sábado, 28 de novembro de 2015

“A Regra do Jogo”: Tentativa fracassada de humor desgasta imagem de atores em núcleo totalmente deslocado na história



No meio de uma série de falhas que poderia ser apontada em “A Regra do Jogo”, a começar pelo próprio conteúdo, ou falta dele, da história de João Emanuel Carneiro, uma delas, que constrange até o telespectador, é o desperdício do talento de atores veteranos e renomados. Aconteceu com Cássia Kiss, que soube segurar com toda sua fibra e profissionalismo sua personagem, Djanira, que morreu e saiu de cena há cerca de um mês e ainda faz falta na trama das nove da Rede Globo. Deve ter sido um alívio para a atriz ter se poupado de continuar envolvida em um projeto que a cada dia se mostra como uma das grandes decepções na programação desse ano da emissora.

O mesmo pode-se dizer de Marcos Caruso, um ator igualmente visceral que está se submetendo a um papel que caberia melhor em um humorístico ou em um folhetim das sete, que tradicionalmente traz uma linguagem mais escrachada no núcleo cômico, mas não em uma novela do horário nobre. O fato de ter facilidade para circular pelo universo do humor, como mostrou, entre outros trabalhos, interpretando o Leleco de “Avenida Brasil” (2012), do mesmo autor, não significa que sua veia séria e dramática tenha que ser deixada de lado ou esquecida. Em televisão, basta lembrar que em 2006 ele recebeu o Troféu Imprensa de Melhor Ator do Ano pelo Alex de “Páginas da Vida”, novela de Manoel Carlos, novelista que tem fama de privilegiar as personagens femininas de suas histórias. Sem citar seus trabalhos no teatro e no cinema não só como ator, mas também como autor e diretor.

É até constrangedor ver Caruso interpretando Feliciano, um desocupado que abriga um monte de folgados e decadentes em seu apartamento na Zona Sul do Rio. As cenas são bizarras, os diálogos pobres e as situações não tem a menor graça. Quero crer que o objetivo dos responsáveis pela novela não tenha sido tentar mostrar um modelo alternativo para as novas formações de famílias. Porque, se foi, estão errando feio e até prestando um desserviço. Não convence ver Vavá (Marcello Novaes), filho de Feliciano, que, além de morar na mesma casa com sua ex-mulher Janete (Suzana Pires) e a atual e ex-amante Mel (Fernanda Souza), agora engravidou Duda (Giselle Batista), a namorada de sua irmã, Úrsula (Júlia Rabello).

E ainda tem, também sob o mesmo teto, a outra filha de Feliciano, Dalila (Alexandre Richter), cujas falas são chavões nada criativos, casada com Breno, em uma interpretação de Otávio Muller que continua lembrando o Djalma de “Tapas & Beijos”. De quebra, o casal ainda tem dois filhos: Luana (Giovanna Lancellotti) e Kim (Felipe Roque), que parece terem apenas a função de aumentar a população por metro quadrado no apartamento. Ah, e para completar não poderia faltar a presença de uma empregada intrometida, Dinorah (Carla Cristina Cardoso).

Talvez os atores estejam até se divertindo e brincando de atuar com seus respectivos personagens. Ou estão apenas tentando disfarçar uma insatisfação que o público traduz através dos baixos índices de audiência? Inegável é que quanto mais João Emanuel Carneiro se dedica a dar um tom de Zorra Total ao núcleo, ele está mesmo é totalmente deslocado dentro da novela.


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