sábado, 16 de janeiro de 2016

“Além do Tempo”: Mensagem no final do último capítulo na voz de Chico Xavier traduz tentativa de resgate da função social das novelas na identidade cultural brasileira

A mensagem na voz de Chico Xavier no encerramento de “Além do Tempo”, novela das seis da Rede Globo, que foi ao ar nessa sexta-feira (15), foi mais do que uma surpresa, conforme havia prometido a autora Elizabeth Jhin: foi um convite a uma reflexão profunda e emocionada. E a resposta para o porquê de ter sido um dos melhores folhetins já produzidos nos últimos tempos está justamente no tratamento excepcional e de entrega total dado por todos os envolvidos nele, desde escritores, diretores, produtores e equipe técnica que está por trás das câmeras, até o próprio elenco, que assumiu com vontade a responsabilidade de representar de forma a tentar tornar real o que aparentemente é ficção.

É claro que, na comparação, o desfecho da primeira fase foi bem mais contundente dramaturgicamente, principalmente por não tentar satisfazer a todos, já que havia a perspectiva de uma nova chance para todos na segunda fase. E é aí que o todo da história mexe com a visão de cada um sobre a realidade ficcional dos fatos.

Já no último capítulo decisivo não faltaram ingredientes recorrentes em folhetins, como a punição de alguns maus e a redenção de outros, o prêmio da felicidade para os bons e as tradicionais cenas de casamentos. Não faltou nem mesmo a festa reunindo todo o elenco. Só que, dessa vez, eram os personagens que estavam confraternizando, e não os atores da vida real brincando apenas para subir os créditos como costuma acontecer em outras novelas. Foi bonito também o carinho que tiveram ao mostrar uma imagem de Bianca, a personagem de Flora Diegues, atriz que teve que se afastar das gravações para se recuperar de um problema de saúde.

Sem entrar na discussão do viés da espiritualidade, o texto final de “Além do Tempo” parece resgatar a tal função social tão alardeada há anos, quando se exaltava que as novelas faziam parte de uma identidade cultural televisiva dos brasileiros, já que até quem não assiste discute sobre elas com propriedade. Tomara sirva de reflexão a outros novelistas.

E, concluindo, fora a qualidade do conjunto da obra, é preciso destacar a ousadia em contar uma história iniciada no século passado e, meses depois, levar os mesmos personagens a viverem outra saga reencarnados nos tempos modernos. Guardadas as devidas proporções, esse transpor dos tempos faz lembrar “O Casarão”, novela escrita por Lauro Cézar Muniz em 1976, também na Rede Globo, que narrava a trajetória dos personagens de uma mesma história em três épocas ao mesmo tempo. Foi um marco na sua época. Como “Além do Tempo” deve, ou merece ser na atual.


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http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2016/01/alem-do-tempo-com-trabalho-impecavel.html