segunda-feira, 28 de setembro de 2015

“Verdades Secretas”: Quase duas décadas depois, o autor Walcyr Carrasco se utiliza mais uma vez do nome Angel, agora em uma personagem, em uma grande novela


Há tempos, quando terminava de assistir ao último capítulo de algumas novelas a primeira coisa que me vinha à mente era a frase de um diretor americano de cinema: “Não importa se a uma hora e meia inicial da história for ruim, se a meia hora restante for excelente vai ser considerado bom, ou até ótimo, porque será sobre as cenas finais que o público sairá do cinema comentando”. Em televisão essa teoria cairia por terra e a recíproca não seria verdadeira, nem mesmo tentando um “e vice-versa”, porque o telespectador não precisa trocar de sala se não for logo fisgado pela trama, basta mudar o canal e redirecionar sua audiência. Mas não foi essa frase que me veio à mente nessa sexta-feira (25), após assistir ao último capítulo de “Verdades Secretas”, novela das onze da Rede Globo. Porque, definitivamente, há tempos a telenovela, um dos principais, senão o principal produto da televisão brasileira, carece de histórias que realmente apresentem conteúdos que estejam à altura do grau de exigência do público. E aí não adianta vir com desculpa de horário ingrato, concorrência de TV por assinatura, internet e outras válvulas de escape. Quando o produto é bom, noveleiro compra e consome a qualquer hora, em qualquer lugar.

“Verdades Secretas” não foi um produto que se sobressaiu apenas por ser bom em tempos de carência de outros melhores na faixa nobre da emissora. Simplesmente se sobressaiu por, graças ao autor Walcyr Carrasco, a direção geral de Mauro Mendonça Filho, a um elenco que foi escolhido em algum momento em que o universo conspirou para que fosse o melhor, e à retaguarda de uma equipe que, na soma total, ofereceu aquilo que o público realmente quer ver: drama no limite suportável, sexo no limite aceitável, humor sarcasticamente inteligente, e uma ficção verdadeira, mas pontuada secretamente de uma realidade que mexeu com o imaginário.

Aliada à criação do autor está a direção primorosa de Mauro Mendonça Filho, além do trabalho irrepreensível de figurino, cenografia, iluminação, figurino, maquiagem e caracterização. É inegável a superação de Grazi Massafera que, após algumas tentativas infrutíferas de emplacar como atriz, conseguiu dar a volta por cima e vencer o desafio de interpretar Larissa, uma modelo que faz um voo sem escala da prostituição glamourosa ao mundo decadente das drogas. Mas deve-se destacar também o trabalho impecável realizado pela equipe de caracterização que, com certeza, teve boa parcela de “participação” no sucesso da personagem. Assim como Rainer Cadete, que passou por uma verdadeira transformação após ter feito um médico sério na novela “Amor À Vida”, em 2013, reapareceu irreconhecível e, explorando um lado mais leve por aparentemente dar a ideia de ser mais divertido, teve seu momento único como a “libélula” Visky.

Ainda sobre superações, Camila Queiroz fez sua estreia de atriz já como protagonista, desfilando pelo vídeo com uma segurança como se tivesse tantos anos de televisão quanto tem de passarela. A jovem simplesmente conseguiu seguir à risca a expertise do autor e ludibriar não só os demais personagens da história como também o próprio público até os momentos finais do último capítulo. Foi seu olhar demoníaco, toda pura vestida de noiva, que revelou a “dupla identidade” da Arletinha-Angel, que sempre esteve mais para anjo mau.

Mas, mesmo a novela tendo fechado com chave-de-ouro, ainda acho que o penúltimo capítulo que realmente foi de tirar o fôlego da primeira à última cena. Foi quando os anos de estrada, a experiência e o talento falaram mais alto. Como não se comover ao ver Eva Wilma no papel da alcoólatra dona Fábia agarrada a uma garrafa de whisky na janela de seu quarto numa clínica para idosos, tentando ainda se conformar com o fato de estar viva porque agora tinha a presença de seu “namorado escocês”? E Drica Moraes, no auge do ponto nevrálgico em torno do qual girou toda a história, com sua Carolina, que parece ter sido batizada com esse nome por causa da letra da música de Chico Buarque: “Carolina, nos seus olhos fundos, guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo...”? A atriz deu todas as diretrizes da trama no primeiro capítulo interpretando a mulher que acabava de descobrir a traição de seu primeiro marido, e brilhou no último ao, após descobrir que estava sendo traída novamente, agora pelo novo marido, e, o mais cruel, com a própria filha, assinou o veredicto cometendo o suicídio e desmascarou de vez todos que estavam à sua volta.

Indubitavelmente foi a mente criadora de Walcyr Carrasco que deu o pontapé inicial para que essa fosse uma grande produção. Ele é craque nisso! Ele é o verdadeiro Angel. Não por acaso Walcyr entrou para o universo dos grandes novelistas de forma incógnita, pelas mãos do mestre Walter Avancini, usando o pseudônimo de Adamo Angel para assinar “Xica da Silva”, novela de grande sucesso da extinta Rede Manchete exibida entre 1996 e 1997. Na época, ele não podia usar seu nome verdadeiro porque ainda era contratado do SBT. Ninguém sabia quem era aquele Adamo Angel que tanto estava incomodando a Rede Globo. E agora, quase duas décadas depois, ele se utiliza mais uma vez do nome Angel, para mostrar como se faz novela. Agora na Rede Globo.



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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

“A Fazenda 8”: Nova temporada é mais do mesmo das anteriores, a exceção de Roberto Justus imprimindo seu estilo próprio como novo apresentador do reality rural


A principal novidade na oitava edição de “A Fazenda”, reality rural da Rede Record que estreou nessa quarta-feira (23), foi mesmo a mudança de apresentador: sai Britto Jr., entra Roberto Justus. E o empresário já quis exibir o diferencial no seu estilo em relação ao do jornalista em um vídeo gravado exibido na abertura do programa ao vivo. Em uma versão tupiniquim dos filmes do agente 007, o mesmo mostrou o ex-apresentador de “O Aprendiz” no hangar de um aeroclube da capital paulista, usando terno e gravata e carregando uma pasta preta e embarcando em um helicóptero que o levaria até Itu, interior de São Paulo onde está localizada a sede da Fazenda. Ao desembarcar no meio do campo foi recebido por Clébis, o caseiro da propriedade que chega para buscá-lo dirigindo um trator e logo pergunta se ele vai vestido daquele jeito. Imediatamente, Justus troca de figurino e, de calça jeans, jaqueta e botas de couro, transforma-se em um apresentador do campo. Apesar de parecer ainda se adaptando ao teleprompter, pode-se dizer que está se saindo bem e mostrando que tem mais jogo de cintura para comandar disputas entre equipes. Pelo menos não tem a irritante mania de forçar um suspense desnecessário a todo o momento como fazia seu antecessor na função.

De resto, foi tudo mais do mesmo, começando pela chegada dos participantes chegando um por um na fazenda, tentando criar um clima de surpresa. Bobagem, a maioria dos nomes das subcelebridades já tinha vasado na mídia. O melhor foi a forma como cada um tentou parecer muito merecedor de estar ali. Trazido direto do túnel do tempo, o cantor Ovelha chegou dando uma risada forçada no melhor estilo Atena, personagem de Giovanna Antonelli na novela da Rede Globo “A Regra do Jogo”. Será que foi nele que a atriz realmente se inspirou? Sei não. A cantora e atriz Li Martins foi logo afirmando: “Eu quero mostrar pras pessoas que a gente é de carne e osso!”. Bom, primeiro “as pessoas” vão ter que descobrir primeiro quem é realmente essa “gente”. Ex-Panicat, Ana Paula tentou comover ao dizer, chorando, “ tentando realizar meus sonhos”. Não convenceu. E logo depois dela veio o modelo Marcelo Bimbi afirmando: “Eu sou homem e gosto de mulher!”. Então tá!

Teve outros que Justus fez questão de acrescentar algumas peculiaridades nos créditos das identificações de cada um. Como o caso do ator e cantor Douglas Sampaio, que o apresentador tentou refrescar a memória do público dizendo que ele era um ex-“Malhação”, referindo-se à novela da concorrente, e da ex-miss e modelo Rayanne Moraes, que ganhou do apresentador um reforço no título: “ex-mulher do Latino”. Resta saber se ajudou ou atrapalhou a vida dela. Na lista de “famosos” estão ainda a dançarina Carla Prata; o ex-jogador de futebol Amaral; a cantora Quelynah; a modelo Veridiana Freitas; a ex-nadadora Rebeca Gusmão; o modelo e apresentador João Paulo Mantovani; o músico gaúcho Edu K., que chegou se apresentando para os demais peões, com medo de não ser conhecido de ninguém ali.

Tem ainda a cantora e apresentadora Mara Maravilha, que veio com a clara intenção de causar e já começou a implicar abertamente com Thiago Servo, o cantor sertanejo que chegou na fazenda com olhos sonolentos garantindo que já ficou até três noites sem dormir, mas não sai da cama, o que irrita a baiana. E, por fim, o último a entrar, já com o programa em andamento, o ator Luka Ribeiro, que estava em stand-by para substituir algum convidado que não pudesse entrar. No caso, o impedido foi o ex-Polegar Rafael Ilha, que está respondendo a processo e não foi liberado pela Justiça.

Em relação a mudanças na casa, percebe-se que a decoração está menos rústica, embora a disposição dos ambientes continue sendo a mesma. E, pelo que se viu no segundo programa, nessa quinta-feira (24), quando aconteceu a primeira Prova da Chave, deu para prever que os desafios continuam criativos. Assim como os castigos, que continuam sendo verdadeiros testes de sobrevivência, como foi o caso de colocar três peões dormindo a semana inteira em uma baia ao lado dos cavalos. Mas é a partir de agora, que já acabou o clima de festa inaugural e todos começam a pegar no pesado, cuidando dos animais, da horta e dos afazeres domésticos que dará para se ter uma noção mais clara se a seleção dos candidatos ao prêmio de R$ 2 milhões foi acertada, ou não.


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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

“Mister Brau”: Nova série mostra falta de traquejo ao tentar se equilibrar na linha tênue entre um humor ironicamente simples e um escracho pedantemente forçado


Precedida de uma ampla campanha de marketing que contou com depoimentos de artistas do cenário musical, como Lulu Santos, Ivete Sangalo e Nelson Motta, “Mister Brau”, série da Rede Globo que veio ocupar o espaço deixado por “Tapas & Beijos” não fez jus a tanto estardalhaço feito antes de sua estreia na terça-feira (22). Talvez tenham errado a mão e exagerado a dose na divulgação prévia, com direito a Lázaro Ramos e Thaís Araújo baterem ponto em programas da emissora, como “Domingão do Faustão” e “Fantástico”, caracterizados e encarnando seus personagens, os famosos cantor Brau e sua mulher, empresária e bailarina Michele. E o que se viu no primeiro episódio foi o mesmo: uma falta de traquejo geral ao tentar se equilibrar na linha tênue entre um humor ironicamente simples e um escracho pedantemente forçado.

O resumo da história é simples: um casal de novos ricos deslumbrados com o dinheiro que estão ganhando com seus shows musicais e guiados pela pretensão de se julgarem celebridades, usa e abusa de tudo e de todos sem medir consequências. O primeiro episódio foi marcado pela chegada dos dois à mansão adquirida em um bairro de luxo, com direito a pagode na piscina reunindo os amigos, tão sem noção e fora da casinha quanto os anfitriões. E a dor de cabeça que isso causou no casal vizinho, o advogado Henrique, interpretado por George Sauma, que ultimamente vinha fazendo vários personagens no “Zorra”, e Andréia, entregue à atriz Fernanda de Freitas, que mal saiu de “Tapas & Beijos” e já está repetindo o mesmo papel da mulherzinha pegajosa, interesseira e chorosa, tal como Flavinha era com Djalma (Otávio Muller).

Lázaros Ramos e Thaís Araújo com certeza estão fazendo o que seus personagens pedem no texto de Jorge Furtado e seguindo as coordenadas da direção de Maurício Farias. E quem cuida da parte de se preocupar com o telespectador? Com todo respeito aos excelentes roteiros já escritos por Jorge Furtado, mas o desta estreia realmente patinou e não saiu do lugar. Tendo como pano de fundo o mundo das celebridades instantâneas do universo musical nacional e internacional, foram criadas situações querendo fazer alguma alusão de crítica a diferenças sociais e raciais, mas que não trouxeram nada de original e não conseguiram nem fazer rir, muito menos fazer pensar. A cena em que Mister Brau faz piadas que até seu advogado fica com cara de bobão sem achar graça é quase um espelho de todo o episódio. Quando terminou, ficou no ar a pergunta: “Era para rir?”.


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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

“Tapas & Beijos”: Série se despede com final feliz para Fátima e Sueli, enquanto Tavares rouba a cena em situações inspiradas no Show de Truman


Após cinco anos no ar, a série “Tapas & Beijos” encerrou a sua derradeira temporada no ar nessa terça-feira (15), na Rede Globo, com o mesmo astral e deixando o gostinho de quero mais que marcaram o episódio final das anteriores. Só que dessa vez parece ter sido definitivo. Não há qualquer previsão de Fátima e Sueli, a dupla de protagonistas brilhantemente defendidas por Fernanda Torres e Andrea Beltrão, respectivamente, voltarem a viverem novas aventuras num futuro próximo. Infelizmente, pois a série criada por Cláudio Paiva e com direção geral de Maurício Farias estava entre um dos raros programas de humor de qualidade na emissora.

O último episódio teve um pouco mais do vai-e-vem entre Fátima e Armani (Vladimir Brichta) e Sueli (Fábio Assunção) que sempre pontuaram a história do quarteto, mas também sempre com situações surreais que garantiam a originalidade de cada noite no ar. Dessa vez, as duas começaram o capítulo vestidas de noivas, prontas para casar com outros noivos, e com esse mesmo figurino foram até o fim, quando selaram a volta tão esperada para seus verdadeiros amores. “Sempre haverá Copacabana”, declarou Sueli, referindo-se ao bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, onde foi ambientada toda a série e que, com certeza, foi quase um personagem à parte. Para quem conhece as ruas principais que serviram de base para as gravações, como Rua República do Peru, Avenida Nossa Senhora de Copacabana e arredores da pracinha do Inhangá, era quase como um Jogo da Velha identificar qual esquina estava deslocada para que outra parte do mesmo quarteirão.

Essa quinta temporada também veio reafirmar a sintonia dos coadjuvantes, como Otávio Muller e Fernanda Freitas formando o improvável casal Djalma e Flavinha, o divertidamente mão-de-vaca Seu Chalita encarnado com perfeição por Flávio Migliaccio, e os amigos-quase-coloridos, ou não, PC, o dentista machão não muito convicto defendido por Daniel Boaventura, e o advogado chato e pegajoso Tavares, personagem de Kiko Mascarenhas que ganhou destaque na final ao assumir papel semelhante ao de Jim Carrey no filme “O Show de Truman”. Em uma cena externa, lá estava ele entregando as pessoas que faziam figuração como pedestre ou até dirigindo algum carro: “Nunca teve um dia normal nessa rua. Isso é coisa de televisão. O mundo aqui é manipulado”, alertava Tavares. A paródia com o cinema ficou mais clara quando Tavares, depois que PC vai embora com a dançarina de boate Lucilene (Natália Lage) e o deixa sozinho na rua, fica apavorado ao sentir que está sendo observado e filmado por uma câmera e sai correndo, como se estive fugindo dos olhares dos telespectadores. A sequência funcionaria perfeitamente para o desfecho de qualquer programa. Mas valeu também optar pela presença de Sidney Magal cantando o tema de abertura da série, dividindo o palco com todo o elenco em uma apresentação festiva. Embora não tenha sido uma saída muito original...


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quarta-feira, 16 de setembro de 2015

“MasterChef Brasil”: Band peca ao tentar apresentar como sendo ao vivo prova final de reality culinário gravada previamente


A Band errou a mão no seu próprio cardápio ao dar a entender que ofereceria ao público uma final do “MasterChef Brasil” totalmente ao vivo nessa terça-feira (15) e na hora H servir um programa mezzo gravado mezzo direto dos estúdios da emissora. A estranheza começou a partir do momento em que Ana Paula Padrão apareceu para apresentar a final com exatamente o mesmo vestido e acessórios usados no programa da semana passada. Em seguida, os três jurados, Paola Carossella, Henrique Fogaça e Erick Jacquin, também surgiram com o mesmo figurino de quando aconteceu a prova que definiu o publicitário Raul e a produtora de eventos Izabel como finalistas. E a partir daí o pseudo-ao-vivo ficou comprovado: do estúdio da cozinha do programa com plateia, de repente, sem qualquer explicação, Raul e Izabel - que também tiveram o cuidado de repetir o visual, ela com a mesma bandana na cabeça - apareceram no mesmo espaço, só que sem plateia e com os familiares ocupando o mezanino. A explicação: após a semifinal os dois se enfrentaram na gravação da prova que decidiria o campeão. A pergunta: por que mentir dizendo que a prova seria feita com transmissão simultânea se na verdade apenas o anúncio do vencedor seria feito realmente ao vivo? E para que insistir numa farsa mal feita até o fim do programa, quando Izabel foi declarada a vencedora?

O despreparo para organizar um evento como esse foi percebido meia hora antes de o programa começar, quando naquele espaço antes ocupado para a “Prévia” com os melhores momentos da edição anterior, resolveu montar um palco para Preta Gil comandar um grupo de tuiteiros formado por figuras da emissora, como Milton Neves, e algumas subcelebridades das redes sociais. Vem cá, qual o sentido de levarem tuiteiros para comentarem sobre um programa gravado? Eles poderiam ter feito o mesmo, ou até melhor, de suas próprias casas. Aliás, o que foi Ana Paula Padrão, totalmente fora da casinha, dizer que só quem estava em casa saberia em primeira mão o nome do campeão pelo Twitter?

Em casa também poderiam ter ficado as pessoas que foram para a frente da Band participar das torcidas de Raul e Izabel. O desânimo da maioria era visível e constrangedor. E a decepção não foi menor para quem conseguiu entrar na emissora para ver da plateia tudo in loco e constatou que estava ali apenas para assistir a um telão. Não foi à toa que muitas se levantaram e foram embora antes de saber quem era o novo MasterChef. Aliás, onde estavam Preta Gil e seus companheiros tuiteiros após Izabel ser aclamada campeã?

É lastimável que tenha sido tão indigesta a produção para o gran finale da versão brasileira de um dos realities de culinária mais reconhecido no mundo. Afinal, sua realização como um todo teve muito mais acertos do que erros. A começar pela excelente seleção de candidatos que mostraram uma evolução não apenas como cozinheiros, mas também como pessoas ao longo da competição. E também pelo trio afinado de chefs jurados, que soube dosar muito bem a fama de mau, ingrediente essencial na receita original do formato, com peculiaridades que fazem parte de suas próprias marcas registradas. Como a sensibilidade do paulista Fogaça, que parece acarinhar os candidatos até mesmo quando grita. Não à toa foi ele que, na primeira seleção, foi quem chamou Izabel de volta por ter sentido que ela tinha algo a dizer e lhe deu o avental, passaporte para entrar no programa. Extremamente exigente, mas com seu jeito bonachão, o francês naturalizado brasileiro Jacquin rendeu momentos engraçados quando chamava a atenção da chinesinha Jiang. E a argentina Paola, com seu caminhar tramando as longas pernas à la Gisele Bündchen, também fez a diferença com suas expressões faciais que são um prato cheio a qualquer caricaturista, apesar de tecer opiniões que pareciam estar sempre em banho-maria, aguardando o veredicto do paladar de seus companheiros de bancada. Tanto que sua torcida evidente para Raul não pesou na balança para o resultado final. Felizmente para Izabel, que, na final do MasterChef Brasil, preparou um menu com inspiração bem brasileira.


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terça-feira, 15 de setembro de 2015

“Cúmplices de Um Resgate”: Novo folhetim infanto-juvenil conquista boa audiência com linguagem moderna, atuações competentes e estética alegre e contemporânea


Com a improvável missão de concorrer com o “Jornal Nacional”, da Rede Globo, e “Os Dez Mandamentos”, da Rede Record, “Cúmplices de Um Resgate”, versão brasileira de um folhetim mexicano exibido no SBT, não tem feito feio na audiência para os padrões da emissora desde que estreou, há um mês. Em sua estreia, em 3 de agosto, conseguiu até mesmo dividir a vice-liderança com a trama bíblica. Dirigida por Reynaldo Boury, a adaptação de “Cómplices al Rescate” está sendo escrita por Íris Abravanel, mulher de Silvio Santos que também assinou a autoria dos remakes de “Carrossel” e “Chiquititas”, e conta a história de Isabela e Manuela, irmãs gêmeas que foram separadas ao nascer. Uma ficou com a mãe biológica, pobre, e a outra foi criada por outra mãe, rica. Apesar de crescerem desconhecendo uma a existência da outra, ambas sonham se tornar uma cantora famosa e, por uma coincidência, acabam se conhecendo. Diante da semelhança gritante, decidem, em segredo, trocar de família. E aí vão se desenrolando as tramas paralelas da história.

Como já acontece em outras novelas infanto-juvenis do SBT, “Cúmplices de Um Resgate” explora o universo musical, mas mostra um aperfeiçoamento na estética visual mais contemporânea, com elementos ligados à era digital e computadorizada e temas que vão desde questões sociais até religiosas, estão lá o padre católico e o pastor evangélico ganhando mesmo espaço, o que tem contribuído para que a novela atinja um público de uma faixa etária mais abrangente, de crianças a adultos. O cuidado com cenografia, iluminação e sonoplastia também corresponde à escola que a emissora vem fazendo no gênero. Até mesmo figurino e maquiagem, que poderiam parecer exagerados apenas pela origem mexicana da história, justificam-se perfeitamente pelo lúdico de uma novela na qual animais “falam” entre eles e interagem com o elenco através de legendas em balões, como em histórias em quadrinho. E os clipes musicais, reunindo os personagens e pontuado por desenhos computadorizados reforçam o espírito lúdico da trama.

Em relação ao elenco, vemos atores bem dirigidos e cumprindo seus papéis corretamente. Destaque para Mira Haar, no papel de Dona Nina, avó das gêmeas, que vive situações de picuinhas engraçadas na feira com Fiorina, a italiana enfezada interpretada por Bárbara Bruno. E também para Tânia Bondezan, que está perfeita como a babá Marina. Juliana Baroni, que não deixa de ser a mocinha da história, tem se saído bem no esforço para convencer como Rebeca, a mãe da jovem protagonista. Já Duda Nagle ainda está deixando a desejar como Otávio, o mocinho da história. O ator parecia mais à vontade fazendo o arrogante bad boy de “Caminho das Índias”, atualmente sendo reprisada na Globo.

Mas, sem dúvida, a escalação acertada de Larissa Manoela para interpretar as gêmeas está contribuindo muito para valorizar a novela. A atriz-mirim “conversa” com as câmeras com desenvoltura e revela talento ao se dividir em duas personagens distintas como a mimada e rebelde Isabela e a doce e compreensível Manuela. Mais jogo de cintura ainda tem a menina ao ter que inverter os próprios papéis, ora fingindo ser uma e ora tentando enganar a todos sendo outra. Situação já vista em muitos folhetins, mas cuja tarefa geralmente é dada para gente grande. Apesar de ter apenas 14 anos de idade, já se apresenta como modelo, cantora, dubladora e atriz. A estreia na televisão foi aos 6 anos fazendo ela mesma na série “Mothern”, do GNT, meses após ter participado no teatro do espetáculo musical “A Noviça Rebelde”. Entre outros trabalhos estão interpretar Dalva de Oliveira adolescente na minissérie “Dalva e Herivelto: Uma Canção de Amor”, em 2010, na Rede Globo, e um ano depois estava no cinema vivendo a Guilhermina do filme “O Palhaço”, dirigido e protagonizado por Selton Mello. Também dublou a voz de Narizinho na série de desenho animado “O Sítio do Picapau Amarelo”, produzida pela Mixer e pela Globo. Há três anos no SBT, a atriz-mirim já se destacou integrando o elenco das novelas “Corações Feridos” e “Carrossel” e da série “Patrulha Salvadora”. Agora se apresenta como uma aposta promissora da teledramaturgia da emissora. E ajuda a fazer de “Cúmplices de Um Resgate” uma séria concorrente de “Chiquititas” ao título de melhor folhetim infanto-juvenil do SBT.


Mais sobre novelas mexicanas no SBT em:
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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

“I Love Paraisópolis”: Há quatro meses no ar e depois de superar audiência de “Babilônia”, novela das sete mantém médias mais altas do que “A Regra do Jogo”


Assim como incomodou o autor Gilberto Braga quando superava a audiência de “Babilônia”, agora “I Love Paraisópolis”, novela das sete da Rede Globo, repete o feito superando por várias vezes consecutivas o ibope de “A Regra do Jogo”, a nova trama do horário nobre da emissora, de João Emanuel Carneiro, em sua segunda semana no ar. Então, é bobagem usar como justificativa para a queda de audiência de qualquer novela o crescimento da internet, a TV por assinatura e outras tantas desculpas que também já estão para lá de ultrapassadas. Ou será que apenas a trama das sete está imune a essas tantas outras formas de concorrência?

Essa “imunidade” talvez se explique pelo fato de “I Love Paraisópolis”, escrita por Alcides Nogueira e Mário Teixeira, ter praticamente os mesmos elementos explorados nas tramas do horário nobre, porém tratados de uma forma mais leve, mais acessível e, por que não dizer, mais digerível. Estão lá a favela, os bandidos, as traições, as falcatruas, assim como também estão os dramas - alguns sérios, como é o caso do Alzheimer da personagem de Nicette Bruno - os romances, as relações familiares e de amizades, que variam de brigas a afagos que só valorizam cenas típicas do cotidiano, traduzidas também através de diálogos inteligentes e perspicazes, simples e nem por isso rasos.

Até mesmo o “tom acima” que Letícia Spiller dá a sua Soraia, que se justifica pelo perfil melodramático e vulnerável ao extremo da personagem, não chega a ser algo que incomode muito, pelo fato de não ter gestuais ou tiques desnecessariamente repetitivos. Até mesmo Tatá Werneck soube “baixar a bola” ao perceber que sua Pandora não era o umbigo da história e logo aprendeu a coloca-la na sua devida casinha e a respeitar o quadrado dos demais personagens. Contribui ainda para o bom resultado as direções geral e de arte e a iluminação corretas e autores que escrevem para todos terem seu momento de destaque em algum momento da trama, não privilegiando determinados atores, mesmo contando com a participação especialíssima de Lima Duarte no elenco.

No mais, as tramas continuam se desenrolando, apresentando situações sempre novas nas quais problemas vão surgindo e sendo solucionados de forma rápida, sem se perder nas famosas e tediosas “barrigas”. Nem mesmo o improvável quadrilátero amoroso formado por Grego (Caio Castro), Marizete (Bruna Marquezine), Margot (Maria Casedavall) e Benjamin (Maurício Destri) caiu na mesmice e vem tendo situações inusitadas para mostrar as idas e vindas necessárias entre os casais para tentar criar suspense sobre quem fica com quem. Tem até Margot grávida de Ben, que está noivo de Marizete, sendo paparicada por Greco... 

Fato é que “I Love Paraisópolis” completou nessa sexta-feira (11) quatro meses no ar, ultrapassou seu capítulo de número 100, ou seja, já se aproxima da previsão inicial de se encerrar no 154, sem causar estardalhaço nem “bombar” nas redes sociais, mas está cumprindo a missão fundamental de uma novela: conquistar o grande público. E conquistar o grande público, nesse caso, significa ter audiência. Qualquer outro produto que seja considerado mais refinado e que pode se dar ao luxo de ser exibido em qualquer horário até mesmo ingrato pode se vangloriar de não atingir o grande público, mas ser considerado de qualidade. Esse tipo de orgulho pode até parecer plausível diante de minisséries, seriados, casos especiais, não é tolerável, no entanto, quando se trata do gênero telenovela.


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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

“Além do Tempo”: Irene Ravache e Nívea Maria dão verdadeiras aulas de dramaturgia através dos duelos verbais ricos de gestuais entre suas personagens na novela das seis


Duas estrelas de primeira grandeza, Irene Ravache e Nívea Maria estão mostrando que talento e uma longa jornada na televisão brasileira fazem toda a diferença na hora de cumprir a difícil missão de brilhar em uma história de época, como é “Além do Tempo”, quando muitos ainda colocam a modernidade e os temas polêmicos como pilares essenciais em uma novela. Tanto Irene quanto Nívea, interpretando a Condessa Vitória e a governanta Zilda, respectivamente, duelam dramaturgicamente na trama das seis da Rede Globo com uma maestria poucas vezes vista nos folhetins mais recentemente exibidos na emissora.

É claro que pesa, e muito, os diálogos contundentes, as tiradas irônicas e as situações arrebatadoramente misteriosas escritas pela autora Elizabeth Jihn, assim como contribui para o resultado excepcional a direção de Pedro Vasconcelos nas cenas vividas por ambas num dueto afinado e muito bem orquestrado, como aconteceu no capítulo dessa quinta-feira (3), quando a Condessa se desespera ao descobrir que não era seu filho o homem encontrado por Bento (Luiz Carlos Vasconcelos) e é amparada por sua fiel, embora maltratada, escudeira. São confrontos verbais enriquecidos de gestuais corporal e facial, ao mesmo tempo carregados e contidos, que dá vontade de aplaudir a cada cena.

Irene Ravache, 71 anos de idade, completando agora, em 2015, 50 de novelas e minisséries, prêmios importantes por seus trabalhos e uma trajetória de momentos marcantes. Entre eles, na Globo, estão Rachel de “Sol de Verão” (1982), Leonora de “Sassaricando” (1987), Madalena Aguilar na minissérie “A Casa das Sete Mulheres” (2003), Katina em “Belíssima” (2005), e as famosas Clô de “Passione” (2010) e Charlô do remake de “Guerra dos Sexos” (2012), além da comovente Lola do remake de “Éramos Seis” feito em 1994 pelo SBT.

Já Nívea Maria, 68 anos de idade, e apenas um ano a menos na TV do que sua parceira de cena, também coleciona personagens de sucesso, como a inesquecível Jerusa bastos de “Gabriela” e a protagonista de “A Moreninha”, ambas novelas exibidas há 40 anos. Depois vieram outros trabalhos em que se destacou, como “Dona Xepa” (1977), “Brega & Chique” (1987), “Meu Bem, Meu Mal (1990), “O Clone (2001), “Celebridade” (2003), “Caminho das Índias (2009), e, como Irene, a minissérie “A Casa das Sete Mulheres.

Sem dúvida, duas grandes damas da TV que devem servir de exemplo para que muitas jovens atrizes. E, por que não dizer, também para algumas outras com um pouco mais de idade e algum tempo de profissão, mas que não atingiram tamanha maturidade, simplicidade e, acima de tudo, uma modéstia a toda prova.



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“A Regra do Jogo”: Cenas de ação bem feitas, mas excesso de dramas, cenografia e iluminação sombrias criam clima depressivo


João Emanuel Carneiro, autor de “A Regra do Jogo”, novela das nove da Rede Globo que estreou nessa segunda-feira (31), mais uma vez tem um excelente argumento nas mãos: uma história que brinca com uma dualidade camuflada na personalidade de alguns de seus personagens, deixando pairar no ar a possibilidade de que vilões sejam mocinhos, e vice-versa. Resta saber se conseguirá equilibrar todos os elementos que entram nesse jogo e que realmente ditam as regras para se obter um resultado que atenda os reais interesses e expectativas do público.

Brincar com a dualidade é um recurso já usado pelo autor em sua estreia no horário nobre da emissora através das protagonistas de “A Favorita” e depois mostrado de forma mais aberta ao público, mas também deixando interrogações no ar em “Avenida Brasil”. Como o próprio João Emanuel já definiu, “A Regra do Jogo” tem como espinha dorsal a história de Romero, interpretado por Alexandre Nero, um homem que finge ser um herói do povo, mas que, na verdade, é o verdadeiro algoz daqueles que o rodeiam. Já deu para perceber que ele é o principal elo entre os núcleos da Zona Sul carioca e da “fictícia” favela chamada Morro da Macaca. Fictícia entre aspas porque na vida real existe, sim, uma favela chamada Morro do Macaco em Vila Izabel, Zona Norte do Rio de Janeiro.

O primeiro capítulo não chegou a ser aquele “grande evento” prometido por João Emanuel, a não ser pela sequência final do assalto a um banco, claramente inspirada em filmes de ação de cinema. Foi muito bem feita e poderia ser mais bem explorada se tivesse sido interrompida e deixado o famoso gancho para o capítulo seguinte. O acontecimento terminou rapidamente, enquanto diálogos de cenas anteriores se arrastaram sem necessidade. Já o segundo e terceiro capítulos foram dominados pelo drama. Palmas para Cássia Kis, uma atriz que é quase um kamikaze na defesa de suas personagens e não se cansa de se tornar hour concour no quesito melhor em cena com sua sofrida Djanira, não à toa a mãe de Romero.

Mas, mesmo assim, é muito drama em tão pouco tempo no ar. Além do problema de saúde de Djanira, os destaques também ficaram por conta da esclerose múltipla de seu filho, Romero, e a bipolaridade de Nelita (Bárbara Paz), filha da calma movida a calmantes Nora (Renata Sorrah), casada com o milionário descontrolado Gibson (José de Abreu). Ou seja, é muita gente doente física e mentalmente reunida em uma novela só.

Para tentar amenizar, tem Susana Vieira que vem “botando a cara no sol” como Adisabeba, dona da boate mais bombada da favela. Que a atriz tem tudo para dominar a cena é notório, basta saber se realmente terá espaço para isso. Por enquanto, está faltando mais alegria a sua personagem. Parece que a aposta do autor e da direção no humor está sendo concentrada mesmo em Atena, a golpista interpretada por Giovanna Antonelli. Muito clipe, muita trilha sonora, muitas caras e bocas da atriz, mas, graça que é bom, nada. Pelo contrário, está tendo muito exagero, uma boca aberta fingindo um sorriso forçado que irrita de tão repetitivo, coraçãozinho com as mãos e tantos outros nhenhenhém criados pela atriz para criar modismos. Seja lá em quem ela se inspirou, deve ser um porre conviver com essa pessoa.

E, plasticamente, a novela é triste. Nem parece ambientada em cenários cariocas. Falta cor, falta luz, falta vida em qualquer um dos núcleos. Como avaliar a iluminação de uma fotografia que parece feita no negativo? Não sei se é resultado dessas tais “câmaras ocultas” à lá Big Brother que tira a qualidade ou se há uma intencionalidade em criar uma atmosfera diferente. Só que, se for isso, está mais para um passo atrás a tudo que já foi conquistado em termos de qualidade avançada em imagens.

Realmente, o autor tem uma sinopse excelente em mãos. Mas a realização deve corresponder e não perder elementos que são fundamentais a qualquer folhetim. Muita invenção pode corresponder a uma reação não muito favorável. É preciso ter cuidado ao tratar de temas que envolvam doenças físicas ou mentais. O público que ver atores atuando, quer se identificar com as histórias, sim, mas não se deprimir toda noite. Os dias já estão pesados demais na vida real.


Sobre o fim de "Babilônia" leia em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2015/08/babilonia-constrangedor-final-nao.html