quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

“Ligações Perigosas”: Direção artística caprichada e interpretações afinadas em minissérie valorizam um clássico francês



A maior estrela de “Ligações Perigosas”, minissérie de dez capítulos da Rede Globo que estreou na segunda-feira (4), é a Direção Artística, que leva a assinatura de Vinícius Coimbra e Denise Saraceni. E aí vão incluídos figurinos, caracterização, cenografia, iluminação, todos impecáveis tanto no conjunto quanto nos mínimos detalhes. Mesmo tendo uma história que não traga situações inéditas, já que é baseada de um clássico francês do século XVIII, também são de lavar os olhos as locações escolhidas para sua ambientação, entre elas a Patagônia argentina e a Fortaleza de Santa Cruz da Barra, no Rio de Janeiro. Vale ressaltar que a trama de Manuela Dias, com supervisão de texto de Duca Rachid, manteve a verve do clássico “Les Liaisons Dangereuses”, de Chordelos de Laclos, portanto não traz uma história realmente nova.

É uma minissérie que tem por respaldo muito mais o trabalho cuidadoso da direção e de uma equipe técnica eficiente de transformar um romance datado em algo atraente visualmente, porque as tramas giram em torno de um viés exaustivamente já explorado em muitos folhetins de qualquer época, tanto na televisão quanto no cinema, como os amantes que vivem de apostas (isso está no ar até na novela das sete, “Totalmente Demais”), a mãe que entrega a filha para um homem mais velho e bem-sucedido visando uma ascensão social, a beata que se refestela na cama do primeiro homem que a faz despertar para a sexualidade, a mocinha que vai parar num sanatório, ou algo semelhante, após tentar um suicídio por amor.

É claro que também conta a afinação de um elenco de primeira linha, que inclui nomes como os de Patrícia Pillar, Selton Mello, Aracy Balabanian, Marjorie Estiano, Leopoldo Pacheco e Alice Wegmann, entre outros. Patrícia Pillar, como protagonista soberana no papel de Isabel D’Ávila de Alencar, a rica, amoral e manipuladora viúva de um Marquês, começou brilhando de forma sensualmente enigmática. No decorrer dos capítulos, sua interpretação foi cada vez mais tomando os ares de Flora, a vilã que a atriz fez na novela “A Favorita”, em 2008, com alguns trejeitos da Ângela Mahler, que fez no remake de “O Rebu”, em 2014. Mas, na reta final a atriz retomou o brilho inicial próprio da personagem. Enquanto Alice Wegmann surpreendeu do início ao fim. Após ter ficado tão marcada pela roqueira Lia que fez em “Malhação” em 2012, a jovem apareceu quase irreconhecível como Cecília, mesmo sendo também uma menina ousada, só que de época.

Já a presença de Selton Mello em um elenco sempre cria a expectativa de sucesso, já que o ator atingiu tal nível de excelência que para ele aceitar um papel é porque o produto é, no mínimo, muito bom. E o bon vivant e libertino Augusto é mais um personagem que se encaixou como uma luva no seu estilo. Assim como Marjorie Estiano também foi uma escalação acertada para dar vida à carola religiosa Mariana, que ganha força na interpretação da atriz que, com sua voz infantil, dá uma personalidade marcante que não deixa a personagem ser apenas mais uma mocinha da história.

Não foi à toa que Selton e Marjorie protagonizaram uma das cenas mais belas da minissérie até aqui, que foi a da noite de amor de Augusto e Mariana, que foi ao ar na segunda-feira (11). Uma cena de sexo que, sem nus escancarados, não foi apenas sensual e erótica, mais uma vez direção e interpretação transmitiram uma sintonia perfeita. Foi como se a câmera tivesse domínio sobre as preliminares dos personagens, e vice versa.  
Mesmo se tratando de uma história conhecida, vale pela produção, pelas tramas, que estão sendo tratadas de forma bem articulada, e pela interpretação afinada de todo o elenco.


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