terça-feira, 20 de setembro de 2016

“Malhação – Pro Dia Nascer Feliz”: Em um mês no ar, história mantém a maturidade de temporadas anteriores, mas ainda não apresentou nenhuma trama impactante


Já deixou de ser novidade que a cada nova temporada “Malhação” vai se distanciando cada vez mais daquele título de soap opera ou “novelinha” da Rede Globo que começou lá nos anos 90, quando tudo se passava em uma academia onde as tramas principais envolviam questões romanticamente triviais de adolescentes sarados e bem nascidos. Portanto não é de estranhar que “Pro Dia Nascer Feliz”, subtítulo da fase atual que está no ar há um mês, escrita por Emanuel Jacobina, um dos criadores da série, mantenha a linha adotada nos últimos anos de trazer cada vez mais temas adultos para o centro das discussões. E que estes não envolvam apenas o núcleo familiar como todo um universo de mudanças e transformações sociais que influenciam na vida e no comportamento de pessoas de todas as gerações nos tempos modernos.

Entre outras questões, está lá o dilema de pais ou mães que enfrentam o dilema de criar os filhos sem a presença de seus parceiros. Como acontece com Tânia, personagem de Deborah Secco, que, abandonada pelo marido, precisa batalhar para sustentar um casal de filhos sozinha. E Ricardo, o ex-atleta, viúvo e dono de uma academia vivido por Marcos Pasquim, que, apesar de uma situação financeira confortável, não sabe lidar muito bem com a forma de educar suas três filhas. É fácil prever que em breve os dois se aproximarão e o tema da família não tradicional voltará a ser foco de discussão.

Aliás, um dos estigmas que “Malhação” já deveria ter perdido é o de ser “um celeiro de calouros”. Há muito tempo o elenco equilibra nomes já consagrados com outros em início de carreira e alguns estreantes. Não há motivo para se estranhar ver Deborah Secco e Marcos Pasquim fazendo o casal de protagonistas na atual temporada. Assim como é irrelevante insistir o tempo todo em dar a eles e outros atores a alcunha de “veteranos”. Sílvia Pfeifer, Lilia Cabral, Maitê Proença e Letícia Spiller são apenas alguns nomes femininos que também estrelaram temporadas anteriores. Enquanto a ala masculina já contou com Marcello Novaes, Tartu Gabus, Paulo Betti e Giuseppe Oristânio, entre outros. Ou seja, todo elenco de qualquer novela é composto por nomes muito conhecidos, pouco conhecidos e lançamentos.

A novidade pretendida dessa vez realmente ficou por conta de anunciar Aline Dias como a primeira protagonista negra de “Malhação” desde sua criação, há 21 anos. A atriz interpreta Joana, uma moça humilde do Nordeste, órfã de mãe e criada pela avó e o padrasto, que vai para o Rio de Janeiro tentar descobrir quem é seu pai biológico. O rótulo, no entanto, já ficou déjà-vu em novelas e nem ao menos tem grande peso no contexto geral da trama. Pelo menos até agora, Joana tem sido apenas uma menina ingênua e sem mostrar a força esperada de uma heroína corajosa e batalhadora. Pelo contrário, ela é bem aceita por quase todos, a exceção apenas de Bárbara, a filha mais velha de Ricardo, e que, intencionalmente ou não, é a vilã loira da história interpretada por Barbara França. E o preconceito maior da moça rica, como ficou claro na cena que foi ao ar nessa segunda-feira (19), é pelo fato de a garota ser bonita, já ter chamado a atenção de seu namorado e ocupar a função de faxineira da academia. Em nenhum momento houve uma discriminação racial assumida até agora por nenhuma outra personagem em relação a Joana.  

Como está a apenas um mês no ar, resta aguardar que nessa temporada os autores não se privem de ousar, como fizeram na anterior, “Seu Lugar No Mundo”, que abordou de forma simples e competente temas delicados enfrentados pelos jovens como o casal de personagens em que um era soropositivo e o outro não, gravidez resultante de estupro, tráfico de drogas, filhos de pais envolvidos em corrupção e até o caso da jovem que formava um triângulo amoroso com dois amigos, engravidou de um deles e a parceria dos três não foi abalada. E nunca foi feita qualquer referência ao fato de o pai da criança ser negro. Como se vê, há casos em que os rótulos só existem na cabeça de quem os cria.


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