segunda-feira, 6 de novembro de 2017

“Tempo de Amar”: Desencontros do par romântico principal incomoda e faz história central da novela ficar arrastada e repetitiva


Há pouco mais de dois meses no ar, “Tempo de Amar”, novela das seis da Rede Globo, vem mantendo o alto padrão de qualidade artística mostrada na estreia, mas está pouco a pouco perdendo o timing ao não mostrar a mesma agilidade vista na primeira semana no ar. Apesar das excelentes tramas paralelas, o fio condutor, que é a história de amor de Maria Vitória (Vitória Strada) e Inácio (Bruno Cabrerizo), entrou num marasmo desde que os dois se separam logo no sexto capítulo. Não é por ser ambientada em 1927 que as ações envolvendo o casal protagonista devem se desenrolar como se fossem movidas a vapor. Nem os personagens bons precisam ser tão ingênuos a ponto de caírem em todas as armações feitas pelos vilões, que também não primam por muita inteligência em suas maldades. Curiosamente, no núcleo rural é onde tudo acontece com um ritmo mais ágil, graças a José Augusto, o produtor de vinho dono da Quinta da Carrasqueira brilhantemente interpretado por Tony Ramos, e também a sua empregada e amante Delfina (Letícia Sabatella), uma mulher amarga, perversa e dissimulada. São os dois personagens que realmente dão movimento à novela. Já na capital, o Rio de Janeiro Antigo, as situações estão muito repetitivas.

E é justamente lá que estão Maria Vitória e Inácio. Já se passou mais de um mês desde quando os dois se despediram na estação de trem e, 30 capítulos depois, toda possibilidade de reencontro criada acaba em desencontros improváveis. Coincidências acontecem, sim, na ficção e na vida real. Mas beirou ao ridículo a cena em que Inácio, ainda cego, esbarrou em Maria Vitória varrendo a calçada e ela nem ao menos se virou imediatamente para ver quem era. Só que isso vira um mero detalhe se for analisado o comportamento do “mocinho” no todo. A cegueira emocional adquirida desde a surra que levou no assalto apurou seus demais sentidos, mas parece ter detonado qualquer sexto sentido. Impossível ele não ter desconfiado em momento algum do comportamento de Lucinda (Andreia Horta). Inácio parece ter se transformado em outra pessoa.

A perda de visão decorrente de um trauma emocional reversível não justifica ele passar a se comportar de forma totalmente diferente da personalidade que mostrava antes. Do jovem trabalhador, honesto, inteligente e perspicaz, ele virou um homem acomodado, bobo, encostado e que parece gostar de levar vantagem da posição em que se encontra. Como ele aceitou sem nunca questionar o porquê de estar sendo sustentado e ter até o tratamento bancado pelo Dr. Reinaldo (Cassio Gabus Mendes)? E aí não entra nem o fato de aceitar a atenção de Lucinda e acreditar cegamente em tudo que ela diz, mas sim não ter qualquer interesse em descobrir o que realmente aconteceu com ele. Foi muito estranho no mesmo dia em que ela mentiu dizendo que Maria Vitória tinha tido um filho, casado com outro homem e ido morar na Espanha, imediatamente ele passou a corresponder aos beijos da sua “salvadora”. E ao recuperar a visão, a primeira coisa que fez foi pedir a mão dela em casamento.

Em nenhum momento Inácio manifestou o desejo de procurar Geraldo (Jackson Antunes) para contar tudo que havia acontecido e explicar que não roubou o comerciante, que foi quem lhe deu o emprego que o trouxe de Portugal para o Brasil. Também nunca se lembrou de enviar notícias a sua tia Henriqueta (Nívea Maria) em Morros Verdes. Pior: nunca fez qualquer menção ao filho que teve com Maria Vitória, muito menos manifestou interesse em conhecer a criança, que ele nem sabe tratar-se de uma menina. E como ele quer se casar se nem ao menos tem um emprego para se sustentar? Vai continuar encostado no sogro?

Diferentemente de Maria Vitória, que ao ter sua filha dada em adoção fugiu do convento e deu um jeito de viajar de Portugal para o Brasil esperando encontrar Inácio e juntos procurarem recuperar a criança. E mesmo após ser informada da morte dele, a jovem se manteve fiel a seu amor, não se deixando levar nem mesmo pela possibilidade de ter por Vicente (Bruno Ferrari) outro sentimento que não fosse apenas de amizade. E olha que a empatia entre os dois já está ganhando a simpatia do público, que também não aguenta mais a ingenuidade conveniente de Inácio. Se o reencontro de Maria e Inácio não acontecer logo, os autores correm um grande risco de ter que mudar o par romântico da história. E a culpa não será de nenhum dos dois Brunos, Cabrerizo e Ferrari, intérpretes de Inácio e Vicente, respectivamente, mas sim dos perfis de seus personagens. Entre a apatia do primeiro e a desenvoltura do outro, com certeza a torcida acabará sendo para que a mocinha fique logo com o segundo. Porque ninguém aguenta mais esperar o último capítulo para ver um casal feliz.


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