terça-feira, 19 de maio de 2015

“I Love Paraisópolis”: Após estreia morna e excesso de situações inverossímeis, novela toma fôlego e se renova a cada capítulo



Depois de uma estreia morna na segunda-feira (11), “I Love Paraisópolis”, novela das sete da Rede Globo, foi aos poucos tomando fôlego e parece ter entrado em sua segunda semana já com tramas costuradas com ingredientes mais consistentes, que estão mostrando a que realmente se propõe a história. Algo que faltou no primeiro capítulo, em que o que se viu foi uma preocupação maior em imprimir uma velocidade exagerada nos cortes de uma cena para outra, o que causou certa confusão sobre a função de cada personagem e de qual era realmente o fio condutor da história. Ficou claro apenas que haveria uma disputa entre favela e asfalto, pobres e ricos. Um assunto que de longe é novo em novelas.

Também pesou o exagero histriônico na atuação de alguns atores, carregando nas tintas, nos trejeitos, nas caras, bocas e entonações. Como foi o caso de Letícia Spiller, talvez tentando apagar a imagem de sua mais recente atuação em “Boogie Oogie”, que saiu do ar há apenas dois meses, e de Tatá Werneck, que ainda não saiu da Valdirene, personagem que marcou sua estreia em novela, em “Amor à Vida”, que saiu do ar há pouco mais de um ano. Aliás, dessa mesma novela veio Maria Casedavall, que está dando à sua atual Margot o mesmo perfil buscando o gênero femme fatale, semelhante ao que ela fez como Patrícia Mileto na trama de Walcyr Carrasco.

Mas, no decorrer dos capítulos seguintes o trem da trama escrita por Alcides Nogueira e Mário Teixeira foi se encaixando nos trilhos e aos poucos superando a expectativa da estreia. É claro que é inevitável estranhar ainda alguns exageros na tal liberdade poética em várias situações. Como foi o caso da viagem repentina de Marizete (Bruna Marquezine) com Dandara (Tatá Werneck) para Nova York, nos Estados Unidos, após ter vendido uma casa na favela. Lá, mesmo sem conhecerem a cidade, terem sido assaltadas, ficado sem dinheiro nem passaporte, circulavam pelos lugares com desenvoltura, figurinos e visuais sempre impecáveis e ainda se viram envolvidas em coincidências pouco prováveis.

Pode-se até desculpar com a pergunta: Quem precisa de mais vida real na ficção? Mesmo assim, algumas cenas continuam sendo dispensáveis. Como aquela em que a personagem de Letícia Spiller, Soraya, a toda-poderosa empresária fixada no seu primogênito, Benjamin (Maurício Destri), dissimuladamente, usando uma camisola sensual deitada na cama cheia de penas do travesseiro que estraçalhou, ensaia uma masturbação enquanto fala sobre o filho ao telefone. Desnecessária não só para o horário como também no contexto. E como explicar Dandara simplesmente ter se desligado da “irmã” após ter encontrado Dom Peppino, numa participação especialíssima de Lima Duarte? Apesar de que o mafioso italiano está lembrando o Dom Lázaro Venturini feito pelo ator em “Meu Bem, Meu Mal” (1990), que marcou com a frase “Eu quero melão!”? Um meme na época.

Estranha também a reação de Eva, personagem de Soraya Ravenle, ao ver Mari voltar sozinha de Nova York. A costureira ficou tão feliz que só um tempo depois foi perguntar pela filha legítima, e se conformou fácil ao saber que Danda tinha ficado na América com “um velhinho”. Como assim? Que mãe é essa? Mas, independentemente dessa cena escrita, vale ressaltar a oportunidade dada a Soraya de mostrar seu potencial como atriz com uma personagem de linha de frente. No que ela tem correspondido com talento, segurança e firmeza. E formando uma dupla convincente com Alexandre Borges, intérprete de seu ex-marido, Jurandir.

A união do vilão da favela, Grego (Caio Castro) com o vilão do asfalto, Gabo (Henri Castelli), que num primeiro momento pareceu que não daria liga, começa a se ensaiar como uma boa parceria. Mas o destaque mesmo fica para a presença luxuosa de Nicette Bruno, como Izabelita, que deverá prestar um grande serviço ao mostrar o passo a passo de como surgem os sintomas do Mal de Alzheimer. Com certeza, um serviço que, se bem desenvolvido, já compensará acompanhar a novela.