Há seis meses, quando escrevi sobre “I Love
Paraisópolis”, novela das sete da Rede Globo, uma semana após sua estreia, dia
11 de maio, comentei sobre “uma preocupação em imprimir uma velocidade
exagerada nos cortes de uma cena para outra” no primeiro capítulo. O mesmo se
repetiu no último, que foi ao ar sexta-feira (6), em que as passagens de tempo
voaram tanto quanto os personagens indo de um país a outro num piscar de olhos,
engravidando e parindo muitos filhos, ou pagando seus crimes numa Justiça que
só na ficção mostra tanta agilidade quando não se trata de um condenado
colarinho-branco, como foi o caso de Grego, que ora aparecia preso, ora
aparecia em casa, teve liberdade condicional na qual pode até viajar até os
Estados Unidos sozinho e terminou livre, leve e solto.
Aliás, Grego, o chefe de morro interpretado por Caio
Castro, de vilão praticamente virou o mocinho da história escrita por Alcides
Nogueira e Mário Teixeira. Não dá para dizer que tenha sido uma espécie de
Síndrome de Estocolmo do público, mas pesou muito a entrega do ator, que vestiu
o personagem de uma forma que até fora da novela, em participações em programas
da emissora, deixava escapar alguns gestuais de Grego. E também colaborou o
fato de acabar fazendo mais uma vez par romântico com Maria Casendavall, intérprete
de Margô. Os dois atores funcionam muito bem, independentemente de formarem
casal na vida real ou não.
Já o mocinho, Benjamin, ficou morno e apagado nas
mãos de Maurício Destri. Ele nem parecia o protagonista, mostrava sempre a
mesma expressão, em qualquer situação. Uma espécie de Cigano Igor do momento.
Não foi à toa que durante meses o que se viu foram clipes inteiros de imagens
com Benjamin e Marizete (Bruna Marquezine) ao som do tema romântico do casal,
que tocava inteiro. Deu até para enjoar da música. E dos dois personagens
também. Daí acontecer de, apesar de politicamente incorreto, o vilão acabou
salvando o final da novela ao assumir o posto de herói, já que o mocinho perdeu
várias chances de fazer jus ao posto de protagonista.
Os melhores momentos, dramaturgicamente, ficaram com
Nicette Bruno, a dona Izabelita, cantando “Se Essa Rua Fosse Minha” para a
filha, Soraya, vivida por Letícia Spiller, que também teve uma bela última cena
ao lado do ator Frank Menezes, irretocável no papel do mordomo Júnior. E com Fabíula
Nascimento, que poderia ter tido sua Paulucha muito melhor aproveitada ao longo
da novela diante do seu talento, mostrado mais uma vez em sua cena visitando
Grego no presídio. A atriz, que costuma brincar falando com os dentes cerrados,
também consegue chorar sem necessariamente derramar rios de lágrimas. Seu choro
está todo na expressão facial que se contorce e traduz claramente um choro
contido, mas que está explodindo por dentro.
Totalmente desnecessário o discurso de Ximena,
personagem de Caroline Abras que era o braço direito do Grego e acabou em uma
conferência internacional fazendo um discurso ufanista, aliviando as
dificuldades e exaltando as vantagens de quem mora em favelas brasileiras, além
de tentar mostrar um Brasil que, independentemente de qualquer simpatia ou
antipatia partidária, não corresponde em nada à realidade que se vive no país. Parecia
uma Alice No País das Maravilhas tupiniquim.
Mais "I Love Paraisópolis" em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2015/09/i-love-paraisopolis-ha-quatro-meses-no.html