No meio de uma série de falhas que poderia ser
apontada em “A Regra do Jogo”, a começar pelo próprio conteúdo, ou falta dele,
da história de João Emanuel Carneiro, uma delas, que constrange até o
telespectador, é o desperdício do talento de atores veteranos e renomados.
Aconteceu com Cássia Kiss, que soube segurar com toda sua fibra e
profissionalismo sua personagem, Djanira, que morreu e saiu de cena há cerca de
um mês e ainda faz falta na trama das nove da Rede Globo. Deve ter sido um
alívio para a atriz ter se poupado de continuar envolvida em um projeto que a
cada dia se mostra como uma das grandes decepções na programação desse ano da
emissora.
O mesmo pode-se dizer de Marcos Caruso, um ator
igualmente visceral que está se submetendo a um papel que caberia melhor em um
humorístico ou em um folhetim das sete, que tradicionalmente traz uma linguagem
mais escrachada no núcleo cômico, mas não em uma novela do horário nobre. O
fato de ter facilidade para circular pelo universo do humor, como mostrou,
entre outros trabalhos, interpretando o Leleco de “Avenida Brasil” (2012), do
mesmo autor, não significa que sua veia séria e dramática tenha que ser deixada
de lado ou esquecida. Em televisão, basta lembrar que em 2006 ele recebeu o
Troféu Imprensa de Melhor Ator do Ano pelo Alex de “Páginas da Vida”, novela de
Manoel Carlos, novelista que tem fama de privilegiar as personagens femininas
de suas histórias. Sem citar seus trabalhos no teatro e no cinema não só como
ator, mas também como autor e diretor.
É até constrangedor ver Caruso interpretando
Feliciano, um desocupado que abriga um monte de folgados e decadentes em seu
apartamento na Zona Sul do Rio. As cenas são bizarras, os diálogos pobres e as
situações não tem a menor graça. Quero crer que o objetivo dos responsáveis
pela novela não tenha sido tentar mostrar um modelo alternativo para as novas
formações de famílias. Porque, se foi, estão errando feio e até prestando um desserviço.
Não convence ver Vavá (Marcello Novaes), filho de Feliciano, que, além de morar
na mesma casa com sua ex-mulher Janete (Suzana Pires) e a atual e ex-amante Mel
(Fernanda Souza), agora engravidou Duda (Giselle Batista), a namorada de sua
irmã, Úrsula (Júlia Rabello).
E ainda tem, também sob o mesmo teto, a outra filha
de Feliciano, Dalila (Alexandre Richter), cujas falas são chavões nada
criativos, casada com Breno, em uma interpretação de Otávio Muller que continua
lembrando o Djalma de “Tapas & Beijos”. De quebra, o casal ainda tem dois
filhos: Luana (Giovanna Lancellotti) e Kim (Felipe Roque), que parece terem
apenas a função de aumentar a população por metro quadrado no apartamento. Ah,
e para completar não poderia faltar a presença de uma empregada intrometida,
Dinorah (Carla Cristina Cardoso).
Mais "A Regra do Jogo" em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2015/10/a-regra-do-jogo-com-virada-inesperada_3.html