Das cenas dramáticas mostradas até agora em “Justiça”,
a do beijo entre Elisa (Débora Bloch) e Vicente (Jesuíta Barbosa) no final do
episódio dessa segunda-feira (12) talvez tenha sido a que tocou mais fundo por
provocar um misto de indignação e reflexão. É sabido desde a estreia da
série da Rede Globo, há três semanas, que cada uma das quatro histórias
contadas de forma intercalada tem a nítida intenção de levar o telespectador a se
questionar sobre como agiria se estivesse na pele de cada personagem. Mas mostrar
a mãe beijando o assassino de sua própria filha foi uma ousadia da autora
Manuela Dias, que desafiou o emocional e o psicológico de qualquer
telespectador.
Mesmo que o envolvimento entre Elisa e Vicente já viesse sendo ensaiado, o “fato consumado” causou impacto. Contrastou com a cena impactante
do primeiro episódio em que a professora de Direito apareceu em absoluto
desespero agarrada ao corpo ensanguentado de Isabela (Marina Ruy Barbosa), morta
a tiros pelo noivo no box do banheiro, onde ela o estava traindo com outro. Como
a mãe, que durante sete anos se preparou para matar aquele que tirou a vida de
sua filha quando este saísse da cadeia, pode agora se entregar a esse mesmo
homem?
Estará Alice sofrendo de uma espécie de Síndrome de
Estocolmo, em que a vítima se apaixona por seu algoz? Ou ela, sentindo-se
incapaz de realmente matar Vicente, mudou os meios usados para atingir sua
vingança? Na história protagonizada por Cauã Reymond, seu personagem, Maurício,
também desistiu de matar o homem que atropelou sua mulher e resolveu fazê-lo
sofrer em vida. No entanto, as circunstâncias que envolvem um crime e outro são
bem diversas. E as tentativas de buscar atenuantes para o caso de Elisa, como
mostrar em flashbacks que Isabela não era a filha ideal nem a mocinha perfeita,
podem ser apenas armadilhas para despistar a passionalidade que o cerca.
Talvez aí esteja mais um ponto instigante dessa série: independentemente do desfecho que será dado pela autora da história, a avaliação pessoal de qual é o crime pior e até que ponto todos são culpados e/ou inocentes vai continuar dependendo do ponto de vista ou das próprias experiências de cada um.
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