Depois de quase 30 anos vendo Xuxa Meneghel surgindo
nos palcos da Globo descendo de naves platinadas ou simplesmente aparecendo em
meio a nuvens de gelo seco com seus figurinos com toques de fetiches infantilmente
sensuais, deparar-se com aquela que está fadada a levar para sempre a alcunha
de Rainha dos Baixinhos em uma outra emissora é algo que causa estranheza. E
foi essa a principal sensação que causou a estreia do “Programa Xuxa Meneghel”
na Record na noite dessa segunda-feira (17).
É claro que seria estranho ver
Xuxa comandar uma atração em qualquer outra emissora depois de décadas naquela
que para os mais antigos era conhecida como a Vênus Platinada. É claro também
que ela só sairia da líder de audiência para se arriscar em outra que daria a
ela condições de ser, no mínimo, vice-líder e com autonomia para “deixar correr
solto” como ela quisesse. Foi o que ela fez: assinou um contrato muito bem
costurado para estar com você, brincar com você e com os milhares de “seguidores”
que conquistou ao longo de anos. Aliás, vale lembrar que a expressão “seguidores”
muito antes de ser usada nas redes sociais já fazia parte dos fãs clubes de
Xuxa. Então, animação na plateia não vai faltar. Muito menos nas redes sociais.
Voltando ao programa, é bem complicado tecer qualquer
juízo de valor já que ele claramente se concentrou em ser uma espécie de projeto
de estreia, ou uma pré-estreia. O roteiro foi nitidamente de uma atração que
está procurando o seu formato ideal. Xuxa parecia muito mais preocupada em
buscar a aprovação do seu público do que em convencer como dona absoluta de uma
atração própria. Ela corria pelos espaços do cenário para explicar a função de
cada canto como criança que mostra sua nova casinha de bonecas. Brincou com sua
trajetória levando a menina, hoje adulta, que foi alvo de chacotas na internet
quando a apresentadora a tratou de forma mais severa. E ao pedir perdão à mesma
foi logo mostrando seu diferencial: não quer ser uma apresentadora que se faz
de santinha, boazinha e certinha, do tipo que acha uma revolução sair do palco
para tirar um cisco do olho. Logo na estreia, Xuxa já tirou o brinco, ao vivo.
E não teve qualquer pudor em admitir: “Eu não sou um amor de pessoa, eu sou
bruta às vezes. É meu jeito”, reconheceu a apresentadora.
Teve ainda a longa explicação de que não estava
copiando, mas sim se inspirando no talk-show da americana EllenDeGeneres. Uma
explicação desnecessária. Soou como se estivesse se justificando. E muitas
indiretas para a Globo que, com certeza, estavam entaladas em sua garganta, mas
que talvez surtisse mais efeito se não tivessem sido feitas. Ignorar a “outra
emissora” poderia ter gerado um efeito muito mais elegante. E muito mais
arrasador para ela (a “outra emissora”). Justa e justificadas as homenagens a Hebe
Camargo e a Silvio Santos. Sem falar no anúncio de sua participação garantida
no próximo Teleton do SBT...
Mesmo essa estreia tendo sido uma espécie de apresentação,
um dos melhores momentos foi quando Xuxa fez uma “participação” cômica na
novela “Os Dez Mandamentos”. Com certeza esse lado de atriz pode ser bem
explorado nas novelas e programas da casa. Xuxa não tem medo de brincar e fazer
os outros se divertirem com ela mesma sem medo do ridículo.