domingo, 20 de julho de 2014

“Em Família”: Júlia Lemmertz não recebe de Manoel Carlos a Helena que ela merecia interpretar para homenagear sua mãe, Lilian


Independentemente de qualquer crítica que se faça ao conjunto de “Em Família”, novela das nove da Rede Globo escrita por Manoel Carlos, em que o autor prometeu ser seu último folhetim com a protagonista chamada Helena, no último capítulo, exibido nessa sexta-feira ( 18), o que mais constrangeu foi o fato de ver a mesma ter perdido o posto de heroína para se tornar mera coadjuvante de uma história sem protagonistas. Uma atriz do calibre de Júlia Lemmertz, convidada a prestar uma homenagem a sua mãe, Lilian Lemmertz, primeira a interpretar a precursora de uma série de Helenas em novelas de Manoel Carlos, em “Baila Comigo”, de 1981, merecia ter vivido uma história mais rica.

Antes de “Em Família” estrear, em fevereiro deste ano, Maneco afirmou que, ao decidir encerrar o ciclo das Helenas, pensou logo em Júlia: “Tinha vontade de escrever para ela. A matriz é a Lilian Lemmertz, e eu tinha essa dívida de amor que eu pago com essa escolha”. Se a dívida era apenas passar personagem de mãe para filha, foi paga. Mas, se a dívida era coroar o ciclo de uma personagem, ficou devendo.

Não que alguma outra, ou algum outro personagem, tenha se sobressaído nessa novela. Shirley (Viviane Pasmanter) com sua cobra foi uma versão bem chinfrim de Luz Del Fuego. O flashback de Laerte (Gabriel Braga Nunes), à beira da morte, passando o rodo nas personagens de Júlia, Viviane, Helena Ranaldi e Bruna Marquezine, foi algo que beirou o ridículo. No fundo ele era apenas um músico psicopata e tarado que até agonizando só pensava em sacanagem. Pior ainda foi ver Selma, a mãe de Laerte interpretada por Ana Beatriz Nogueira, ter tomado tanto espaço no capítulo, ora lendo um livro para defuntos no cemitério onde o filho estava enterrado, e depois chegando atrasada ao aniversário da amiga, Francisca (Natália do Vale), dizendo que o marido (morto) tinha ficado lá fora resolvendo uma questão de trânsito. E todos no recinto achando graça. Daria até para achar engraçada se fosse uma cena de “Pé Na Cova”, não no último capítulo de uma novela das nove classificada no gênero drama.

Mas, constrangedor mesmo foi ver a Helena de Júlia Lemmertz ter um desfecho tão em segundo plano, tão apagado, tão sem luz, apesar de ela e Virgílio (Humberto Martins) terem tido o jardim de Claude Monet, em Paris, como cenário para suas declarações de amor. Nem a beleza da locação tirou a superficialidade da sequência, apesar do esforço dos atores em tentarem se superar dizendo um texto tão artificial.

Não vou estranhar se Manoel Carlos não voltar a escrever mais uma Helena, dessa vez para Gabriela Duarte, em homenagem à mãe da atriz, Regina Duarte, que já interpretou três Helenas suas: em “História de Amor” (1995); “Por Amor (1997), e em “Páginas da Vida” (2006). Afinal, como em tantas outras vezes, o autor voltou a afirmar que não se aposentou...


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