Foi de emocionar e de lavar a alma do público
carente por histórias bem escritas, interpretadas com a entrega e o talento que
só grandes atores conseguem mostrar e uma competência ímpar de toda uma equipe
envolvida na produção, caracterização, cenografia, iluminação e direção geral o
capítulo dessa quarta-feira (21) que marcou a mudança de fase de “Além do Tempo”,
novela das seis da Rede Globo. É bem verdade que nesses três meses no ar, a
trama escrita por Elizabeth Jhin e pertencente ao núcleo do diretor Rogério
Gomes, o Papinha, sempre mostrou uma qualidade ímpar em todos os quesitos que
envolvem uma excelente história de época.
E foi de forma magistral que a história se despediu
do século XIX para voltar agora com os mesmos personagens reencarnados nos dias
atuais. É até difícil destacar um ou outro ator na defesa de seus personagens,
já que todos foram responsáveis pelo conjunto de uma obra primorosa. Mas é
impossível não citar Irene Ravache que, sem dúvida alguma, com sua
interpretação irretocável foi a luz que se se irradiou e ajudou a fazer brilhar
as demais tramas paralelas. A cena em que sua Condessa Vitória, tendo como
única companhia sua fiel escudeira Zilda, encarnada pela também excepcional
Nívea Maria, apaga a vela e a noite se faz em todo o casarão foi de uma
delicadeza e de uma profundidade dignas do desfecho de grandes clássicos da
teledramaturgia.
Já no penhasco, Rafael Cardoso (Conde Felipe),
Alinne Moraes (Lívia), Paolla Oliveira (Melissa) e Emílio Dantas (Pedro)
viveram um momento épico em suas carreiras na sequência derradeira que resulta
nas mortes de Felipe e Lívia, em que Pedro, após assassinar Melissa, movido
pelo ódio ao vê-la lançar sua amada no abismo, mas que não soube se redimir ao
ter a oportunidade de salvar Lívia, pois para isso teria que antes ajudar seu
rival. Cego de ciúmes, Pedro acabou sendo o maior responsável pela tragédia
final.
O texto de encerramento dessa primeira fase, dito
através dos pensamentos de Felipe e Lívia enquanto morrem abraçados no fundo do
mar é de uma profundidade ainda maior, quando Lívia pede ao amado que reze com
ela: “Tem que ter fé!”, diz ela. E o Conde questiona como Ele pode brincar com
os sentimentos humanos: “Que Deus é esse que parece se divertir, que permite
que os que se amam se separem? Como você que eu amava, que eu nunca deixei de
amar”. A plasticidade dessa última cena ganhou um impacto maior pela trilha
sonora escolhida, a música “Together”, da banda The XX.
E o corte para 2015 não
poderia ser em um lugar mais significativo que mostrasse a velocidade dos
tempos modernos: uma estação do metrô onde, sem se conhecerem, Felipe e Lívia
passam um pelo outro, trocam olhares e, por causa de um esbarrão de Ariel, os
dois não tomam o mesmo vagão. Vale lembrar que há 150 anos Felipe e Lívia
tiveram seu primeiro encontro quando a charrete em que ela estava, conduzida pelo
mesmo “anjo” vivido por Michel Melamed, quebrou e quem ajudou no conserto foi o
Conde, que passava por ali por acaso, a cavalo.
Mais "Além do Tempo" em:
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