Depois de uma estreia morna na segunda-feira (11),
“I Love Paraisópolis”, novela das sete da Rede Globo, foi aos poucos tomando
fôlego e parece ter entrado em sua segunda semana já com tramas costuradas com
ingredientes mais consistentes, que estão mostrando a que realmente se propõe a
história. Algo que faltou no primeiro capítulo, em que o que se viu foi uma
preocupação maior em imprimir uma velocidade exagerada nos cortes de uma cena
para outra, o que causou certa confusão sobre a função de cada personagem e de qual
era realmente o fio condutor da história. Ficou claro apenas que haveria uma
disputa entre favela e asfalto, pobres e ricos. Um assunto que de longe é novo
em novelas.
Também pesou o exagero histriônico na atuação de alguns atores, carregando
nas tintas, nos trejeitos, nas caras, bocas e entonações. Como foi o caso de
Letícia Spiller, talvez tentando apagar a imagem de sua mais recente atuação em
“Boogie Oogie”, que saiu do ar há apenas dois meses, e de Tatá Werneck, que ainda
não saiu da Valdirene, personagem que marcou sua estreia em novela, em “Amor à Vida”,
que saiu do ar há pouco mais de um ano. Aliás, dessa mesma novela veio Maria
Casedavall, que está dando à sua atual Margot o mesmo perfil buscando o gênero femme
fatale, semelhante ao que ela fez como Patrícia Mileto na trama de Walcyr
Carrasco.
Mas, no decorrer dos capítulos seguintes o trem da
trama escrita por Alcides Nogueira e Mário Teixeira foi se encaixando nos
trilhos e aos poucos superando a expectativa da estreia. É claro que é
inevitável estranhar ainda alguns exageros na tal liberdade poética em várias
situações. Como foi o caso da viagem repentina de Marizete (Bruna Marquezine)
com Dandara (Tatá Werneck) para Nova York, nos Estados Unidos, após ter vendido
uma casa na favela. Lá, mesmo sem conhecerem a cidade, terem sido assaltadas,
ficado sem dinheiro nem passaporte, circulavam pelos lugares com desenvoltura,
figurinos e visuais sempre impecáveis e ainda se viram envolvidas em
coincidências pouco prováveis.
Pode-se até desculpar com a pergunta: Quem precisa
de mais vida real na ficção? Mesmo assim, algumas cenas continuam sendo
dispensáveis. Como aquela em que a personagem de Letícia Spiller, Soraya, a
toda-poderosa empresária fixada no seu primogênito, Benjamin (Maurício Destri),
dissimuladamente, usando uma camisola sensual deitada na cama cheia de penas do
travesseiro que estraçalhou, ensaia uma masturbação enquanto fala sobre o filho
ao telefone. Desnecessária não só para o horário como também no contexto. E
como explicar Dandara simplesmente ter se desligado da “irmã” após ter
encontrado Dom Peppino, numa participação especialíssima de Lima Duarte? Apesar
de que o mafioso italiano está lembrando o Dom Lázaro Venturini feito pelo ator
em “Meu Bem, Meu Mal” (1990), que marcou com a frase “Eu quero melão!”? Um meme
na época.
Estranha também a reação de Eva, personagem de Soraya
Ravenle, ao ver Mari voltar sozinha de Nova York. A costureira ficou tão feliz
que só um tempo depois foi perguntar pela filha legítima, e se conformou fácil
ao saber que Danda tinha ficado na América com “um velhinho”. Como assim? Que
mãe é essa? Mas, independentemente dessa cena escrita, vale ressaltar a
oportunidade dada a Soraya de mostrar seu potencial como atriz com uma
personagem de linha de frente. No que ela tem correspondido com talento,
segurança e firmeza. E formando uma dupla convincente com Alexandre Borges,
intérprete de seu ex-marido, Jurandir.
A união do vilão da
favela, Grego (Caio Castro) com o vilão do asfalto, Gabo (Henri Castelli), que
num primeiro momento pareceu que não daria liga, começa a se ensaiar como uma
boa parceria. Mas o destaque mesmo fica para a presença luxuosa de Nicette
Bruno, como Izabelita, que deverá prestar um grande serviço ao mostrar o passo
a passo de como surgem os sintomas do Mal de Alzheimer. Com certeza, um serviço
que, se bem desenvolvido, já compensará acompanhar a novela.