Cova” sem uma Darlene representada por Marília? Até o timbre de voz e a entonação tem tudo a ver com o “espírito” da série.

Mas, não há como não perceber que o programa vem perdendo o timing das temporadas anteriores, quando as histórias eram focadas em situações que envolviam uma relação direta entre a funerária F.U.I. e o Irajá, bairro do subúrbio carioca onde é ambientada a série. A pretensão de se fazer algum tipo de crítica política através de Alessanderson (Daniel Torres) e do deputado Sebonetti (Marcelo Picchi) não está funcionando, tanto o texto quanto os personagens não convencem, e está diluindo a intenção central do episódio. A crítica acaba se voltando contra o próprio programa, já que algumas personagens flutuam em torno dos protagonistas de forma desnecessária, como acontece em muitas repartições públicas.

Talvez se as tramas dos episódios voltassem a se concentrar mais nos personagens principais, sem deixar de dar espaço para os tipos periféricos que realmente fazem a diferença no produto final, o clima continuasse “revigorado”, como nas primeiras temporadas. Afinal, entre vivos e mortos não há muito o que se mudar, ou estão vivos, ou estão mortos.

http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2014/07/pe-na-cova-marilia-pera-volta-cena-e.html