quinta-feira, 3 de setembro de 2015

“A Regra do Jogo”: Cenas de ação bem feitas, mas excesso de dramas, cenografia e iluminação sombrias criam clima depressivo


João Emanuel Carneiro, autor de “A Regra do Jogo”, novela das nove da Rede Globo que estreou nessa segunda-feira (31), mais uma vez tem um excelente argumento nas mãos: uma história que brinca com uma dualidade camuflada na personalidade de alguns de seus personagens, deixando pairar no ar a possibilidade de que vilões sejam mocinhos, e vice-versa. Resta saber se conseguirá equilibrar todos os elementos que entram nesse jogo e que realmente ditam as regras para se obter um resultado que atenda os reais interesses e expectativas do público.

Brincar com a dualidade é um recurso já usado pelo autor em sua estreia no horário nobre da emissora através das protagonistas de “A Favorita” e depois mostrado de forma mais aberta ao público, mas também deixando interrogações no ar em “Avenida Brasil”. Como o próprio João Emanuel já definiu, “A Regra do Jogo” tem como espinha dorsal a história de Romero, interpretado por Alexandre Nero, um homem que finge ser um herói do povo, mas que, na verdade, é o verdadeiro algoz daqueles que o rodeiam. Já deu para perceber que ele é o principal elo entre os núcleos da Zona Sul carioca e da “fictícia” favela chamada Morro da Macaca. Fictícia entre aspas porque na vida real existe, sim, uma favela chamada Morro do Macaco em Vila Izabel, Zona Norte do Rio de Janeiro.

O primeiro capítulo não chegou a ser aquele “grande evento” prometido por João Emanuel, a não ser pela sequência final do assalto a um banco, claramente inspirada em filmes de ação de cinema. Foi muito bem feita e poderia ser mais bem explorada se tivesse sido interrompida e deixado o famoso gancho para o capítulo seguinte. O acontecimento terminou rapidamente, enquanto diálogos de cenas anteriores se arrastaram sem necessidade. Já o segundo e terceiro capítulos foram dominados pelo drama. Palmas para Cássia Kis, uma atriz que é quase um kamikaze na defesa de suas personagens e não se cansa de se tornar hour concour no quesito melhor em cena com sua sofrida Djanira, não à toa a mãe de Romero.

Mas, mesmo assim, é muito drama em tão pouco tempo no ar. Além do problema de saúde de Djanira, os destaques também ficaram por conta da esclerose múltipla de seu filho, Romero, e a bipolaridade de Nelita (Bárbara Paz), filha da calma movida a calmantes Nora (Renata Sorrah), casada com o milionário descontrolado Gibson (José de Abreu). Ou seja, é muita gente doente física e mentalmente reunida em uma novela só.

Para tentar amenizar, tem Susana Vieira que vem “botando a cara no sol” como Adisabeba, dona da boate mais bombada da favela. Que a atriz tem tudo para dominar a cena é notório, basta saber se realmente terá espaço para isso. Por enquanto, está faltando mais alegria a sua personagem. Parece que a aposta do autor e da direção no humor está sendo concentrada mesmo em Atena, a golpista interpretada por Giovanna Antonelli. Muito clipe, muita trilha sonora, muitas caras e bocas da atriz, mas, graça que é bom, nada. Pelo contrário, está tendo muito exagero, uma boca aberta fingindo um sorriso forçado que irrita de tão repetitivo, coraçãozinho com as mãos e tantos outros nhenhenhém criados pela atriz para criar modismos. Seja lá em quem ela se inspirou, deve ser um porre conviver com essa pessoa.

E, plasticamente, a novela é triste. Nem parece ambientada em cenários cariocas. Falta cor, falta luz, falta vida em qualquer um dos núcleos. Como avaliar a iluminação de uma fotografia que parece feita no negativo? Não sei se é resultado dessas tais “câmaras ocultas” à lá Big Brother que tira a qualidade ou se há uma intencionalidade em criar uma atmosfera diferente. Só que, se for isso, está mais para um passo atrás a tudo que já foi conquistado em termos de qualidade avançada em imagens.

Realmente, o autor tem uma sinopse excelente em mãos. Mas a realização deve corresponder e não perder elementos que são fundamentais a qualquer folhetim. Muita invenção pode corresponder a uma reação não muito favorável. É preciso ter cuidado ao tratar de temas que envolvam doenças físicas ou mentais. O público que ver atores atuando, quer se identificar com as histórias, sim, mas não se deprimir toda noite. Os dias já estão pesados demais na vida real.


Sobre o fim de "Babilônia" leia em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2015/08/babilonia-constrangedor-final-nao.html