domingo, 8 de novembro de 2015

“I Love Paraisópolis”: Final com exagero em finais felizes, bandido regenerado, discurso ufanista e mensagens sem conteúdo real


Há seis meses, quando escrevi sobre “I Love Paraisópolis”, novela das sete da Rede Globo, uma semana após sua estreia, dia 11 de maio, comentei sobre “uma preocupação em imprimir uma velocidade exagerada nos cortes de uma cena para outra” no primeiro capítulo. O mesmo se repetiu no último, que foi ao ar sexta-feira (6), em que as passagens de tempo voaram tanto quanto os personagens indo de um país a outro num piscar de olhos, engravidando e parindo muitos filhos, ou pagando seus crimes numa Justiça que só na ficção mostra tanta agilidade quando não se trata de um condenado colarinho-branco, como foi o caso de Grego, que ora aparecia preso, ora aparecia em casa, teve liberdade condicional na qual pode até viajar até os Estados Unidos sozinho e terminou livre, leve e solto.

Aliás, Grego, o chefe de morro interpretado por Caio Castro, de vilão praticamente virou o mocinho da história escrita por Alcides Nogueira e Mário Teixeira. Não dá para dizer que tenha sido uma espécie de Síndrome de Estocolmo do público, mas pesou muito a entrega do ator, que vestiu o personagem de uma forma que até fora da novela, em participações em programas da emissora, deixava escapar alguns gestuais de Grego. E também colaborou o fato de acabar fazendo mais uma vez par romântico com Maria Casendavall, intérprete de Margô. Os dois atores funcionam muito bem, independentemente de formarem casal na vida real ou não.

Já o mocinho, Benjamin, ficou morno e apagado nas mãos de Maurício Destri. Ele nem parecia o protagonista, mostrava sempre a mesma expressão, em qualquer situação. Uma espécie de Cigano Igor do momento. Não foi à toa que durante meses o que se viu foram clipes inteiros de imagens com Benjamin e Marizete (Bruna Marquezine) ao som do tema romântico do casal, que tocava inteiro. Deu até para enjoar da música. E dos dois personagens também. Daí acontecer de, apesar de politicamente incorreto, o vilão acabou salvando o final da novela ao assumir o posto de herói, já que o mocinho perdeu várias chances de fazer jus ao posto de protagonista.

Os melhores momentos, dramaturgicamente, ficaram com Nicette Bruno, a dona Izabelita, cantando “Se Essa Rua Fosse Minha” para a filha, Soraya, vivida por Letícia Spiller, que também teve uma bela última cena ao lado do ator Frank Menezes, irretocável no papel do mordomo Júnior. E com Fabíula Nascimento, que poderia ter tido sua Paulucha muito melhor aproveitada ao longo da novela diante do seu talento, mostrado mais uma vez em sua cena visitando Grego no presídio. A atriz, que costuma brincar falando com os dentes cerrados, também consegue chorar sem necessariamente derramar rios de lágrimas. Seu choro está todo na expressão facial que se contorce e traduz claramente um choro contido, mas que está explodindo por dentro.

Totalmente desnecessário o discurso de Ximena, personagem de Caroline Abras que era o braço direito do Grego e acabou em uma conferência internacional fazendo um discurso ufanista, aliviando as dificuldades e exaltando as vantagens de quem mora em favelas brasileiras, além de tentar mostrar um Brasil que, independentemente de qualquer simpatia ou antipatia partidária, não corresponde em nada à realidade que se vive no país. Parecia uma Alice No País das Maravilhas tupiniquim.

E não dá mais para se aceitar esse recurso batido e ultrapassado de se encerrar com o elenco todo reunido assistindo ao show de um cantor que assina alguma faixa da trilha sonora da novela. No caso, Luan Santana, que parecia estar cantando naquelas apresentações promovidas na casa do “Big Brother Brasil”. Mas pior mesmo foi aquele close de Bruna Marquezine, com os olhos cheios de lágrimas, dizendo: “Acabou. Ou será que está só começando?”. Wolf Maya, diretor de núcleo de “I Love Paraisópolis”, já foi mais criativo.


Mais "I Love Paraisópolis" em:
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