A maior estrela de “Ligações Perigosas”, minissérie
de dez capítulos da Rede Globo que estreou na segunda-feira (4), é a Direção Artística,
que leva a assinatura de Vinícius Coimbra e Denise Saraceni. E aí vão incluídos
figurinos, caracterização, cenografia, iluminação, todos impecáveis tanto no
conjunto quanto nos mínimos detalhes. Mesmo tendo uma história que não traga situações
inéditas, já que é baseada de um clássico francês do século XVIII, também são de
lavar os olhos as locações escolhidas para sua ambientação, entre elas a
Patagônia argentina e a Fortaleza de Santa Cruz da Barra, no Rio de Janeiro. Vale
ressaltar que a trama de Manuela Dias, com supervisão de texto de Duca Rachid, manteve
a verve do clássico “Les Liaisons Dangereuses”, de Chordelos de Laclos,
portanto não traz uma história realmente nova.
É uma minissérie que tem por respaldo muito mais o
trabalho cuidadoso da direção e de uma equipe técnica eficiente de transformar
um romance datado em algo atraente visualmente, porque as tramas giram em torno
de um viés exaustivamente já explorado em muitos folhetins de qualquer época, tanto
na televisão quanto no cinema, como os amantes que vivem de apostas (isso está
no ar até na novela das sete, “Totalmente Demais”), a mãe que entrega a filha
para um homem mais velho e bem-sucedido visando uma ascensão social, a beata que
se refestela na cama do primeiro homem que a faz despertar para a sexualidade,
a mocinha que vai parar num sanatório, ou algo semelhante, após tentar um
suicídio por amor.
É claro que também conta a afinação de um elenco de
primeira linha, que inclui nomes como os de Patrícia Pillar, Selton Mello,
Aracy Balabanian, Marjorie Estiano, Leopoldo Pacheco e Alice Wegmann, entre
outros. Patrícia Pillar, como protagonista soberana no papel de Isabel D’Ávila
de Alencar, a rica, amoral e manipuladora viúva de um Marquês, começou
brilhando de forma sensualmente enigmática. No decorrer dos capítulos, sua
interpretação foi cada vez mais tomando os ares de Flora, a vilã que a atriz
fez na novela “A Favorita”, em 2008, com alguns trejeitos da Ângela Mahler, que
fez no remake de “O Rebu”, em 2014. Mas, na reta final a atriz retomou o brilho inicial próprio da personagem. Enquanto Alice Wegmann
surpreendeu do início ao fim. Após ter ficado tão marcada pela roqueira Lia que fez em “Malhação”
em 2012, a jovem apareceu quase irreconhecível como Cecília, mesmo sendo também
uma menina ousada, só que de época.
Já a presença de Selton Mello em um elenco sempre
cria a expectativa de sucesso, já que o ator atingiu tal nível de excelência
que para ele aceitar um papel é porque o produto é, no mínimo, muito bom. E o bon
vivant e libertino Augusto é mais um personagem que se encaixou como uma luva
no seu estilo. Assim como Marjorie Estiano também foi uma escalação acertada
para dar vida à carola religiosa Mariana, que ganha força na interpretação da
atriz que, com sua voz infantil, dá uma personalidade marcante que não deixa a
personagem ser apenas mais uma mocinha da história.
Não foi à toa que Selton e Marjorie protagonizaram
uma das cenas mais belas da minissérie até aqui, que foi a da noite de amor de
Augusto e Mariana, que foi ao ar na segunda-feira (11). Uma cena de sexo que,
sem nus escancarados, não foi apenas sensual e erótica, mais uma vez direção e
interpretação transmitiram uma sintonia perfeita. Foi como se a câmera tivesse
domínio sobre as preliminares dos personagens, e vice versa.
Mesmo se tratando de
uma história conhecida, vale pela produção, pelas tramas, que estão sendo
tratadas de forma bem articulada, e pela interpretação afinada de todo o
elenco.Mais minisséries em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2013/04/maysa-quando-fala-o-coracao-producao.html