quarta-feira, 21 de setembro de 2016

“Supermax”: Proposta de fazer reality show dentro da ficção é bem executada, mas ganharia se não tivesse no elenco atores no ar em outras produções simultaneamente


Para os aficionados em suspense e terror, “Supermax”, que estreou nessa terça-feira (20), é uma série bem realizada pela Rede Globo em termos de produção e direção. O nível de qualidade não chega a atingir padrões internacionais, mas trata-se de um projeto ousado que representa bem o gênero na televisão brasileira. A assinatura de José Alvarenga Jr. na criação e concepção, ao lado de Marçal Aquino e Fernando Bonassi, já é garantia de uma inovação pesquisada e construída em bases confiáveis.

Pode ser boa a ideia de replicar um reality show dentro de uma série ficcional, mas não é fácil de executar já que o desafio maior está em incutir no público a sensação de vida real, quando na verdade trata-se de uma história interpretada por atores. E, para complicar ainda mais, alguns deles simultaneamente no ar em outras obras da emissora, como Cleo Pires e Mariana Ximenes, que também integram o elenco da novela das sete “Haja Coração”.

Para tentar confundir, o primeiro episódio conta com a participação do jornalista Pedro Bial na mesma função que exerceu nos últimos 16 anos como apresentador do “Big Brother Brasil”. Através de um monitor, tal qual no “BBB”, ele explica as regras do jogo para os sete homens e cinco mulheres que viverão três meses de confinamento em um presídio de segurança máxima desativado no meio de uma floresta, concorrendo a um prêmio de R$ 2 milhões. Os 12 foram selecionados por terem em comum o fato de já terem cometido um assassinato. Só que um não sabe do crime cometido pelo outro, o que acirra a desconfiança entre todos.

O problema é que a maioria dos participantes são figuras conhecidas. Além de Cleo Pires (Sabrina, psicóloga) e Mariana Ximenes (Bruna, enfermeira), estão no elenco Erom Cordeiro (Sérgio, ex-policial), Bruno Belarmino (Luisão, ex-lutador de MMA), Nicolas Trevijano (padre Nando), Ademir Emboava (José Augusto, assessor político), Maria Clara Spinelli (Janette, dona de salão de beleza), Rui Ricardo Diaz (Artur, ex-craque de futebol), Fabiana Gugli (Diana, ex-garota de programa), Mário César Camargo (Timóteo, médico reformado do Exército), Vania de Brito (Cecília, ex-socialite) e Ravel Andrade (Dante, jovem adepto a seitas satânicas).

Como a Globo já disponibilizou para assinantes na internet 11 dos 12 episódios, percebe-se logo nos quatro da primeira semana indícios sutis que podem levar às mais variadas conclusões sobre o que pode realmente ser esse reality dentro da ficção. Será que realmente trata-se de um show dentro de outro? Ou todos esses personagens foram levados para esse lugar como cobaias de alguma espécie de experimento científico ou psicológico, achando que estão em um jogo disputando um prêmio? Faz lembrar até o livro “Paciente 67”, de Dennis Lehane, em que é questionado o quanto de dor o cérebro humano pode suportar e até onde ele consegue ir antes que a demência supere a lucidez.

O roteiro de “Supermax” parece algumas vezes confuso ou desencontrado. Talvez por serem poucos episódios escritos por muitos autores. São oito: Bráulio Mantovani, Fernando Bonassi, Raphael Montes, Carolina Kotscho, Marçal Aquino, Dennison Ramalho, Juliana Rojas e Raphael Draccon. Mas a direção artística compensa traduzindo a textura sombria pedida no texto através de elementos como cenografia, fotografia, iluminação e trilha sonora. Sem dúvida, é uma aposta tanto ousada quanto arriscada. Mas arriscaria bem mais se no elenco fossem lançados atores desconhecidos ou que fossem, no mínimo, menos conhecidos do grande público.


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