João Emanuel Carneiro, autor de “A Regra do Jogo”,
novela das nove da Rede Globo que estreou nessa segunda-feira (31), mais uma
vez tem um excelente argumento nas mãos: uma história que brinca com uma dualidade
camuflada na personalidade de alguns de seus personagens, deixando pairar no ar
a possibilidade de que vilões sejam mocinhos, e vice-versa. Resta saber se
conseguirá equilibrar todos os elementos que entram nesse jogo e que realmente
ditam as regras para se obter um resultado que atenda os reais interesses e
expectativas do público.
Brincar com a dualidade é um recurso já usado pelo
autor em sua estreia no horário nobre da emissora através das protagonistas de “A
Favorita” e depois mostrado de forma mais aberta ao público, mas também
deixando interrogações no ar em “Avenida Brasil”. Como o próprio João Emanuel
já definiu, “A Regra do Jogo” tem como espinha dorsal a história de Romero,
interpretado por Alexandre Nero, um homem que finge ser um herói do povo, mas
que, na verdade, é o verdadeiro algoz daqueles que o rodeiam. Já deu para
perceber que ele é o principal elo entre os núcleos da Zona Sul carioca e da “fictícia”
favela chamada Morro da Macaca. Fictícia entre aspas porque na vida real
existe, sim, uma favela chamada Morro do Macaco em Vila Izabel, Zona Norte do
Rio de Janeiro.
O primeiro capítulo não chegou a ser aquele “grande
evento” prometido por João Emanuel, a não ser pela sequência final do assalto a
um banco, claramente inspirada em filmes de ação de cinema. Foi muito bem feita
e poderia ser mais bem explorada se tivesse sido interrompida e deixado o
famoso gancho para o capítulo seguinte. O acontecimento terminou rapidamente,
enquanto diálogos de cenas anteriores se arrastaram sem necessidade. Já o
segundo e terceiro capítulos foram dominados pelo drama. Palmas para Cássia Kis,
uma atriz que é quase um kamikaze na defesa de suas personagens e não se cansa
de se tornar hour concour no quesito melhor em cena com sua sofrida Djanira,
não à toa a mãe de Romero.
Mas, mesmo assim, é muito drama em tão pouco tempo
no ar. Além do problema de saúde de Djanira, os destaques também ficaram por
conta da esclerose múltipla de seu filho, Romero, e a bipolaridade de Nelita
(Bárbara Paz), filha da calma movida a calmantes Nora (Renata Sorrah), casada
com o milionário descontrolado Gibson (José de Abreu). Ou seja, é muita gente
doente física e mentalmente reunida em uma novela só.
Para tentar amenizar, tem Susana Vieira que vem “botando
a cara no sol” como Adisabeba, dona da boate mais bombada da favela. Que a
atriz tem tudo para dominar a cena é notório, basta saber se realmente terá
espaço para isso. Por enquanto, está faltando mais alegria a sua personagem. Parece
que a aposta do autor e da direção no humor está sendo concentrada mesmo em
Atena, a golpista interpretada por Giovanna Antonelli. Muito clipe, muita
trilha sonora, muitas caras e bocas da atriz, mas, graça que é bom, nada. Pelo
contrário, está tendo muito exagero, uma boca aberta fingindo um sorriso
forçado que irrita de tão repetitivo, coraçãozinho com as mãos e tantos outros nhenhenhém
criados pela atriz para criar modismos. Seja lá em quem ela se inspirou, deve
ser um porre conviver com essa pessoa.
E, plasticamente, a novela é triste. Nem parece
ambientada em cenários cariocas. Falta cor, falta luz, falta vida em qualquer
um dos núcleos. Como avaliar a iluminação de uma fotografia que parece feita no
negativo? Não sei se é resultado dessas tais “câmaras ocultas” à lá Big Brother
que tira a qualidade ou se há uma intencionalidade em criar uma atmosfera
diferente. Só que, se for isso, está mais para um passo atrás a tudo que já foi
conquistado em termos de qualidade avançada em imagens.
Sobre o fim de "Babilônia" leia em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2015/08/babilonia-constrangedor-final-nao.html