terça-feira, 13 de agosto de 2013

“Amor à Vida”: Autor repete na própria novela tramas iguais de situações vistas há décadas nos folhetins de um homem tendo mais de uma mulher ao mesmo tempo



Não bastasse copiar situações já vistas e revistas em outros folhetins, “Amor à Vida”, novela das nove da Rede Globo, agora está repetindo tramas iguais dentro de sua própria história. Simultaneamente, tanto o personagem de Caio Castro, Michel, quanto o de Luís Mello, Atílio, que quando perde a memória passa a se chamar Gentil, estão divididos entre duas mulheres. E querem continuar mantendo o relacionamento com ambas.

 No caso de Atílio, a bigamia aconteceu por acaso, quando ele perdeu a memória num acidente de carro em que estava acompanhado da esposa, Vega (Christiane Tricerri), fugiu do hospital e acabou indo parar no bairro onde mora Márcia (Elizabeth Savalla). Desmemoriado, o administrador, que passou a usar o nome de Gentil, logo se apaixonou pela vendedora de hot dog, com quem chegou a se casar. Só que, mesmo após recuperar a memória e voltar para a mulher oficial, não consegue se desligar de Márcia. E afirma que quer ficar com as duas.

Já Michel, que sempre fez a linha garanhão, está alternando intencionalmente o relacionamento com a ficante que virou namorada e a ex-mulher. Bancando o sedutor, o médico se envolveu com Patrícia (Maria Casedavall), que trabalha na administração do San Magno, mas logo ela descobriu que ele era casado, apesar de viver separado de Sílvia (Carol Castro), advogada que também circula pelo mesmo hospital. E, para fazer ciúmes para Patrícia, ele ensaia uma reconciliação com a esposa, mas não desgruda da ex-namorada.

O pior é a forma como essas mulheres são retratadas pelo autor Walcyr Carrasco, já que, mesmo sabendo que estão sendo traídas, Patrícia e Sílvia vivem se alfinetando, numa clara disputa pelo jovem médico. Enquanto Vega e Márcia, que descobrirão a bigamia de Atílio/Gentil nos próximos capítulos, também vão se engalfinhar por causa do administrador do hospital. É muita falta de autoestima e de amor próprio.

Há 26 anos, em “Brega & Chique”, o personagem de Jorge Dória, Herbert, tinha duas mulheres, Rosemary (Glória Menezes) e Rafaela (Marília Pêra), e uma família com cada uma delas. Silvio de Abreu já usou esse mesmo tipo de trama em duas novelas de sua autoria: em “A Próxima Vítima”, de 1995, o italiano Marcello vivido por José Wilker, se dividia entre Francesca (Tereza Rachel) e Ana (Susana Vieira); e mais recentemente, em “Passione” (2010), outro italiano, Berilo, interpretado por Bruno Gagliasso, praticou a bigamia ao se casar na Itália com Agostina (Leandra Leal) e no Brasil com Jéssica (Gabriela Duarte). O problema nem é essa história de bigamia não ser novidade, mas a falta de criatividade dos autores para tratarem do tema.

É claro que vale reconhecer que mostrar com tal liberdade esse tipo de situação, que acontece, sim, na vida real, acaba sendo um sinal dos tempos. Só para lembrar, nos anos 70, Janete Clair foi alvo da censura do período da ditadura quando escreveu “Selva de Pedra”, que foi ao ar na Globo em 1972, porque Cristiano, o protagonista vivido por Francisco Cuoco, acreditando que sua mulher, Simone (Regina Duarte), tinha morrido em um acidente, decide se casar com a ricaça Fernanda (Dina Sfat). A união, no entanto, não foi oficializada em cena: a autora teve que mudar a história, pois os censores na época entenderam que esse segundo casamento configurava bigamia. No fim, a cena de Fernanda sendo abandonada no altar acabou se tornando um dos grandes momentos da teledramaturgia. Coisas que só a criatividade e originalidade de Janete Clair conseguiam.


Mais "Amor à Vida" em:
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