A terceira e a quarta história que fazem parte de “Justiça”,
minissérie da Rede Globo dividida em 20 capítulos, só vieram dar continuidade à
sequência de conflitos impactantes, como os mostrados nos dois primeiros
episódios, instigando o público a refletir diante de situações controversas
sobre o que é justo ou injusto do
ponto de vista de cada um. Desses dois dramas que foram ao ar na quinta-feira (29)
e na sexta-feira (30), respectivamente, o último foi o mais
impactante e comovente. Não que Jéssica Ellen e Luíza Arraes, protagonistas do
primeiro, não tenham desempenhado bem seus papéis, mas porque Cauã Reymond surpreendeu
fazendo uma interpretação comovente como o marido que comete eutanásia na
mulher que tanto ama. Vê-se que não foi por acaso que o personagem do ator foi o
coadjuvante mais ativos nos episódios anteriores.
A terceira história envolve
a dupla de amigas, Rose e Débora, interpretadas por Jéssica e Luísa,
respectivamente. O pontapé é dado com destaque para a questão do racismo,
quando Rose é barrada em um restaurante por ser negra. Débora a defende e deixa
claro: “É a gente que faz a lei sair do papel!”. É mais uma daquelas frases
repetidas no cotidiano por qualquer um de nós, que pontuam o texto de Manuela
Dias, autora da minissérie. Só que, contrariando as leis, na mesma noite as duas
compram drogas em uma rave, e apenas Rose é presa por tráfico. Após sete anos
de cadeia, Rose é solta e ao reencontrar Débora fica sabendo que a amiga foi
violentada e que, devido às sequelas, não poderá ter filhos. As duas decidem
então ir em busca do estuprador.
O destaque desse
episódio, sem dúvida, ficou por conta da excelente interpretação de Teca Pereira
no papel de Zelita, a mãe de Rose, empregada doméstica da casa de Débora que morre
antes da filha sair da prisão. E, como faz parte do formato do programa, as aparições
de personagens presentes nos demais episódios, como Celso (Vladimir Brichta),
dono de um quiosque, que é quem vende as drogas para as meninas na mesma noite
em que serviu cerveja para Vicente (Jesuíta Barbosa), pouco antes dele
assassinar a própria noiva no primeiro episódio e fornece a droga usada para o
crime de eutanásia que será praticada no episódio seguinte.
Depois de Débora Bloch
dar um show como Elisa, a mãe que vê a filha ser assassinada e morrer em seus
braços na estreia da minissérie, foi a vez de Cauã se destacar em um trabalho
que pode ser considerado seu melhor momento na teledramaturgia. Ele vive a história
de Maurício, um contador casado com Beatriz (Marjorie Estiano), uma bailarina
que fica tetraplégica após ser atropelada por um carro na saída do teatro onde
acabou de estrear uma turnê. Ao saber que perdeu para sempre os movimentos do
pescoço para baixo, ela diz ao marido que se não poderá mais dançar, acabou: “Eu
estou aqui e não tenho um corpo”, afirma. Um momento ímpar da atriz também, que
traduz toda a infelicidade da personagem através apenas de expressões faciais.
Consumado o fato, Maurício é preso no próprio hospital e, sete anos depois, sai
do presídio com a ideia fixa de matar Antenor (Antônio Calloni), o homem que
atropelou Beatriz, fugiu sem prestar socorro, e agora é candidato a governador
de seu estado.
A primeira fase da minissérie foi cumprida com mérito. A direção artística de José Luiz Vilamarim está irretocável e o elenco em geral fazendo uma entrega visceral a cada personagem. Resta acompanhar os próximos episódios e o veridcto final de cada história. Mas de antemão já pode ser considerado um produto que realmente vem apresentando um padrão de qualidade do qual a emissora pode se orgulhar.
Mais "Justiça" em:
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