Quem assistiu à apresentação especial de “Conversa
Com Bial” na segunda-feira (1), deve ter se precavido de cair na tentação de
fazer uma avaliação precipitada logo após a estreia do programa na noite
seguinte. É um talk-show semelhante a tantos outros? Sim. Mas traz também
elementos e movimentos novos. Logo na primeira semana mostrou que o formato não
está engessado, que as entrevistas podem ser feitas dentro ou fora do estúdio,
que o apresentador Pedro Bial pode estar atrás da bancada ou sentado no mesmo
sofá dos convidados, que pode ter ou não músicos fazendo o som incidental no
palco. E mostra também um Pedro Bial mais uma vez se reinventando. Mesmo após
15 anos apresentando 16 edições do “Big Brother Brasil” e sofrendo todo tipo de
crítica por isso, Bial não perde a verve jornalística, sabe não apenas
perguntar como também ouvir a resposta do entrevistado. O que faz toda a
diferença.
A escolha diversificada de convidados para a semana
inaugural foi acertada. A primeira entrevista foi com a ministra Carmen Lúcia,
presidente do Supremo Tribunal Federal, que foi ao ar justamente no dia em que
o STF concedeu habeas corpus para o ex-ministro José Dirceu cumprir prisão
domiciliar. Coincidente ou intencionalmente, já que existe uma frente de entrevista
gravadas e prontas para serem exibidas, a pauta foi providencial e a
informalidade da conversa, que contou ainda com a participação da atriz
Fernanda Torres, caiu bem para uma estreia.
Na segunda noite, como era de se esperar, Rita Lee
lavou a alma com aquela irreverência que o tempo tratou de adoçar, mas sem
perder a postura rock’n’roll. Na terceira, a história da ex-ginasta Laís Souza,
que perdeu os movimentos após sofrer um acidente durante treinos de esqui aéreo,
foi tratada sem drama, e a presença do cientista Miguel Nicolelis, um dos 20
mais influentes do mundo, enriqueceu a conversa que foi de superação emocional
a ciência e tecnologia. Na quarta noite, sexta-feira (5), Bial encerrou a
primeira semana com uma reportagem especial feita com o ex-presidente do
Uruguai Pepe Mujica. A entrevista, gravada no rancho onde o político mora, foi exibida
no telão e comentada pelo apresentador junto com dois convidados no estúdio: a correspondente
internacional Adriana Carranca e o escritor e músico Vitor Ramil, que é filho
de uruguaio e já morou em Montevidéu.
Sem entrar no mérito sobre posicionamentos políticos, religiosos ou filosóficos dos convidados, o que vale é Bial saber manter sua função de repórter. Algo que alguns jornalistas esquecem quando se sentem “promovidos” ao posto de apresentador. E deixar que o telespectador faça seu próprio juízo de valor a respeito das opiniões manifestadas. É um programa que se diferencia apenas por investir mais no talk do que no show.
Mais Pedro Bial em:
https://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2014/07/na-moral-insistindo-na-vontade-de.html