terça-feira, 15 de julho de 2014

“O Rebu”: Nova versão não faz jus à novela que fez história e criou conceitos em tempos de censura na teledramaturgia e só inova agora em termos de novas tecnologias




Quando o original de “O Rebu” foi ao ar, entre 1974 e 1975, na TV Globo, eu era adolescente, mas, já aficionada por novelas, estava curiosa sobre aquela história ousada que se passava em uma única noite. As lembranças mais marcantes que guardo são as do grande Ziembinski em cena como Conrad Mahler e de todo mistério brilhantemente conduzido por ele naquela trama de Bráulio Pedroso, dirigida por Walter Avancini. Nunca me esqueci da imagem daquele ator polonês. E muito menos do jovem Buza Ferraz, interpretando Cauê. Principalmente por, apesar de minha pouca idade, não ter deixado de entender que a história tratava de um caso de homossexualidade. E descobrir que a censura na época tinha exigido que Cauê fosse mostrado como filho adotivo do velho Conrad. Bobagem. Censura nenhuma tolhe a inteligência do público, de que idade for.

Nesse remake que estreou nessa segunda-feira (14), na Rede Globo, o personagem Cauê foi rebatizado como Bruno Ferraz, interpretado por Daniel Oliveira. Seria uma homenagem ao Buza Ferraz? Talvez. Mas, para por aí. O Bruno atual é apresentado como um garanhão, que teve caso com as personagens de Patrícia Pillar, Cássia Kis Magro, Shophie Charlote, Mariana Rios. Nesse ponto, a nova versão escrita por George Moura e Sérgio Goldenberg, com colaboração de Charles Peixoto, Flávio Araújo, Lucas Paraízo e Mariana Mesquita, fogem totalmente ao original. Nem Tony Ramos ainda fez jus ao posto de novo Ziembinski. Ou será que José de Abreu é o seu representante?

“O Rebu” foi uma obra inovadora não apenas por tratar da questão da homossexualidade como também por criar o mistério em torno de quem morreu e não de quem matou. Nesse ponto, a nova versão, que traz o benefício das novas tecnologias, com iluminação perfeita e direção de arte caprichada, perde em termos de inovação na narrativa. O “quem matou?” já deixou de ser novidade há décadas. Cenas de festas na alta sociedade com insinuações de uso de drogas e sexo no banheiro não são mais nenhuma novidade. São mais do mesmo que desmerecem uma obra que foi ousada em sua época. Quem deve realmente segurar essa novela são Cássia Kis Magro e Patrícia Pilar.

No mais, a obra que realmente deve continuar na história é o original de "O Rebu".