quarta-feira, 20 de julho de 2016

“Escrava Mãe”: Atrizes jovens e veteranas se destacam por atuação impecável vivendo personagens que são peças-chave da trama


Há um mês e meio no ar, “Escrava Mãe”, novela das 19h30 da Rede Record, tem mantido uma trajetória linear na qualidade evidenciada desde a estreia, não apenas por manter um ritmo acelerado nos acontecimentos e direção e edição ágeis, como também pela atuação impecável do rol de atrizes escolhidas para viverem personagens que são peças-chave no desenrolar de todas as tramas. Além de uma produção caprichada, o elenco no geral foi muito bem escolhido e a cada capítulo todos os atores parece estarem mais perfeitamente encaixados em seus personagens. O resultado desse contexto reflete uma tendência que vem se fortalecendo entre a maioria dos autores de novela que é a de não manter o ponto alto de qualquer folhetim focado em uma única protagonista.

Mas, voltando a falar sobre a ala feminina de uma história de época em que os homens tinham o poder absoluto, Jussara Freire vem apenas reafirmar sua versatilidade ao esbanjar talento em qualquer tipo de personagem que lhe caia nas mãos. Não está sendo diferente com a histriônica Urraca de Góis Almeida, ou Marquesa de Barangalha, uma mulher completamente fora do eixo, sem limite para a bebida e para a luxúria, obcecada por escravos fortes e aficionada pela nobreza. O rol de defeitos de Urraca, no entanto, ganham um tom irônico e divertido na interpretação da atriz, que sabe não extrapolar e vai exatamente até onde permite o limite do engraçado. Jussara consegue transformar várias cenas solitárias em verdadeiros monólogos que dispensam contraponto. É como se contracenasse com ela mesma.

Luiza Tomé também está sabendo aproveitar sua oportunidade de fazer um retrato bem traçado da dona de bordel que tem os coronéis na palma da mão. Como já é tradicional no perfil desse tipo de personagem, Rosalinda Pavão é aquela mulher esfuziante que esconde uma ferida do passado mal cicatrizada. No caso, uma filha recém-nascida que ela abandonou da Roda dos Enjeitados. Mas ela sabe disfarçar seus traumas. E Luísa faz com Jussara uma boa dobradinha nos embates entre Rosalinda e Urraca. Assim como Bete Coelho encontra em Beatrice, uma mulher que oscila entre realizar um amor adormecido ou se manter como a matriarca tradicional, uma forma de surpreender com sua interpretação ora contida ora impetuosa.

Thaís Fersoza, por sua vez, deixa de apenas perambular pelo entorno como a boazinha ou a mazinha e assume com segurança o posto de maior vilã da história. Sua personagem, Maria Izabel, a filha mais velha de um poderoso coronel, já assassinou o próprio pai a sangue frio, teve um filho bastardo em meio a um acampamento cigano, e não mede as consequências para se tornar a toda poderosa dona das propriedades e de toda a herança da família. Thaís encontrou o tom certo da personagem. E Lidi Lisboa também está sabendo aproveitar a chance de se destacar como a mucama da sinhazinha má. Esméria, a escrava insuportavelmente inescrupulosa, caiu como uma luva na interpretação da atriz.

Já Gabriela Moreyra, no papel da escrava Juliana, tem uma beleza peculiar e fotografa muito bem, mas talvez lhe falte uma direção mais incisiva que realmente extraia da atriz uma entrega visceral e convincente como a personagem-título da novela. Também não ajuda a forma desnecessária e desgastante com que perdem tanto tempo com cenas em que Juliana e seu grande amor senhor Miguel (Pedro Carvalho) sofrem ao som de “Como Vai Você?”. Tudo bem que trata-se de um grande sucesso do início dos anos 70, composto por Antônio Marcos e gravada por Roberto Carlos, mas não haveria a menor necessidade de tocar a música inteira toda vez que os dois apaixonados aparecem, juntos ou separados. Até na trilha sonora as outras personagens femininas ficam na frente.


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