Assim como incomodou o autor Gilberto Braga quando
superava a audiência de “Babilônia”, agora “I Love Paraisópolis”, novela das
sete da Rede Globo, repete o feito superando por várias vezes consecutivas o
ibope de “A Regra do Jogo”, a nova trama do horário nobre da emissora, de João
Emanuel Carneiro, em sua segunda semana no ar. Então, é bobagem usar como justificativa
para a queda de audiência de qualquer novela o crescimento da internet, a TV
por assinatura e outras tantas desculpas que também já estão para lá de
ultrapassadas. Ou será que apenas a trama das sete está imune a essas tantas
outras formas de concorrência?
Essa “imunidade” talvez se explique pelo fato de “I
Love Paraisópolis”, escrita por Alcides Nogueira e Mário Teixeira, ter
praticamente os mesmos elementos explorados nas tramas do horário nobre, porém
tratados de uma forma mais leve, mais acessível e, por que não dizer, mais
digerível. Estão lá a favela, os bandidos, as traições, as falcatruas, assim
como também estão os dramas - alguns sérios, como é o caso do Alzheimer da
personagem de Nicette Bruno - os romances, as relações familiares e de
amizades, que variam de brigas a afagos que só valorizam cenas típicas do
cotidiano, traduzidas também através de diálogos inteligentes e perspicazes, simples
e nem por isso rasos.
Até mesmo o “tom acima” que Letícia Spiller dá a sua
Soraia, que se justifica pelo perfil melodramático e vulnerável ao extremo da
personagem, não chega a ser algo que incomode muito, pelo fato de não ter
gestuais ou tiques desnecessariamente repetitivos. Até mesmo Tatá Werneck soube
“baixar a bola” ao perceber que sua Pandora não era o umbigo da história e logo
aprendeu a coloca-la na sua devida casinha e a respeitar o quadrado dos demais
personagens. Contribui ainda para o bom resultado as direções geral e de arte e
a iluminação corretas e autores que escrevem para todos terem seu momento de
destaque em algum momento da trama, não privilegiando determinados atores,
mesmo contando com a participação especialíssima de Lima Duarte no elenco.
No
mais, as tramas continuam se desenrolando, apresentando situações sempre novas
nas quais problemas vão surgindo e sendo solucionados de forma rápida, sem se
perder nas famosas e tediosas “barrigas”. Nem mesmo o improvável quadrilátero
amoroso formado por Grego (Caio Castro), Marizete (Bruna Marquezine), Margot
(Maria Casedavall) e Benjamin (Maurício Destri) caiu na mesmice e vem tendo situações inusitadas para mostrar as idas e
vindas necessárias entre os casais para tentar criar suspense sobre quem fica
com quem. Tem até Margot grávida de Ben, que está noivo de Marizete, sendo paparicada por Greco...
Fato é que “I Love
Paraisópolis” completou nessa sexta-feira (11) quatro meses no ar, ultrapassou
seu capítulo de número 100, ou seja, já se aproxima da previsão inicial de se
encerrar no 154, sem causar estardalhaço nem “bombar” nas redes sociais, mas está
cumprindo a missão fundamental de uma novela: conquistar o grande público. E
conquistar o grande público, nesse caso, significa ter audiência. Qualquer
outro produto que seja considerado mais refinado e que pode se dar ao luxo de
ser exibido em qualquer horário até mesmo ingrato pode se vangloriar de não
atingir o grande público, mas ser considerado de qualidade. Esse tipo de
orgulho pode até parecer plausível diante de minisséries, seriados, casos
especiais, não é tolerável, no entanto, quando se trata do gênero telenovela.
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